Não te quero ver
As ruas onde passo
Sei-as de cor
De olhos vazios para céu
E lábios ardentes na terra
Vou cheio de ti
E das canções das ervas
E a tua carne
origem de todo o silêncio
do mar
do rio
E do fogo
Liga-se a outra carne
que não sabe do pó
que dorme sobre os ossos
Crianças
Feitas de aveia
Bebem-nos os astros sonâmbulos
Mães a parir toda a dor
E não te ver: são nuvens a desfazer-se
O sol dentro de mim
Em mãos dentro de outras mãos
Barco na sêmola do amor
No mar de uma navalha
Em mãos desavindas do sal
És luz que não deixa chegar
E sombra que não deixa partir
Pássaro na orgia da brisa
Ouço-te transmigrar para a morte
Em grão a rasgar todo o fim!
manuel feliciano