7.26.2008

Poema - Palavras em Guerra

Era Domingo
Saías da igreja tão devota
Com orações ainda quentes na boca
E Deus no silêncio dos teus olhos
O teu corpo descia pela rua
Como uma pomba a atravessar
Pelo íntimo da paisagem
Na respiração das bocas
O sol penetrava teu rosto
Frio de terra inóspita
E os pássaros aqueciam-se
Em ramos de árvores dentro de ti
Mas porque os teus olhos
Não pintam rostos diluídos
Em folhas de árvores atirados ao chão
No Outono de cada homem
E gritos que suspiram o sol da tua paisagem
Um mendigo pede-te pão
E tu em fuga o evitas chorando
Com teu Deus morto nos braços
E o Domingo será sempre a redenção dos teus olhos.

Eu e Setúbal

Era já de noite quando segui para Setúbal me acolher. A Vasco da Gama abraçava o rio com os seus belos braços longínquos, o Tejo prateado, já embalado pela lua, franzia-se por entres as luzes que lhe caiam da ponte, quem seriam os amantes que faziam amor por debaixo daquele lençol de água?
Depois daqueles quilómetros cheios de mistério tocamos a terra firme do Montijo, mas a noite já não deixava vislumbrar a paisagem, somente os olhos dos passageiros do autocarro nos iluminavam.
A viagem é rápida, não pensem que Setúbal fica no fim do mundo. Eu, e o meu cicerone, apanhamos o carro na estação. A Ana quis que Setúbal se passeasse dentro de mim, ao invés de ser eu a passear-me por Setúbal, não foi preciso muito esforço porque Setúbal é bela.
Primeiro bandeamo-nos pela bela Palmela, e subimos ao alto do seu castelo, naquela elegância e quebranto que aquele belo altar nos merece, as luzes de Setúbal viam-se cá em baixo como estrelas vindas do céu, e a noite já suspirava por entre o vale que deslizava até à cidade.
Descemos Palmela e tocamos de novo na cidade de Setúbal, já à beira mar, senti-me abraçar o mundo tal como o mar e aqueles barcos que seguem para destinos longínquos mas também habitados, que arrepio…lembrei-me dos portugueses na diáspora dos descobrimentos, que homens de coragem! Seguimos pela lota à procura de comidita, porque Setúbal dá fome.
Acordamos ir ao MC Donalds para calar a fome, e refastelamo-nos na esplanada ainda no rescaldo da apresentação do livro e considerações gramaticais, deu para ter uma ideia de quanto a cidade é bela.
Mais umas voltinhas e voltamos para casa. Nem estranhei a cama, sou como um vagabundo sem terra própria. Quando acordei, o dia estava macambúzio, mas ao vir à varanda a bela Setúbal estava de minissaia de nevoeiro, e seu soutien era a cacimba que se desfazia pelo chão. Fomos almoçar e de novo à conquista daquela mulher que é a cidade.
A serra da Arrábida esperava por mim com aquele ar de bravura indelével, Tróia ao fundo submissa àquelas águas, e eu enternecido ao ver aquela imensidão, o mar estava mesmo ali a chamar-me, não posso foi o que lhe respondi.
Depois fomos ver a cidade numa esplanada de hotel, o flash da máquina e o meu olhar a enamorarem-se de Palmela bem lá no alto, e de Setúbal e do mar ao fundo. Até no estádio do Bonfim entrei, Fakirá treinava os seus pupilos, naquela manta verde de relva, e alguns adeptos assistiam ao treino, é o sangue de Setúbal a correr-lhe nas veias.
Seguimos para a baixa, Bocage na praça a falar ao mundo. Não Bocage poesia agora não, deixa-me ver as pernas das mulheres de Setúbal, que belas pernas hein! Fotos e mais fotos. De novo, restaurante misturado com comida e palavras de Bocage.
Agora não Bocage, deixa-me degustar o strogonoff, e a sobremesa de bolo de bolacha.
Voltei para Lisboa, há sempre uma estação que nos espera, não chores por mim Setúbal. Vim a contar estações: Setúbal, Palmela, Venda do alcaide, Pinhal novo, Penalva, Coina, fogueteiro, Foros de amora, Corroios, Pragal, aí estou eu atravessar a ponte 25 de Abril, é o Tejo e Lisboa ao seu melhor estilo, Campolide, sete rios. Adeus Lisboa, volto sempre quando puder, aliás também sou teu.


Manuel Feliciano

Agradecimentos a Vilar

A apresentação no dia 24 de Julho na Bertrand correu com normalidade. Uma apresentação é aquilo que é, portanto não pensem que tudo o quanto lá foi dito é da índole dos Deuses, ou que iríamos sair dali homens com a cara lavada dos nossos problemas diários.
Eu não me arrependo de nada, convidei quem pude dentro das possibilidades, agradeço muito às pessoas que me acompanharam, e que preencheram aquelas cadeiras, porque o meu clã, foi a grande massa a ocupar as cadeiras da livraria Bertrand, por isso sou humilde e sei reconhecer isso.
Vós representastes a minha família, porque se vos convidei, é porque vos considero gente da minha terra, das mesmas origens com as mesmas dificuldades, cada um luta como pode. Eu agradeço o vosso tempo, disponibilidade e paciência, por isso quero dar-vos uma salva de palmas, porque sem vós a sala estaria vazia.
Não pude voltar convosco, porque a minha alma é do mundo, e eu sou sempre um ser em viagem, não quero que penseis que o fiz por desprezo ou por desconsideração, todavia Setúbal esperava por mim.


Manuel Feliciano

7.05.2008

Uma edição da Papiro Editora

Palavras em Guerra é um livro de poesia editado pela Papiro editora da autoria de Manuel Feliciano. Este conjunto de poemas tem o intento de consciencializar o leitor para assuntos que afectam a nossa sociedade, tais como a fome, a discriminação, a falsa moralidade e o preconceito.
A questão que se coloca, é afinal, que espécie de animal somos nós?


Manuel Feliciano

7.02.2008

Apresentaçao do livro "palavras em guerra"

No dia 24 de Julho de 2008 será apresentado o livro de poesia "palavras em guerra" na livraria Bertrand do centro comercial Vasco da Gama, em Lisboa pelas 18:30h. Pede-se a todos os convidados que compareçam.