6.03.2009

Fora de nós mesmos

Fora de nós mesmos



Sentemo-nos nos calhaus da tristeza
Sem folhas secas nos olhos
E espigas cortadas nos dedos
Beijemos a ferida como se fosse a rosa
Que os nossos sentimentos pastem
Como cordeiros fora de nós mesmos
Quando nas ruas de Jerusalém o sol desmaie
Olhemos para trás sem o depois
Descabelando nossas mãos ao sol
Sem pontos de interrogação desfigurando
Faces de homens visivelmente alegres
Que um rio de pedra ainda verta água
Nas vértebras do silêncio que nos deram
Que a pedra seja carne correndo na fonte
Que o ópio alimente barcos vergados de carga
E se primaveras morrerem em nossas pálpebras
Pensemos sem dor que somos de algum berço.


Manuel Feliciano

Arequipa

Em Arequipa

O teu sorriso é tão natural
Como o sillar nas casas
Cortamos as rédeas aos condores
Anulamos as grandes edificações
O amor é tão simples como uma cabana


Em Arequipa

O teu coração é a mansão de Deus
O Inverno é tão quente como as tuas mãos
Não trocas um olhar pelos mais doces sabores
O pôr-do-sol é um manjar na mesa dos convivas


Em Arequipa

As palavras são as verdadeiras edificações
Sepultas-me a dor no teu coração
As crianças alimentam-se do luar
Os corpos estão doentes e as mentes estão sãs


Em Arequipa

Há um rio que corre a cada olhar
Uma muralha que cai a cada beijo
Uma obra que se constrói ao dar as mãos
O amor é alma.....


Manuel Feliciano

Poeta Manuel Feliciano

Tempo despernado


A faca não tem gume
A chuva é fio eléctrico
Um pássaro curto-circuito
O voo é subsolo
Cadeiras não têm pernas
Há árvores sem raiz
Folhas sem nervura
Cinzelos sem pontas
Batendo no pão seco
No pão seco das pedras
Tempo de mineiros
Por entre galerias
Na lamina do escuro
Prendem-nos sem cordas
Um cão mija nos fósforos
O Inverno queima
A sede é delinquência
De que somos acusados
À luz da fome
Vislumbramos capoeiras de galinhas
E ao nosso choro
Dizem que comamos a polpa da pedra
Laranjas sem gomos
E o sol sem raios
Que sejamos flores sem cúpulas
Durmamos sem travesseiro!


Manuel Feliciano

Poetisa Glória Dávila Espinoza


VUELCOS


Hay un vuelco sin fin, amando sus instantes
que no me tiene sino rondando sus esquinas
que va tras mis pies y
me arranca el corazón con sus garras
que son infinitas penumbras que trasvasan mi alma en llagas
repleta de espinas y abismos negros en su polvo
filtrando en mi esencia desde antiguo
sulfuro y magma de soledades.

Hay una lluvia sin fin, que corre por mis fauces
cual saeta de ácidas hieles para mi éter
fragmentándola en una y cien mil
anquilosando mi dolor en alforjas de pieles curtidas de tu ausencia
que vienen y van, que llevan entre sus lanzas
miradas llagadas que son silgos de quebranto
que hace toda una eternidad golpoteo sin fin.

Hay un sentimiento anacoreta que agolpa mi vivir
alejándome de su sol y lejos de ser pájaro
soy sólo herida abierta en caños ancianos
y perdiéndome en el confín
me entrega a la locura de ser dagas filosas
que entre uno y mil se ha convertido mar en llantos
que persiguen mis huellas carcomidas por el viento àspero
pesadillas de ácidos lechosos
que supuran vuelcos de espinas para mi espanto.

Hay un vuelco sin fin
que no sabe si es mi aorta
mi calada forma de pigmentos rotos
sufriendo lo indecible
porque mi mar no es más mi roca
porque mi roca no es mi llanto
y mi llanto no es más mío sino del fuego
que aquilata mi pesar
para ser pared de rostros curtidos
por el olvido fractal.

Hay un vuelco sin fin
que hoy me dice adiós
y luego me besa
en la frente
signándome al exilio
de su luz
que gota a gota
me cercena el alma
para ser la nada de la nada.

© Gloria Dávila Espinoza
Tingo María, 2 de Junio 2009