9.13.2008

NA GUINÉ-BISSAU

Na Guiné-Bissau ressoam tambores
E os corpos rebolam-se no calor da savana
E dançam o sol e gritam a terra
Estendem os braços em ramos ao céu
E deixam que a chuva lhes caia
E há estrelas que rebentam por entre homens em fome
Derrubados por fora
E crianças em guerra que inventam
A carícia do veado comendo no prado
No canto do choro
De barrigas sepultadas na fome da noite
De mães que dão a carne e a água
Em forma de paisagem enternecida
Nos seios de seus corpos
E homens políticos e cépticos
Tem medo de percorrer essa paisagem
E atravessar a Guiné
Como quem atravessa a Quinta Avenida
Ao som de tambores e corpos torrados
E olhos que acendem a noite
De burocratas frustrados
Que não aguentam a luz estéril onde trabalham
Que não conseguem diluir-se em
Café com leite ao pequeno-almoço
E as lágrimas de crianças caiem-lhes no prato!



Manuel Feliciano

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