6.24.2019

Portugal da Rés-impudica

Portugal
País insano
Não tens barcos
Nem arrais
São as formigas o teu cais
Que te abrem o mar
Palhinha  por palhinha
Que te carregam
Do extremo da flor ao mar
Falta-te o gesto humano das ervas
Num por de sol
A morrer de paz
Não tens o tremor de um beijo
Urge-te saber seres terra
Pés nos valados
Geada nas mãos
E ouvires o coração
Nas pernas das mondadeiras
Dos grão da estirpe humana
Dos animais e árvores que respiram
As flores e bichos que o Planeta abraça
Seres sangue de todos em cada um
E ao teu silêncio mais um mendigo
Um excluido de feras de carne
Uma prostituta que ilumina a praça
Mais pura que a verdade
Um homem desempregado
Uma família que ficou sem nada
Que deixaste de amar
Tu não honras as estrelas
O mar de cada um
Tu não mereces o teu chão
Porque és guerra
Entre a escuridão
Tu és pecado
E não és perdão
E as flores é que te padecem.



Manuel Feliciano

6.19.2019

Portugal

Portugal
Tu és do cheiro do mar
Da mulher fraterna
Dos olhos leais
Do rosto sincero
Das mãos que se abrem
A todos os teus filhos
Do pão que alimenta
O mar que há nas bocas
E os barcos ancorados
De ferrugem nas gargantas
Portugal
Mulher
Corpo de terra
Saia de ervas
Mãos de lajedos
Rosto de luar
De alma própria
Respiração do vento
Olhar pleno
E fundo
Grávida de flores
E rio
De palavras
Onde todos cabem
Menos a mentira
Tu não tens dono
És de ti mesma
Tu não és dos novos colonos
Dos pés dos índios
E das leis podres
Como a fruta
Onde os navios se partem
Portugal de agora
Levam-te a esperança
As estrelas
E os astrolábios
O marear
Em teu nome implantam
A desigualdade
O silêncio dos lírios
O medo
A indiferença
A escravatura
A tirania
O Estado
O Sistema da rosas envelhecidas
No fundo do mar
À espera de um sopro
E do calor das mãos
Da ternura dos lábios
Urge-te o coração no peito
Nas sílabas em ruína.



Manuel Luís Feliciano