A beleza dela, é a própria transcendência dela, eu amo-a, pode ser uma ideia, ou conceito de amor, olhar para ela, e ver que ela é a própria natureza, à sua aproximação, eu sinto a falésia onde vislumbro o mar, a beleza da areia, a rebentação das ondas, nasce-me a inquietação, o perfume do sal, a distância do céu, que por estar mais perto não deixa de estar mais longe, que por ser tão real, não deixa de ser irreal, que por ser física não deixa de ser metafísica, porque eu sei que por dentro das suas pálpebras, há outros mundos e dinâmicas do amanhecer e anoitecer, talvez eu tenha medo do infinito, e me arrepie à luz de um sorriso, quando olho para ti na verdade eu morro. Até o franzir dos teus olhos têm Outonos, e o desfolhar de amanheceres, hoje sei que o medo de pousar os meus olhos nos teus, é de saber que a natureza me vive, e eu realmente não a vivo, porque tenho medo de pensar que sou imaterial, sou da natureza do sonho como a natureza, ainda não aprendi a ser real, a pousar os pés no chão e seguir em frente, ainda não sei morrer completamente ao teu beijo, sei que és uma criação de Deus e a tua pele, transcende todo o meu conhecimento, perante ti, sinto-me um mendigo, sou saliva do teu beijo, idioma do teu fogo, queria saber arder na frescura do teu aroma, ser terra da tua terra, em mim um cabelo teu pode ser um rio, uma árvore, o voar de um pássaro, queria saber não me magoar ao relâmpago da tua voz. Tu és a fome que eu tenho de Deus, a incerteza de um poema, num mundo demasiado certo, eu vivo na imaterialidade de dois mundos, quando te beijo não sinto a carne, somente o belo de um navio atravessar o azul, sinto o cosmos a arder em mim, não tenho a percepção das formas, só um grito de azul e de lágrima. Ainda não sei lidar com palavras pequenas e sentimentos pequenos, tudo em mim ganha altura, magoo-me ao amor mecânico das fábricas, a todas as obrigações sociais, a todos os gestos repetitivos, a angústia de não saber vestir outros que não seja eu mesmo, ainda não tenho a pequenez de ser uma ou mais pessoas, por enquanto só sou um desconhecido à procura nem eu mesmo sei de que.
Manuel Luís Feliciano
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