8.27.2023

  O sol afinal 

A luz que não teme

 fera do cálculo 

O brilho da espada 

As mãos acorrentadas

A porta

Escancarada do teu rosto

A silhueta

Do movimento do beijo

A verdade

Do fogo

A afogar-se no mar

A saliva de uma manhã

Sobre uma flor

O que resta 

Dos ombros em brasa

A voz que ainda arde

As tuas pálpebras entrecolhidas 

A dissolução do escuro 

O crepúsculo do bulício dos lábios

 da sombra de um barco no mar.

Manuel Luís Feliciano


 Como eu queria fechar a porta 

E sair à rua leve 

Com a certeza de que dentro da casa

Não ficam senão paredes

E se alguém houver 

Que seja amor, luz e vida permanente

E do lado de fora

Espaço do céu 

Que nada pese

O exterior seja livre, puro e limpo.


Manuel Luís Feliciano

8.25.2023

 Vida 

Torrente  de água

Na cauda de um navio

Floresta que arde 

Em espuma

Mil e uma voz 

A salvar-se 

No azul do mar profundo

Finitude

Flor a quebrar-se

Na proa 

Clarão  que ilumina

O nosso beijo

Desancorado 

O amor todo por nascer

Flor a reerguer-se 

Entre outras flores

Infinitude

Floresta de sombras.



Manuel Luís Feliciano

8.22.2023

 Eu nao sou normal

Porque os normais nao tem crises

Assumem a realidade como uma gaiola 

E cantam como passaros felizes.


Manuel Luis Feliciano 


 Nao mates o poema 

O poema é um corpo inteiro 

Um corpo de luz 

Igual ao de uma mulher 

O poema nao foi feito para o recortares

Nao foi feito para jogos de retorica 

Nem cabe ao professor 

Ser médico de adjectivos e verbos 

Porque quando o recortas 

o poema 

Deixa de ser poema para ser medicina 

O Poema morre

O poema deixa de respirar 

O poema Deixa de ser poema

O importante é a vibraÇao da sua luz 

E nao os seus ossos.




Manuel Luis Feliciano 

 A liberdade 

Nao é ter asas e voar

Nao é desprender-se 

E atingir o infinito 

Ir às nuvens 

É o homem 

Na sua limitada forma de ser

saber prender-se 

a qualquer coisa

E essa coisa que o prende

Dar-lhe todas as asas.


Manuel Luís Feliciano 

8.09.2023

 Agora 

Nesta estrada 

In significante 

Sem chão 

E bermas 

Inauguremos

O que resta dos muros 

O amor 

O Som

Na Brisa dos braços

Sem retorno.


Manuel Luís Feliciano 

8.06.2023

 Quando tu chegas,

a luz transborda pelo silêncio das pálpebras
as estrelas abrem-se e cintiliam
só tu estrela incandescente
no mrmúrio da pele
sem mais tempo e noite
no rumor do corpo
o céu que é alto
toca-se e beija-se
no mar que é tão fundo
borbulham os lábios
Límpidos de ervas e orvalho
os dedos
as silvas
e os frutos
Os deuses não mais
matam
adormecem
a cada pulsar de enxada
Semeando gritos de uvas nas fendas!


Manuel Felician

8.01.2023

 Se vires uma flor não a cortes

Aprecia-a 

Dá-lhe  um beijo

Sem a tocares

E depois despede-te 

Sê grato

Não a leves contigo

Senão no coração 

Não olhes para trás 

Não faças mal a ti mesmo 

Nem à flor.


Manuel Luís Feliciano 




 O Outro

Eu mesmo 

Espelho meu 

E dos outros 

Fantasma?

Consciência de tudo

E de nada 

Ah como eu queria fumar  um cigarro 

De tragos a crepúsculos 

Como era bom esquecer 

Que ao lado direito do banco 

O pendura me acompanha

Fuga do caminho

Medo existir ?

Eu só queria 

Que se eu pudesse escolher 

Escolheria 

Ser bom e honesto

Ser claro como as águas 

Não dar dano às flores

Às ervas 

E aos animais

E agora vou chorar...

Como me doi os olhos dos gatos 

E os cães chagados.

E esse peso de que eles sou eu.



Manuel Luís Feliciano