Não sei quem sou
Procuro-me nas ruas do teu olhar
E ao querer saber dos meus olhos
Tu és já um rio nas pálpebras que me sangram
No coração
E eu areias e deserto
Corro-te no sangue
E não sei do meu
Chamo-te
E não me sei chamar
Sou centelha que não sabe arder
Ouço-te
E não me sei ouvir
Vejo-te
E não me sei ver
Queria poder agarrar palavra por palavra no silêncio da tua boca
E construir-me de ti
Para deixar de não ser
Porque eu sou nada
Sou como um sol
Não próprio
Fundura onde os teus cabelos não chegam
No crepúsculo dos teus seios
Que não conhece a noite
Durmo-te
E não me sei dormir
Porque há fendas abertas ao luar, onde as mãos não entram
Vivo-te
E não me sei viver
Espero-te
E não me sei esperar
Abraço-te
E não me sei abraçar
Porque há medos de rosas
A desvirginar
E os meus passos ficam sem chão
No rubor de folhas menstruadas
Não encontro as mãos e os pés, caminho-te
E não me sei caminhar
E o que sou é qualquer coisa
Que não encontro dentro de mim
Saliva no ventre de uma manhã a desbravar o tempo
A margem de um abraço
Que não te sabe morrer
Como a terra a doar-se à chuva
Uma criança ao teu colo
E a tua luz a desabrigar-me
Quero-te
E não me sei querer
Amo-te e não me sei amar
Desconheço-me
Creio em ti
E não me sei crer
Por ventura sou uma flor sem nome
Perdida no teu Jardim.
Manuel Feliciano
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