12.25.2020

 POEMA


Vim aqui para te dizer que o teu sorriso é sublime. Dentro dele há uma luz que se liga a outras luzes! Será que  nasce do perfume da chuva? Que contagia o orvalho, que dá de beber ao polén das flores, faz nascer o sol, ergue as montanhas, dá água às fontes, desce pelos rios, movimenta as ondas do mar, dá luz à  luz? Será uma Deusa o teu sorriso? Um cometa? Uma nova era, uma sinagoga? Um novo acordar, uma cidade inteira, uma brisa, um anjo crescente, os navios a partirem nos lábios, as mãos abrigadas no por do sol? Que Deusa é essa o teu sorriso? O infinito? O Paraíso? O encontro? A ponte que nos liga ao paraíso. Um astrolábio para chegar a terra.  As caravelas, a ilha do amor, a nudez das palavras, o sexo das rosas? O silêncio desvirginado, os índios da Amazônia?Ainda que o beba num trago de luz, e o saboreie com os lábios e a boca, em intermitências de pálpebras silvestres, o mastigue e o coma, só as tuas mãos a percorrerer-me, a incendiar-me, atravessar-me o caos e as cinzas molhadas de beijos, ruínas a erguerem-se num gemido de brisa. As ancas tépidas. Flor de estrela. Água  de beijos a quebrar a Antártida. Os olhos a transbordar de amor. Novos gritos de estalagmites na garganta. Pétalas de sal. Corpos desnorteados. Saliva de cais ardente. Chaimite de guerra. Não sei que sorriso é esse? Cumpre-me bebê-lo num gole de luz.


Manuel Luís Feliciano

11.27.2020

 Hoje venho anunciar o fim do mundo

Ao olhar quente

Dos meus olhos dentro dos teus

Na brevidade da flores

Colhidas nos teus seios

Pelas minhas mãos

Mãos que entendo e não entendo

Oh céu limpo dos que voltam

Como são felizes os rostos tomando os 

verdadeiros rostos

As folhas o verdadeiro lugar

Dois velhos à varanda voltando a ser crianças

Há flores a nascer dentro dos pássaros

E pássaros a nascer dentro de nós

Depois as folhas recuperam os sentidos

Nas saliva tremendo na boca

Agora sigo perfeitamente para frente

Canto-te com os meus lábios a roçar as nuvens

Que verdade absoluta

Que feridas tão caladas

Que suspiro de alegria de um cais onde só parto

Do morno do teu pescoço

Agora sei que parto e só fico na infinitude dos teus cabelos

Aperto-te mais que os braços da terra contra mim

E eis o além: O milagre de te amar.


manuel feliciano

11.11.2020

 Tenho medo de uma pedra

Ser meramente uma pedra

Sequestro

A terra pousada em silêncio

Os pardais adormecidos nas árvores

Urge a tua voz

De terra lavrada

Sementeira a abrir os poros da pele

Do impossível dos seios descobertos

O meu corpo e o teu 

Envoltos em lençóis de vento

Quero locomover-te

Escrever-te o amor

Com os lábios no corpo

E no vazio

Das mãos e uma pedra

As palavras da seiva de uma árvore

Fome de já ter sido

Ramo a rebentar num barco

Flor

Pubis regada

Fruto a arder nos lábios

Grito de giestas e animais

O teu vestido a quebrar as ondas do mar

O eco

O estremecer da terra

Luz dentro e fora

Fora e dentro

Nos lábios que se abrem

E fecham a latejar

Pedra líquida a desfazer-se

Umbigo

Ancas em flor

Saliva, noite quente

Noite fria

Fundura

Alimento

Buraco negro

Big bang

As nossas almas

Vagabundas

Já fora do espaço

Circundante

Cadeia alimentar 

De libelinhas de azul

Animais  e seres libertos

Não mais mortos

Criação.


Manuel Luís Feliciano

11.05.2020

 Poema



Poema


Era em ti que existia o impossível

A profundidade do mar

O vazio do céu

Ainda eram possíveis

Mas o calor das tuas mãos

Os teus lábios a tocarem nos meus

É que era definitivamente o impossível

Um fogo permanente

Um lugar seguro

O fim do mundo

Uma rua sem direção.


Manuel Luís Feliciano

Poema

Poema


O teu olhar é magia, 

Respiração 

Início de flores

Ventre

Amoras silvestres, 

Mãos que afagam,

Coração que inebria

 Beijo 

 Luar, 

 Fogueira 

Cintura

Vereda

que aquece

De mãos 

A abrir o sol

A promessa

O escuro

A fome

Abraço 

Corpo de seda

Nús

Crianças sem nada

Semeia

O teu beijo

Casa

Lume

Fios de amor 

Saliva

Terra que transpira

Semente

Choro

Barco

Na voz

E garganta

que enrouquece

Luz

Aroma

Névoa

Primavera

Bicada de pássaro

Inocência

Flor molhada

Despropriação

Sou-te

Primeira

Árvore

Solo

Homem

Formiga

Choro

Calor

Frio

Ao teu vento

Inverno

Rastro de estrela

Passagem

Apropria-me

Ininterrupto

Nasço-te.

Manuel Luís Feliciano

Outono

 Hoje

Quero levantar-me

Andar pelo chão

E se vir na terra

O chão plantado de folhas

As vozes em silêncio

Eu a olhar para ti

Tu a olhares para mim

Em segredo

Num bulício de cores

E o que dissermos um ao outro

For o céu profundo

Quase a chover

Promessa de um fogo

É o Outono


Manuel Luís Feliciano


O Teu Sorriso

 POEMA


Vim aqui para te dizer que o teu sorriso é sublime. Dentro dele há uma luz que se liga a outras luzes! Será que  nasce do perfume da chuva? Que contagia o orvalho que dá de beber ao polén das flores, faz nascer o sol, ergue as montanhas, dá de beber às fontes, desce pelos rios, movimenta as ondas do mar, dá luz à  luz? Será uma Deusa o teu sorriso? Um cometa? Uma nova era, uma sinagoga? Um novo acordar, uma cidade inteira, uma brisa, um anjo crescente, os navios a partirem nos lábios, as mãos abrigadas no por do sol? Que Deusa é essa o teu sorriso? O infinito? O Paraíso? O encontro? A ponte que nos liga ao paraíso. Um astrolábio para chegar a terra.  As caravelas, a ilha do amor, a nudez das palavras, o sexo das rosas? O silêncio desvirginado, os índios da Amazônia?Ainda que o beba num trago de luz, e o saboreie com os lábios e a boca, em intermitências de pálpebras silvestres, o mastigue e o coma, só as tuas mãos a percorrerer-me, a incendiar-me, atravessar-me o caos e as cinzas molhadas de beijos, ruínas a erguerem-se num gemido de brisa. As ancas tépidas. Flor de estrela. Água  a bilhar a quebrar a Antártida. Os olhos a transbordar de amor. Novos gritos de estalagmites na garganta. Pétalas de sal. Corpos desnorteados. Saliva de cais ardente. Chaimite de guerra. Não sei que sorriso é esse? Cumpre-me bebê-lo num gole de luz.


Manuel Luís Feliciano

10.24.2020




Poema


Santa Cruz do Douro


Pousado no teu vestido

De Monte lavrado

Do teu olhar à flor do rio

Dos teus lábios ao pecado

Percorro-te

Na falésia de um grito

Seios de pinhas

Pele de rosmaninho

Eu quero o teu beijo de rio

A molhar-te o mar

Que me salve

Da escuridão

E da morte

O teu corpo de Douro em fruto

Ruína que estremece

Entre as tuas mãos e o infinito

O céu tão alto

O mar tão fundo

Os teus lábios em oração

São Deus

A fermentar o amor

O sol a gemer de frio

A nascer-te

Uma ponte de ternura!


Manuel Luís Feliciano

 Poema


Lembro-me de ti, ó flor, na berma da estrada, do meu lado direito a bondade, do meu lado esquerdo a imperfeição, e nos meu passos afogados no silêncio do céu, levo-te comigo, ó flor,  no meu coração.


Manuel Luís Feliciano

 Poema


Às vezes bate uma vontade louca de te abraçar e beijar,  não necessariamente a tua boca, é  a terra e a luz inteira que eu  busco.


 Manuel Luís Feliciano

3.23.2020

Princípio

Princípio

Se em ti
Eu pudesse criar o céu
E a terra
Olhar que treme
Ao teu beijo
Escarpa apertada
Varanda para o mar
A terra em fuga
Carícia
Suspiro
Idioma de fogo
Verbo
A consumir-nos
Bocas em flor
A desabrochar-nos
Seios
Tumefactos
O aroma das minhas mãos
Atadas aos teus cabelos
Espírito de luz
Que separa a água
Da escuridão
E das trevas
Náufragos no mar
Os teus suspiros
De raio - violeta
Alcançando o além
A vermelhidão solar
A semente
As árvores
Combustível de amor
A cada beijo
Luz
Um vale de brisa
Torrente de água
A descer-te pelo dorso
Cintura
Pernas tíbias
Relâmpago
E em ti
Jardim do Éden
Paraíso
Adão e Eva
Uma luz que não morre
Uma ferida a fechar-se
A tua saliva
A curar o medo
O precipício
As areias
Em ti as asas
O alimento
A infinitude
Os teus olhos inteiros
Corpo azul para sempre.

Manuel Luis Feliciano

3.12.2020

Era uma palavra
Rosa
Vermelha
Aberta
Que nos fechasse em silêncio
Pétalas de saliva
Boca que nos aquecesse
Do frio
Do teu corpo nú
Junto do meu
A cada beijo
Abismo
Mar fundo
O medo
Mistério do escuro
Estrela vanglorial
Que nos abrisse
Os gomos da tua pele
Fogueira
A lavrar
No húmido da tua voz
Nas vagas das tuas costas
O mar tépido
O bulício da vulva
O marejar da cintura
Nas tuas ancas
Mistério do escuro
Arca de Noé
Viagem
Revelação
Pelo solo das tuas mãos
A salvação do mundo
Fuga
Aparição
Adão e Eva
Era uma palavra
Ainda não escrita
Que revelasse o mundo
O estremecer
Dos teus lábios
Carregados de amor
Como bichos
Nas flores.


Manuel Luis Pereira Feliciano

3.08.2020

Ama
As árvores
Como a ti mesmo
Alma
Flor
Sangue de ti
Bebe do ar fresco
Das folhas
Homem
Mais pequeno que a erva
A terra
Os Pôros
A Pele
Maternidade
Lugar de ninguém
As raizes
Amor que nasce
E aquece a boca
Humedece o Beijo
Os braços em ramos
Abraça
Desliza
Sente
A Primavera
Que se abre
Entre o pentelho
E a púbis
O choro
Perdidos
O mar a abrir-se
Em cada centelha
A burilar na vulva
O pénis altivo
As mãos entre a nuca
Os dedos a locomoverem-se
Bocas esmagadas
Jorram champagne
E espuma de mar
Entre os seios
Mar sem fundo
Cidade iluminada
Encontrados
Entre as coxas os barcos
O sal
Lambido
Gritante
A luz a desmoronar
As trevas
O véu que lateja
Os olhos
Candeeiros quentes
Perdidos
Fundo de silêncio
Incêndio
Homem
Necrófago
Explorador
Come sem ferires
Asa a asa
Polonização
Aniquila-te
Sê névoa.

Manuel Luis Feliciano

2.22.2020

O teu olhar é magia, 
Manhã
Respiração 
Início de flores
Ventre
Amoras silvestres, 
Mãos que afagam,
Coração que inebria
 Beijo 
 Luar, 
 Fogueira 
Cintura
Vereda
que aquece
De mãos 
A abrir o sol
A promessa
O escuro
A fome
O abraço 
Do corpo de seda
Nús
Crianças sem nada
Semeia
O teu beijo
A casa
O lume
Fios de amor 
Saliva
Que laça
Desalaça
E arde
Terra que transpira
Semente
Choro
Barco
Na voz
E garganta
que enrouquece
Luz
Aroma
Névoa
Primavera
Bicada de pássaro
Inocência
Flor molhada
Apropria-me
Sou-te
Primeira
Árvore
Solo
Homem
Formiga
Choro
Calor
Frio
Ao teu vento
Inverno
Rastro de estrela
Incenso
Passagem
Ponte de luz
Silêncio
Bocas fundidas
Melodia do corpo
Despropia-me
Idioma
Aroma
Riacho
Ininterrupto
Sol às fatias
Fim de tarde
Mar
Choro
Lábios 
Princípio de rosas
Ancas salgadas
Flor
Dois em um
Nasço-te
Minúsculo
Grão de erva.

Manuel Luis Feliciano