10.14.2022

 Dentro das rosas o amor 

O sol dentro das rosas também 

O céu a desfazer-se em pétalas 

Sussurros entre a minha boca e a tua

O orvalho a chorar doçura

Deslizo-te em cristais de chuva 

Por entre o teu pólen sou tremura

Gemo-te de amor também.


Manuel Luís Feliciano

8.06.2022

 Amo cada folha de árvore

Sem a precisão do esquadro

Sem as verdades que as obrigue a dizer os seus nomes

Com a leveza das ruas que não nos levam 

A nenhum lugar

Sem a vertigem do beijo em carne das coisas

Sem a dureza de ir ao fundo do amor.


Manuel Luís Feliciano

6.15.2022

Procuro a razão nas coisas



Procuro a razão nas coisas

Nas coisas que razão não têm

E ao tentar ir à razão das coisas

As coisas perdem-se também 

O sol diz tudo

O tudo que nada tem

Mas há sempre algo do nada

E o nada é algo também

Contento-me com o sol e o frio

Das raízes das árvores, só vislumbro as 

folhas, e a sombra num dia de sol

Bastam-me as palavras sem significado

Aquelas que são belas sem terem razão 

Para serem belas, as coisas sem serem 

Coisas algumas.




Manuel Luís Feliciano

6.01.2022

 Um homem entre as coisas da vida

De coração ora leve

De coração ora pesado

Tem tanto  de pecado seu 

Como o mundo de pecado


Manuel Luís Feliciano


5.27.2022

 Sonho o dia

Em que eu seja leve e inteiro

E  que o facto de ser

De andar 

Agir

E de observar o mundo 

Seja já um poema

Sem nenhum peso

Pesa-me pensar o mundo

E não saber o que é o mundo

De ser animal  

Que tenta matar as frases

De sol de cardos

Que afligem

 para seguir em frente

Frágil e inconstante 

Dor de cada dor 

De não puder dar luz aos teus olhos

De madre pérola

Lágrima de cada lágrima 

Ilógico e irracional 

Da natureza da brisa 

Que não se ocupa em ficar fechada 

Porque é na alma que a carne dói

Que a razão se dissolve num sorriso 

Ou grito

Nada é mais lógico que o mar a gemer nas pedras

Que uma nuvem inteira a desfazer-se em chuva.

Manuel Luís Feliciano

4.26.2022

Pudesse fugir eu

Da ladainha 

Repetitiva do mundo

Da indiferença do ar

Do abandono da estrada 

Quarto crescente

Lua cheia

Lua nova

Quarto minguante

Lua velha

Há-de ser sempre assim...

Uma luta

Inconsequente

De flores que nascem

Para que alguém as consuma.



Manuel Feliciano








4.25.2022

 Perdi-me na circunstância de saber

Que não sou uma só pessoa.


Manuel Luís Feliciano


 Às vezes dói entrar dentro de mim

Fechar a porta e permitir-me ao silêncio

Há sempre qualquer coisa do lado de fora

Que inevitavelmente quer entrar...


Manuel Luís Feliciano


 Às vezes são tantas vozes

Que dentro de mim

Querem ter uma voz

Que eu deixo de perceber

Afinal qual é a minha voz...



Manuel Luís Feliciano 


3.18.2022

 Cala-te ó insidiosa besta da guerra...

Nem Marte te aplaude o decadente amor

Nem a justeza com que se adorna Minerva 

Nem o jardim que te cobre as verdades podres...

Cala-te ó besta pequena, ó endeusado ego

Com que matas mulheres, crianças e o mundo

Cala-te ó dono, nem de ti mesmo

Estrume o teu coração, onde nem sangue jorra

Cobiça no pó dos teus ossos a maldita terra

E deixa a quem ama de verdade a paz viver.


Manuel Luís Feliciano

3.17.2022

 Enquanto eu 

não perceber que sou 

a única estrada

as flores

os rios e os mares

os labirintos das rosas

e os navios

todos os outros não me levarão

a lugar algum

É preciso que tudo comece de dentro 

para fora

que todos os pássaros sejam transportados

para dentro

para não ser prisioneiro

dos lugares mais livres do mundo

das portas mais escancaradas para o mar

e ainda que livre

cada flor da madrugada

não seja o ferro de uma prisão


 Manuel Luis Feliciano

 Ainda não sei entrar dentro de mim

fechar a porta

e deixar que as árvores

e as ruas cheias de gente

me invadam

como se as paredes

e as janelas viradas para o lado de dentro 

se transformassem em lagos

e eu dançasse como um Cisne

Como quem abre portas de sorrisos do lado 

de fora.


Manuel Luis Feliciano

3.16.2022

 Sonho o dia 

Em que dentro de mim

As casas

Não tenham paredes.


Manuel Luís Feliciano

 Ainda não sei viver dentro das cousas

Como se vivera fora delas.


Eu...

Poeta desconhecido

Manuel Luís Feliciano



Sol

 O sol afinal 

A luz que não teme

A fera do cálculo 

O brilho da espada 

As mãos acorrentadas

A porta

Escancarada do teu rosto

A silhueta

Do movimento do beijo

A verdade

Do fogo

A afogar-se no mar

A saliva de uma manhã

Sobre uma flor

O que resta 

Dos ombros em brasa

A voz que ainda arde

As tuas pálpebras entrecolhidas 

A dissolução do escuro 

O crepúsculo do bulício dos lábios

 da sombra de um barco no mar.


Manuel Luís Feliciano

2.22.2022

 Não é que dentro do meu corpo

Por vezes não está lá ninguém 

Porque o que está dentro do corpo

Não é do corpo também...


Eu...

Poeta desconhecido


Manuel Luís Feliciano

 Eu queria pensar nas cousas

Mas sem nas cousas pensar

Porque a verdade das cousas 

A mim, me faz magoar.


Eu...

Poeta desconhecido

 Eu queria ir dentro das cousas

Sem nas cousas me afundar

Porque dentro de cada cousa

Há uma braçada de mar.


Eu...


Poeta desconhecido.


 De poeta nada tenho

nem coisa que se pareça

Foi a irrealidade do voo

que me subiu à cabeça


nunca gostei de escrever

e de pensar também não

as alegrias do mundo

nas tábuas de um caixão


de que importa o senhor céu

de que importa a senhora lua

de que importa um rico ao léu

E uma Princesa  pela rua


O céu tem forma de redondo

se for quadrado também está bem

na horrenda natureza

morre o sol e morre a lua

e com eles morro também.

Eu...

Poeta desconhecido