7.08.2019


Jesus Cristo

Porque te deixaram morrer

A voz abrindo-se na folhagem das pedras

As palavras nos ouvidos dourados das areias

O coração sempre do mesmo lado

O pregos no lugar dos dedos

As andorinhas piando na boca

O amor - mãe em carne viva

o meu coração não tem lugar para o teu fim

Pensas que faço uma vénia à múmia do mundo?


Clamo-te - E não te ouço

Num sorriso edificado

As tuas pernas sem mais mar

Uma árvore despida - Barco do teu dorso

Sem as moedas de César

Só espada que nada sabe da ternura

Os lábios que tudo sabem sobre a espada

Que Deus é esse que te mata de amor?


peco
Como eu peco meu Deus
no mais sujo de mim
há uma flor branca
E os teus pés lugar para eu chorar
Os cabelos de Madalena
doendo-me no pescoço


Nenhum Deus merece a tua morte

nem a tua palavra

nem o teu rosto

Só amoras nessa ferida tão tenra

na crusta dos olhos

Só os teus pés cansados da terra

A aliviarem-me - os lábios da ceia

de Crianças em eiras de milho

Dobando o mar em corações de papoilas

No beiral dos pássaros

uma árvore à espera da porta da tua mão

Que entre por esta boca tão pouca!


Manuel Luís Feliciano

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