11.11.2020

 Tenho medo de uma pedra

Ser meramente uma pedra

Sequestro

A terra pousada em silêncio

Os pardais adormecidos nas árvores

Urge a tua voz

De terra lavrada

Sementeira a abrir os poros da pele

Do impossível dos seios descobertos

O meu corpo e o teu 

Envoltos em lençóis de vento

Quero locomover-te

Escrever-te o amor

Com os lábios no corpo

E no vazio

Das mãos e uma pedra

As palavras da seiva de uma árvore

Fome de já ter sido

Ramo a rebentar num barco

Flor

Pubis regada

Fruto a arder nos lábios

Grito de giestas e animais

O teu vestido a quebrar as ondas do mar

O eco

O estremecer da terra

Luz dentro e fora

Fora e dentro

Nos lábios que se abrem

E fecham a latejar

Pedra líquida a desfazer-se

Umbigo

Ancas em flor

Saliva, noite quente

Noite fria

Fundura

Alimento

Buraco negro

Big bang

As nossas almas

Vagabundas

Já fora do espaço

Circundante

Cadeia alimentar 

De libelinhas de azul

Animais  e seres libertos

Não mais mortos

Criação.


Manuel Luís Feliciano

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