12.08.2014

Se eu pudesse ir ao fundo do mar
Dar os meus cabelos às algas
E a minha voz ao sal
Para te poder encontrar

Se eu pudesse ir ao fundo do mar
Dar a minha pele as conchas
O meu olhar as rochas
Para te poder abraçar

Seu eu pudesse ser mais espuma
E do azul um suspiro
Pelos meus lábios nos teus

Se eu pudesse ser só bruma
E do que em mim mais me morre
Fosses tu sempre a nascer.



Manuel Feliciano   Dedicado a G.M

11.22.2014

O meu país, penso nunca o ter visto
Queria tê-lo conhecido de carne e osso
De olhar terno e generoso  de mulher
E nas tuas mãos segurar o meu rosto
De rosas que não magoam o coração.

Manuel Feliciano
Pensei que o meu país
De praias, pinheiro altos, céu azul
De cheiro a uvas
Fosse o sangue que corre
No coração de mãe, chão amplo de searas
Sorriso branco, que brota dos seios
Olhos verdadeiros, choro e canção
Mas dentro do meu país
O próprio céu se vende
O sol, tantas vezes o sol, bocas mirradas
Por vontade de o beberem, voz dentro
Mercadoria em cima de um camião
Nas janelas, olhos  tão de noite ampla
Cheios de manhã a abrir o céu
As mãos perdem os gestos como as pedras
Embora dentro das pedras haja o mar
As rosas que ainda nascem
De pura saliva a chamar os lábios
O beijo a roçar as ervas molhadas
Os ombros que não abandonam
O rosto que  amadurece os frutos
Dentro de cada olhar!

Manuel Feliciano

11.14.2014

A minha Pátria, tem árvores
E belos frutos
Sob ela sonham crianças
O sol que enche os jardins
O rio que trago nos olhos
E as uvas de verão que secam os lábios ao namorados
A minha Pátria
Não é fonte de rosas e de bichos
Da vileza de quem não ama
maçãs só de alguns, de rouxinóis na gaiola
Daqueles que matam
Que escrevem no chão o mel das abelhas
A qualquer custo
A minha Pátria é vento fresco
Estrela celeste
Chão quente, mão que molha na erva
Orvalho que tinge.
Nem toda a voz é a minha Pátria
Porque lhe falta os cabelos
O sal que aduba a terra, o choro verdadeiro
A Luz, o dia que nasce
Por entre o cantar das silvas!
Manuel Feliciano

11.09.2014

Esta manhã o teu olhar no autocarro
Era de azul poema
Tinhas dentro dele as árvores inteiras
O chão intacto
As folhas que desconhecem o sangue
As maçãs que não gemem dentro da flor
As mãos que antecedem o fogo
Era esse o encanto dos teus olhos
Enleados à minha mão
Prolongados ao meu peito
Centelha
Que faz arder a noite sem doer o beijo
A minha carne na tua
mar que não queima
Os meus lábios em silêncio
A beijarem os teus
Tão abertos que me fecharam dentro de ti
Eu dentro do teu útero
Intacto quase flor
Como as primeiras rosas que já são rosas
E ainda não nasceram
E em sua volta as andorinhas
Tinhas tudo isto
Antes de teres decido sair em S.Bento
A sorte é que eu morri contigo naquele instante
E já me sinto a abrir em ti como um grão
A crestar na tua terra
Neste suspiro de saliva
De Adão e Eva.
Manuel Feliciano

11.05.2014

Adão e Eva

Não me digas nada
Quero-te
Jardim despido
Flor
Infecundada
Lábio por lábio
E mãos incriadas


Desvive-me
De pó e Eva
E maçã trincada
Dos joelhos
À boca
Em fios de saliva
E pássaros
De língua

Entre o céu salgado
Sem estrelas
Na minha garganta

Não te prometo Deus

Porque os meus olhos
Não sólidos
Não sabem a maçã
De árvore
Errada
E Sóbria
Da qual me desveneno

Senão aos teus pés
Chão do paraíso!



manuel Feliciano




Quando quiseres dizer que me amas: diz mãe

E o coração saber-te-á por inteiro



Não me abraces: diz amor amor em gestação

Depois acaricia o feto e alegra-te

Como uma flor transformada

Com a voz dentro de outra voz.




Não me beijes: Sente a tua barriga em lume

A iluminar-te sem peso

Com o teu corpo vergado

E um pouco mais de ti a estender-se

E o teu eu em outro eu.



E se por ventura chorares

É porque às vezes o choro é uma forma de sorrir profunda

E o amor é um filho dentro da boca

E o umbigo é o rio que nos enlaça



Quando quiseres dizer que me amas: diz mãe

Mas não te esqueças com o mar nos lábios

Porque o amor dói como o sol em carne

O amor é morrer para seres mãe.





manuel feliciano 

10.18.2014

É neste silêncio tão de árvore
De cinza
Que os teus braços contra
o  meu peito
de nuvem mordida
de chuva
semeiam as primeiras folhas
E o teu fogo entra na raiz

E na saliva que corre
O céu é inteiro
O teu corpo quente
E as aves, que se foram
parem-me a luz
a tua brisa
E as amexas rosas dos teus lábios


O teu nome
Escorre-me pela garganta
Desagua pela tua
Cintura
vem-me o cheiro
Do teu ventre
E a tua mão a nascer na minha

Os teus cabelos
ainda florescem
E chamam as abelhas
Tenras
Às flores com que te trago
Neste silêncio.

Manuel Feliciano

9.26.2014

O meu coração é o lugar onde tu moras
Não importa se o habitas
Ou se o amas
Do meu coração vejo o mar
Nos teus olhos
E as minhas mãos nas tuas
Mesmo se não as tocas
Não importa os meus
Lábios a tocar os teus
Sob o silêncio dos céus
E a sombra do sangue das rosas
A minha boca dentro da tua
Porque tu já és o ar
E eu respiro-te
Tu também és a água
E eu bebo-te
Tu também é sol e eu acordo
Tu também és a noite
onde nas tua pálpebras azuis
Adormeço.



Manuel Feliciano

7.10.2014

Hoje não nasceu o dia
Não há pássaros no céu
nem flores na terra
nem água
O céu está de negro
Os meus olhos
o meu rosto
os meus cabelos
as minhas mãos
o meu peito
o meu corpo
uma semente na rua deserta
querendo o cheiro
e o sabor da tua boca
das tuas palavras
da tua terra
da tua primavera
sem a qual não desabrocho
não sou flor
nem árvore
no ninhos dos teus braços
as aves
as águas
que tenham vergonha
e não cantem
só chorem o teu nome
a tua memória.

Manuel Feliciano para mi querida Giovanna

6.29.2014

Reparte
porque é aí que está o canto
o sol
a chuva
e a lua
todo o mar
e a tua altura
os teus braços
o teu tronco
e a cintura
o teu rosto sobre o meu
reparte
que aí que está a vida
a erva
de verde colorida
a semente
e o amor
Deus que faz nascer
o beijo e o sabor
a vida que se prolonga
nas pálpebras ao fechar
o prazer
o feto
a flor
a noite
e o amanhecer
e o mundo que há-de vir.

Ámen

Manuel Feliciano
Quão bonito é o teu reino
o teu trono 
o teu tronco
os teus braços 
os teus cabelos
o teu rosto
o teu perfume 
as tuas palavras 
a levar-me a água
sobre o meu silvado
a brotar-me amoras
a tua boca ao amanhecer
A criar astros
do nada
na minha mão repousada
Quão bonito é o que é só teu
o que a lua desconhece
A tua cintura
luar de Agosto
a tua forma própria de abrir os olhos
de movimentar o corpo
de abrir os braços
de movimentar a brisa
de chamar o mar
de espalhar a areia
de chover na terra
de semear sementes
de erguer o sol
a tua planície, o teu todo
O teu colo!

Manuel Feliciano

6.12.2014

Os barcos e o rio que se repetem aos meus ombros neste Douro, só o teu corpo, seara que me talha o beijo, O que me traz e leva é este chão, esta planura cheia de brisa de ti. Quem me dera os teus cabelos e as tuas costas, que eu já não tenho, e tenho sempre semeados dentro de mim.
Quem me dera fosse um beijo a saber a não saber, e nessa busca húmida a cheirar a boca tenra e a ar fresco do mar, fosse um fruto inteiro por desvendar em gotículas de saliva. Quem me dera essa luz, fosse o teu rosto inteiro a não acabar junto do meu.
Eu não sei o que são barcos, porque barco só és tu, eu sou mero naufrágio ao leme das tuas mãos, o rio o teu colo profundo, a cidade inteira a vergar de luz, quando fecho os olhos ainda és tu, ervas e sementes que não morrem num verão quente, frutos que se recolhem nas flores.
Eu não consigo imaginar um cais um rio, uma cidade, um barco fora dos teus olhos, da tua boca a tocar a minha, porque um barco é sempre que as tuas mãos pousam, o mar alastra e as gaivotas voam, é sempre que os jardins mais adormecidos acordam, entre as névoas e me dão sol. Tenho sede de ti como a primavera que não traz verão, só fruto a beber na flor. A minha garganta é uma nuvem que se desfaz no perfume do teu olhar. Morro-me a cada braço de árvore que cresce, a cada fonte que jorra a sua água, como quem nasce dentro de ti, Tu és quem é tudo, nesse silêncio profundo que me dói de flor arrancada antes da primavera a arder-me , Amo-te são os únicos barcos que existem, com os olhos suspensos no movimento do teu corpo a florirem na tua boca. Tu és a água que alimenta a fundura dos rios, os jardins desabitados, em mim sei que floresces, és ninho e pássaro, mesmo se as árvores já morreram tu permaneces inteira como a primeira árvore a rasgar-me a pele, a lascar-me a boca, a agarrar-se-me ao coração sem barcos na profundidade da tua água respiro-te e pintas de verde as ervas secas dos meus lábios.

Manuel Feliciano

6.04.2014

As rosas voltam ao seu inicio

Quando passares por um velho na tua rua não lhe digas nada. Fecha os olhos e adormece. Experimenta dar-lhe a mão, vais querer supostamente que ele te mostre as ruínas de uma antiga qualquer civilização.
Mas, no mais íntimo silêncio ouvirás os pássaros experimentando as asas. Das pétalas das Rosas mais douradas pelo sol, sentirás a chuva, um fresco de boca a humedecer a terra e o sol tão mais fértil .
A minha avó tem 92 anos, do seu olhar  eu não consigo ver o fundo da rua, a altura das árvores, a largura da janela, só a planura do mar entrando em suas mãos, e as suas pernas de menina, correndo sobre a areia.
O seu olhar fita as raízes do sol que dormem em silêncio e a sua boca cheira a ninho e rosas. Agora a minha avó é uma menina nos braços de sua própria mãe desenhando rosas nos seus seios, bebendo da própria eternidade, eu não consigo ver-lhe as rugas, os seus cabelos brancos, os seus passos lentos.
A minha avó é Portugal, uma caravela inteira, o seu corpo estende-se ao mundo, é sempre que eu a sonho e sinto, não traz o tempo dentro dela, é um rio permanente que não desagua.
Tomo-lhe a mão, desço a escadas até à sua altura, o céu é o estremecer dos seus próprios olhos, como quem ainda nasce, desaperta o seu sorriso, pelo vestido da lua, e pouco a pouco as suas cicatrizes mais profundas desvanecem entre o colorido das flores e os ramos no calor da face, as rosas menstruam-se e voltam ao seu inicio.

Manuel Feliciano

5.31.2014

Talvez eu nunca amasse
e o meu coração um barco
dentro do teu mar

Talvez eu nunca ouvisse
E os meus ouvidos
a tua boca a chorar de amor

Talvez eu nunca visse
os meus próprios olhos
As tuas sobrancelhas num jardim

talvez eu nunca andasse
fosse o peso dos teus pés
na minha boca a florir

talvez eu nunca fosse
E a minha própria sombra
o teu corpo chão que dá pão

talvez eu  nunca nascesse
E tu saliva e chuva
Envolta na minha carne

Talvez eu nunca morresse
E tu fosses o outro espaço
a outra altura do meu ar

talvez eu nunca existisse
E dentro de mim amanhã
As tuas mãos sol a nascer

Talvez eu não fosse a solidão
mas um pouco dos teus lábios
Juntos dos meus a arder.

manuel feliciano

5.20.2014

Quando eu me achei dentro dos teus olhos
Eu perdi um pouco do meu sangue
Um pouco da minha voz, um pouco mais de mim
A tua boca florida
Sempre florida e desejada maçã
Entre as nossas bocas

E eu e tu de tanto esperar
Um barco inchado dentro de água
A minha garganta e a  tua
tantas vezes, eu te beijei tantas vezes
nessa minha e tua espera
Como esse barco
A experimentar a humidade do nosso corpo
E a árvore verdejante
Ainda inteira


No mais íntimo de mim
Eu fui contigo
Tu és o ar possível que me alimenta
O pouco Sol,
O pouco sangue
O pouco sal
Nas paredes sem mais nada do meu corpo

É o teu perfume que eu quero
E não o das rosas mais castas
É o teu útero
E a tua água morna

Não me morreste,
mas seja talvez a hora de eu ser mais límpido
Mais tua saliva
Teu tacto de pássaro e ninho pousado
A Despir o céu
A debulhar-me os lábios
Num dia em que o sol se afoga
A semeares-me
entre o teu tronco e os teus seios
No teu calor
De outro sol e outro céu


Eu hoje compreendo as pedras
E as mãos tenras que nelas moram
Os lábios suspensos na circulação do vento
Os seus olhos quase como uma flor
Húmidos entre os meus
Ainda numa semente à espera da terra do meu corpo!


Manuel Feliciano

4.15.2014

Se ela soubesse
O quanto me assassina com os seus olhos
As silvas que florescem
Quando o seu corpo chega
Como quem parte
Ela diz noite, 
Tão de manhã
E eu estrela nos seus lábios fechados
Nas palavras feitas dos seus dentes
Ao tocar os meus
Se ela soubesse
O quanto os seus dedos me apertam
E eu rio douro
Entre os penhascos do seu silêncio
Os anos de luz que a minha boca bebe
Naquele fogo de uma chuva miudinha
A instantes de a beijar
O quanto os seus braços e pernas
Aos meus pertencem
Numa nuvem a desfazer-se no céu da sua língua
Eu sou tão dela
Eu não morreria para sempre em seu vasto horizonte.

Manuel Feliciano

3.18.2014

Poema!

O teu corpo é um tear

Feito de lua. E eu sou o tecido humano
Que nele trab...alha.
A espuma. Em ti o pó da noite. A estrela alheia
O jardim que os teus olhos não habitam
Nem recordam nem têm saudade. É uma rosa
A nascer numa pedra, a envolver-me o pescoço
Sinto a marca dos teus dedos. Deixo-te no sono
Dares-te ao solo, envelheceres, nasceres de novo
Como uma maçã que vinga e amadurece
Cheira-me à tua cintura, circulas-me novamente
E ao teu silêncio, dobro-me nos teus lábios
Cheios de mistério
Beijas-me, dizes-me amor
Numa gota de chuva
Que escorre no teus cabelos, bate-me o coração!

manuel feliciano

2.20.2014

Era uma pedra
Se o sol
Que morre na água salgada
fosse o teu rosto inteiro
e amplo de alegria

era uma pedra
se ouvisse a música
no ervascal dos teus cabelos
com pássaros pousados.........
a cheirar a primavera

era uma pedra
se na ferida dos teus lábios
uma pétala
de rosa nascesse
e não soubesse partir

Tal como os teus olhos que nunca partem
E sempre tão cheios de rio

Era uma pedra
se em cada beijo que morre
As mãos quente no corpo
Semeassem a Raíz

Era uma pedra
se da espuma do mar na boca
o teu tronco
semeado no útero

era uma pedra
se nos teus lábios que ardem
crescesse uma flor de trigo
Igual à dos teus olhos
onde Deus não morresse

Manuel Feliciano

2.03.2014

No mais fundo de mim
há um seio arrancado da minha boca
um rio seco a transbordar de rosas
sou canto de pardal ou névoa
és tu no intimo dos meus olhos
de cabelos virgens que tomo com as mãos
e a tua boca a escorrer-me no rosto
como uma maçã madura contra o vento e larva
que leva as mãos fora do peito
e traz o deserto das sílabas na carícia ...
tu a ires-te embora
pelas pálpebras doridas
por um caminho longe a entrares-me no corpo
a seres mais flor
mais dia húmido do teu beijo
a aleijares-me a carne
só chão onde me perco.

MF

1.02.2014

Hoje deveria ser
 mão que cresce lírio no silêncio do cemitério dos lábios
 de pétalas desfolhadas na cara
tão limpa como os seios numa manhã
 a desfiar as urnas das nuvens
 nos olhos que refazem cálices de amanhã
Contra o corpo gemendo num mar de ternura
 as ruas a abrir-se cheias de bocas tão tenras
 e das sílabas escorrendo na orla da língua
 pedaço de ombro desfeito em pó
a doer como um ramo inteiro a crescer nas cinzas
 um fruto de amor sem muralha
 A nascer no fogo que molha o pó e é rosa
 tão de criança, um inverno onde os pêssegos já choram
 um corpo inteiro de mãe, que só conhece os braços!

Manuel Feliciano