2.26.2013

Tem o teu cheiro
O reabrir dos braços
A densidade do mar
A beijar-me a boca
E o sol é a tua sombra

Tu de pernas nuas
Barro desfeito, moldando-me
Já a tua mão me queima os olhos
E o teu sangue é gaivota
O teu olhar a garganta

De maçãs pelo chão mordidas
Lábios que sabem à areia
E bagos de uvas inchados
nas tuas mãos frias
E em mim primavera florida

De um beijo semeado nos ombros
contra a saliva que não corre
Escrevo ilha no mar
Seio de barco em névoa
Do fim à primeira abelha no mel

E tu morrendo-me no jardim
Sob a noite escura, deito a cabeça na tua
Já és pássaro e brisa! A cor embebecida
na flor de aurora! Soluço de sal.

Manuel Feliciano ( IN MORTE DO AMOR)

2.20.2013

É impossivel…
Que o vento a lamber a janela
Que esta noite escura
E a chuva a cair na boca
O frio de uma estrela
A disjuntar-se nas pálpebras

não sejas tu lá fora
a bater-me dentro
Na fevre de videiras secas
Os olhos rebentam
E dou-te as mãos em abandono
O teu rosto pousa-me

Que estes dias distantes
Não tenham o sopro de sol
Na tua garganta
E um rio correndo para a fonte

Os teus lábios aliviarem-me a boca
A arrancarem-me a morte
VOU DESFEITO numa manhã clara
na rua dos teus seios
nos teus cabelos intactos
De frutos que não se vêem

Não seja o meu corpo e o teu
A chorar de amor!

Manuel Felciano