Tenho medo de uma pedra
Ser meramente uma pedra
Sequestro
A terra pousada em silêncio
Os pardais adormecidos nas árvores
Urge a tua voz
De terra lavrada
Sementeira a abrir os poros da pele
Do impossível dos seios descobertos
O meu corpo e o teu
Envoltos em lençóis de vento
Quero locomover-te
Escrever-te o amor
Com os lábios no corpo
E no vazio
Das mãos e uma pedra
As palavras da seiva de uma árvore
Fome de já ter sido
Ramo a rebentar num barco
Flor
Pubis regada
Fruto a arder nos lábios
Grito de giestas e animais
O teu vestido a quebrar as ondas do mar
O eco
O estremecer da terra
Luz dentro e fora
Fora e dentro
Nos lábios que se abrem
E fecham a latejar
Pedra líquida a desfazer-se
Umbigo
Ancas em flor
Saliva, noite quente
Noite fria
Fundura
Alimento
Buraco negro
Big bang
As nossas almas
Vagabundas
Já fora do espaço
Circundante
Cadeia alimentar
De libelinhas de azul
Animais e seres libertos
Não mais mortos
Criação.
Manuel Luís Feliciano
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