5.23.2019

Portugal

Levanta-te cadáver
Da mão dos infiéis
Das vinhas dormentes
E dá mar aos barcos
E dá chão aos pés

Falta-te o rosto
O amor
O beijo amplo
E o corpo inteiro

Levanta-te do lodo
Dos corações cruéis
Dos vendilhões do templo
Sê um só corpo
Lanterna no bréu
Chorai.

Manuel Luís Feliciano


5.22.2019

Abril nunca nasceu
Nem as ruas se tornaram brancas
Foi a fome que adormeceu
Na flor das tuas ancas

Palavra molhada sem sangue
Anémica ao luar nasceu
Num coração feito de arame
Que no ventre não gemeu

Sobrevive o sol e a erva
A serpente na areia
Há sempre um mais que sobrevive
No amor que é a teia

Texto semeado no chão
Lanterna no umbigo que é teu
Desaprendeu a dar a mão
Caiu não mais se ergueu

Portugal velha nação
Flor das mãos e do mar
Saudade e um coração
Na orla do teu olhar

Era um Vento que não morresse
Na ternura de um animal
Um ferida que vencesse
A escuridão e o mal.


Manuel Luís Feliciano