2.29.2024

 Não te quero ver

 As ruas onde passo

 Sei-as de cor


 De olhos vazios para céu

 E lábios ardentes na terra

 Vou cheio de ti

 E das canções das ervas

 

E a tua carne

 origem de todo o silêncio

 do mar

 do rio

E do fogo

 Liga-se a outra carne

 

que não sabe do pó

 que dorme sobre os ossos


 Crianças

 Feitas de aveia

 Bebem-nos os astros sonâmbulos

 Mães a parir toda a dor


 E não te ver: são nuvens a desfazer-se

 O sol dentro de mim

 Em mãos dentro de outras mãos

 Barco na sêmola do amor


 No mar de uma navalha

 Em mãos desavindas do sal

 És luz que não deixa chegar

 E sombra que não deixa partir

 


Pássaro na orgia da brisa

 Ouço-te transmigrar para a morte

 Em grão a rasgar todo o fim!

 

manuel feliciano

1.20.2024

No mundo, eu experimentei várias coisas
das coisas  que experimentei, nenhuma delas me coube.

Manuel Luís Feliciano