Poeta Manuel Feliciano
11.12.2024
9.22.2024
O amor poderia ser [...]
Cada olhar que me leva
Cada sorriso que pousa
Cada lágrima que cai
Cada mão que me desagarra
Cada luz que segue em silêncio
Cada caminho que os teus pés fazem
Cada luz escrevo nos teus lábios
Cada folha caída que o vento varre
Como tu no momento em que apanhas o comboio
Na gare do Oriente para um outro país qualquer
Num trem de névoas a desfazer-se
E eu no outro lado da linha
Metade de mim dentro - metade de mim fora
Cada flor que se abre a meia luz
Passageiro de um mistério de tantas possibilidades entre a luz das tuas retinas
Cada palavra que os teus dedos silenciam
Cada ponte que deixo por atravessar
A abelha que por qualquer razão não pousa na flor
Que habita o limbo da beleza no jardim dos teus cabelos
Entre o nada de uma flor e as pétalas caídas a renascerem do chão .
Manuel Luís Feliciano
6.10.2024
Tempo roubado
Olhei para o céu e já não tinha céu
O céu era a minha mãe
Também não vi o sol
O sol era meu pai
Olhei para o chão e não tinha ervas
As ervas eram as pessoas
Também para lá olhei e não vi as flores
As flores eram meus amigos
Também não vi as árvores
As árvores eram as pessoas que me diziam bom dia
E já não estavam lá as aves que voaram para longe...
Que eram meus irmãos.
Manuel Luís Feliciano
5.22.2024
O mundo é um texto
O difícil é escolher cada palavra
Cada verso
A pontuação correcta nos lábios da vida
Dar-lhes a respiração certa
Sabendo que cada uma se reveste de um olhar
De um silêncio de areia do deserto
Sabendo que nenhuma delas é perfeita
Que nenhuma delas É assim tão grande
Que nenhuma delas É assim tão pequena
Que Nenhuma delas se encerram em si mesmas
E nos permitem seguir com as que escolhemos
Sem que sejam pesadas como pedras
Sem tropeçar em outras tão diversas sobre as
ruas
perpendiculares e paralelas.
Manuel Luís Feliciano
4.28.2024
Amo cada fio dos teus cabelos dourados, cada gota de orvalho do teu olhar, cada precipício que me leva ao mais tranquilo e lugar seguro, sinto-te de folhas a amaciar o vento, de água a tocar -te as raízes, sou frágil ante a tua luz de espigas douradas, eu abraçado a ti, tenras plantas quebráveis, soluço de mar e espuma, luz a dissipar-se no chilrear de um pássaro, busco-te como quem busca a eternidade, o teu andar que se prolonga na rua, procuro morrer-te como o nascer do sol, ouvir-te nas fragrâncias das flores, para que tudo nasça sem dor e lamento, bastaria que o sol ouvisse dos teus sussurros, as nuvens mais escuras do teu olhar infinito, a neve mais fria do abrir das tuas pálpebras, o florescer do luar no leito do teu rio a abraçar a noite, e déssemos como quem nasce desse amor ao mundo.
Manuel Luís Feliciano
2.29.2024
Não te quero ver
As ruas onde passo
Sei-as de cor
De olhos vazios para céu
E lábios ardentes na terra
Vou cheio de ti
E das canções das ervas
E a tua carne
origem de todo o silêncio
do mar
do rio
E do fogo
Liga-se a outra carne
que não sabe do pó
que dorme sobre os ossos
Crianças
Feitas de aveia
Bebem-nos os astros sonâmbulos
Mães a parir toda a dor
E não te ver: são nuvens a desfazer-se
O sol dentro de mim
Em mãos dentro de outras mãos
Barco na sêmola do amor
No mar de uma navalha
Em mãos desavindas do sal
És luz que não deixa chegar
E sombra que não deixa partir
Pássaro na orgia da brisa
Ouço-te transmigrar para a morte
Em grão a rasgar todo o fim!
manuel feliciano
1.20.2024
11.20.2023
O Eu entre os abismos
O mundo é o próprio abismo, o abismo de existir, o abismo de não o compreendermos, o abismo de encararmos a viagem, o abismo de não nos percebermos, o abismo da ilusão, o abismo de ser ou não ser, o abismo de não sermos por completo, o abismo de todos os porquês sem uma resposta óbvia, o abismo da finitude.
Manuel Luís Feliciano