3.22.2010

Dia da poesia

Poesia

É nas ruas que o teu sangue corre
É no sol que as laranjas nascem
É no peito que o teu nome bate

É nas águas que os teus olhos mordem
É do nada que o teu corpo urge
De silêncios muito mais que fogo

A chuva sonha-te ser Mulher!
De cabelos muito além da terra
Onde o escuro morre com a luz


É nas árvores que estão degoladas
Que o teu canto é charco de azul!


manuel feliciano

3.18.2010

No Time

Ao tempo


Sou horas sem dias
Sou dias sem horas
Ponteiros quebrados
Por entres alquimias

Os dedos da chuva
Suturando feridas
Na derme da terra

Sou feto que nasce
Em forma de sol
No útero da lua

Sou o fogo-fátuo
Para além da morte
Vestindo a noite
Sem mãos corroídas

Não sou fumo de cigarros
Por entre mãos frias

Moinhos que esperam
Através das lágrimas
Devastar o milho
De rostos tão puros

Não sou a estação
De homens que chegam
Carregados de nada
Como peixes atados
Às redes do tempo

Sou tempo sem tempo
Calando a fome
Em bocas – ruínas.


Manuel Feliciano

Sem corpo

Largo o meu corpo pelas ruas
Como uma vela içada ao vento
Como um avião a tocar as nuvens
E fujo do conforto das lojas que se aproximam
E cuspo propagandas metálicas
Que publicitários prometeram regurgitar mortos
Por entre linhas imaginárias
Casuais, mas que toco
O sol, as nuvens, e as estrelas
Não existem
E a terra não é um elemento concreto
Eu mesmo um espectro de vento
Por isso às vezes caminho no céu
E há terra dura nos pés que não suportam enxadas
E glaciares nos meus olhos que impedem pescadores
Que o sol não resgata
Uivos de lobo na minha pele
Há nuvens que choram gritos de dor sobre a estrada
E flores avermelhadas que insistem
Como uma boca que chama
De um horizonte fora de todos os outros
De um sol inexistente que brilha.



Manuel Feliciano

Manuel Feliciano
Já vi o sol tão de carne
A olhar-me com lábios de rosa
E mulheres tão de sol
Serem mar em lua nova
Já vi no sol escorrer-lhe água
E no teu beijo uma mariposa
Todas as coisas ao contrário
Das verdades dogmáticas
Colho o sexo das rosas.



Manuel Feliciano
Há uma mulher à minha espera
Num barco de nuvem
De lança de aurora e de núpcias
Metafísica de longínquos cabelos de seda
E um cavalo azul atravessa o céu
De líquidos dedos e sons aromáticos
Por detrás das rosas com bocas de carne
Oh ânsia de um Deus vivo
Oh natureza sensorial respira
E diz palavras para que todos oiçam
Oh carros e máquinas assassinas
Fiquem humanos
Oh homens! Sejam carros nessas ruas
Metalizai o vosso ego e orgulho
Pelo menos um cão
Nesses Lassos olhos como a noite
Ladre a podridão
Nesses ferros, nessas prisões
Que a inteligência humana pariu
Um rato no esgoto não queira ser homem!


Manuel Feliciano

Tempo Despernado

Tempo despernado

A faca não tem gume
A chuva é fio eléctrico
Um pássaro curto-circuito
O voo é subsolo
Cadeiras não têm pernas
Há árvores sem raiz
Folhas sem nervura
Cinzelos sem pontas
Batendo no pão seco
No pão seco das pedras
Tempo de mineiros
Por entre galerias
Na lamina do escuro
Prendem-nos sem cordas
Um cão mija nos fósforos
O Inverno queima
A sede é delinquência
De que somos acusados
À luz da fome
Vislumbramos capoeiras de galinhas
E ao nosso choro
Dizem que comamos a polpa da pedra
Laranjas sem gomos
E o sol sem raios
Que sejamos flores sem cúpulas
Durmamos sem travesseiro!

manuel feliciano

3.11.2010

Alcácer, Love in Alentejo

O Sol desenha êmbolos no Sado
Pedaços de céu no colo das casas
Criaturas de arroz em luzes quebradas
.....to be continued

manuel feliciano