2.27.2010

Amazónia

Na floresta dos teus cabelos
ainda se sente o primeiro tempo
e o mel escorre devagar nos olhos
provam-se os frutos por inteiro
e sabemos que logo à tarde não chove
delineamos o som dos pássaros
e as pálpebras cantam versos de água
os teus dedos dizem palavras
basta sentir-lhes a luz do cheiro
eu e tu não somos nada
e a lonjura é feita de ti mesmo
Depois afogo-me no álcool da brisa
Em tua saia enrolada
e tu vens-me em desasossego
e a pele morena é céu espelhado
onde tudo pode ser mais perto
e eu sinto-te toda em universo
e a verdade é só puro inverno
que sabe tão bem
como eu e tu de mãos dadas
há índios de pedra no sol da Amazónia
e eu tento abraçar a tua voz degolada
se me abraças ou não tudo é perfeito.



Manuel Feliciano

Amanhã

Amanhã por detrás das folhas
Seremos flores ou medusas?
Matéria inacabada
No corpo do tempo
Rindo dos tiranos
E da própria morte
Sem olhares pisados
Com marcas de sangue
Sem a dor da chuva
E o parto da nuvem
Nos gomos da boca
Batendo no peito
A voz arborescida
Após um prego nos dedos!


Manuel Feliciano