5.30.2013

Quase um pássaro



Nós vivemos uma vida inteira
ou uma vida metade
fingindo que amanhã é um outro dia
sem a mão e a pá lenta do coveiro
que desassossega
  Nos vivemos e desvivemos
  no deserto da garganta
Quase um pássaro a nascer de sede
e no fundo de nós há uma criança
sozinha chamando a mãe
e o resto é o vento
que nem sempre move as laranjeiras
Ou o meu corpo tão nú lugar de ninguém
como a ferida a alastrar no sol.
Uns dizem que é Deus
outros dizem que é o chão e a saudade
de sermos nós em algum momento inteiros
Um fruto de ternura nos braços de alguém.

Manuel Felicano

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