12.25.2020

 POEMA


Vim aqui para te dizer que o teu sorriso é sublime. Dentro dele há uma luz que se liga a outras luzes! Será que  nasce do perfume da chuva? Que contagia o orvalho, que dá de beber ao polén das flores, faz nascer o sol, ergue as montanhas, dá água às fontes, desce pelos rios, movimenta as ondas do mar, dá luz à  luz? Será uma Deusa o teu sorriso? Um cometa? Uma nova era, uma sinagoga? Um novo acordar, uma cidade inteira, uma brisa, um anjo crescente, os navios a partirem nos lábios, as mãos abrigadas no por do sol? Que Deusa é essa o teu sorriso? O infinito? O Paraíso? O encontro? A ponte que nos liga ao paraíso. Um astrolábio para chegar a terra.  As caravelas, a ilha do amor, a nudez das palavras, o sexo das rosas? O silêncio desvirginado, os índios da Amazônia?Ainda que o beba num trago de luz, e o saboreie com os lábios e a boca, em intermitências de pálpebras silvestres, o mastigue e o coma, só as tuas mãos a percorrerer-me, a incendiar-me, atravessar-me o caos e as cinzas molhadas de beijos, ruínas a erguerem-se num gemido de brisa. As ancas tépidas. Flor de estrela. Água  de beijos a quebrar a Antártida. Os olhos a transbordar de amor. Novos gritos de estalagmites na garganta. Pétalas de sal. Corpos desnorteados. Saliva de cais ardente. Chaimite de guerra. Não sei que sorriso é esse? Cumpre-me bebê-lo num gole de luz.


Manuel Luís Feliciano