1.02.2014

Hoje deveria ser
 mão que cresce lírio no silêncio do cemitério dos lábios
 de pétalas desfolhadas na cara
tão limpa como os seios numa manhã
 a desfiar as urnas das nuvens
 nos olhos que refazem cálices de amanhã
Contra o corpo gemendo num mar de ternura
 as ruas a abrir-se cheias de bocas tão tenras
 e das sílabas escorrendo na orla da língua
 pedaço de ombro desfeito em pó
a doer como um ramo inteiro a crescer nas cinzas
 um fruto de amor sem muralha
 A nascer no fogo que molha o pó e é rosa
 tão de criança, um inverno onde os pêssegos já choram
 um corpo inteiro de mãe, que só conhece os braços!

Manuel Feliciano