1.14.2012

Retrato de Outono

O mar e a areia no mel dos figos

Trazem os teus pés pela pálpebra quadrada

E dizem

Que a água do mar não tem água

E a minha boca são os teus chinelos

ignota flor todo este saber - as tuas pernas são tão boas

O miolo do sol que se impregna

num suposto azul - és tu

Toma

o calor das queimadas

que desperta o frio adormecido

E anoitece-és da cor do sol

acreditas?

não fazer copos de outros corpos - a televisão não capta

A bebê-los com o vinho

a transgredir o sol

Isso sim é o fogo que resta da ferida!

Agora ficas a saber que nada tem um príncipio

nem tão pouco um fim - beijos em saibro

só o aroma das cinzas que nunca arderam

dá-me as tuas mãos de iodo e vamos!

Hoje o que vai e o que fica- É o vinho a reiniciar o mar

garganta dactilografada a núvem

mais verde que a floresta - sabe-me tão imensamente a ti

Os ossos não nos querem meu amor - sorri

O cão ladrou - abre a porta-abre a porta

alguém quer saber de nós ao fim ao cabo - Pão da tua pele

Não morremos? Não há portas meu amor

Faca debulhada na boca - o que somos

Não há portas meu amor- não as abras-sente o jardim!



manuel feliciano