3.18.2022

 Cala-te ó insidiosa besta da guerra...

Nem Marte te aplaude o decadente amor

Nem a justeza com que se adorna Minerva 

Nem o jardim que te cobre as verdades podres...

Cala-te ó besta pequena, ó endeusado ego

Com que matas mulheres, crianças e o mundo

Cala-te ó dono, nem de ti mesmo

Estrume o teu coração, onde nem sangue jorra

Cobiça no pó dos teus ossos a maldita terra

E deixa a quem ama de verdade a paz viver.


Manuel Luís Feliciano

3.17.2022

 Enquanto eu 

não perceber que sou 

a única estrada

as flores

os rios e os mares

os labirintos das rosas

e os navios

todos os outros não me levarão

a lugar algum

É preciso que tudo comece de dentro 

para fora

que todos os pássaros sejam transportados

para dentro

para não ser prisioneiro

dos lugares mais livres do mundo

das portas mais escancaradas para o mar

e ainda que livre

cada flor da madrugada

não seja o ferro de uma prisão


 Manuel Luis Feliciano

 Ainda não sei entrar dentro de mim

fechar a porta

e deixar que as árvores

e as ruas cheias de gente

me invadam

como se as paredes

e as janelas viradas para o lado de dentro 

se transformassem em lagos

e eu dançasse como um Cisne

Como quem abre portas de sorrisos do lado 

de fora.


Manuel Luis Feliciano

3.16.2022

 Sonho o dia 

Em que dentro de mim

As casas

Não tenham paredes.


Manuel Luís Feliciano

 Ainda não sei viver dentro das cousas

Como se vivera fora delas.


Eu...

Poeta desconhecido

Manuel Luís Feliciano



Sol

 O sol afinal 

A luz que não teme

A fera do cálculo 

O brilho da espada 

As mãos acorrentadas

A porta

Escancarada do teu rosto

A silhueta

Do movimento do beijo

A verdade

Do fogo

A afogar-se no mar

A saliva de uma manhã

Sobre uma flor

O que resta 

Dos ombros em brasa

A voz que ainda arde

As tuas pálpebras entrecolhidas 

A dissolução do escuro 

O crepúsculo do bulício dos lábios

 da sombra de um barco no mar.


Manuel Luís Feliciano