Portugal
Tu és do cheiro do mar
Da mulher fraterna
Dos olhos leais
Do rosto sincero
Das mãos que se abrem
A todos os teus filhos
Do pão que alimenta
O mar que há nas bocas
E os barcos ancorados
De ferrugem nas gargantas
Portugal
Mulher
Corpo de terra
Saia de ervas
Mãos de lajedos
Rosto de luar
De alma própria
Respiração do vento
Olhar pleno
E fundo
Grávida de flores
E rio
De palavras
Onde todos cabem
Menos a mentira
Tu não tens dono
És de ti mesma
Tu não és dos novos colonos
Dos pés dos índios
E das leis podres
Como a fruta
Onde os navios se partem
Portugal de agora
Levam-te a esperança
As estrelas
E os astrolábios
O marear
Em teu nome implantam
A desigualdade
O silêncio dos lírios
O medo
A indiferença
A escravatura
A tirania
O Estado
O Sistema da rosas envelhecidas
No fundo do mar
À espera de um sopro
E do calor das mãos
Da ternura dos lábios
Urge-te o coração no peito
Nas sílabas em ruína.
Manuel Luís Feliciano
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