8.30.2010

Quero uma pedra pesada

Já que me deram uma pedra
Então que seja bem pesada
Que seja dura e com musgo
Pois bem eu quero moldá-la.

Para que a quero pequena
Assim eu não aprendo nada
Eu quero é que ela me doa
Para que veja bem a estrada.

E dela é que não me arredo
Quero-lhe sentir bem o peso
E limpar-lhe todo o musgo
Para que possa habitá-la.

Quem fugiu e tapou os olhos
Não sabe que a pedra é vida
Tem o tamanho que queremos
P'ra mim são todas pequenas.

E olha que ela tem laminas
E a minha pele fica rasgada
Mas eu saio p'ro outro lado
Ouvir pássaros na alvorada.


manuel feliciano

Se um dia dona Morte [...]

Se um dia dona Morte [...]
Se um dia subires as escadas
E não acordares o vizinhos
Com os pés já descalços
E a tua lingerie preta
E nem sequer bateres à porta
Nos olhos trouxeres uma máscara
Voz sussurrante
E mãos aveludadas
Não tires sequer a máscara
Que a ti eu nunca te reconheço
Eu gosto de amantes reais
Monta-me e desfruta dona Morte
Faz-me jogos de sado-maso
Aperta-me leve a garganta
Coloca-me mordaças na bocas
E prende-me com algemas os pulsos
Sabes o que depois te faço
Assim que o teu jogo acabe?
Salivo-te a buceta até gemeres
E vou de barco até ao Haiti
E tu ficas a olhar para o cadáver
Enquanto eu leio debaixo de palmeiras



manuel feliciano

Eu vivo nas coisas

Depois de todos os mistérios que indaguei
Das sementes na terra rasgando o impossível
Da voz madura dos astros latejando gritos
Toquei os confins onde os deuses habitam
Fui à loucura húmida dos meus lábios na maçã
Como uma noite serena deitado ao teu lado
Embalado por entre os lençóis da cama
A única inquietude foram os teus cabelos
Que são anjos despidos em lugares distantes
Que ficam à lonjura do meu leve suspiro
E nada disto foi um mistério indecifrável
Somos todos o mesmo lugar em várias formas
Todas as ânsias pesos e amarras me desprenderam
A não ser o meu Ser desassosssegado por nada
Vi tudo tão nítido como a minha consciência
De que eu vivo nas coisas como as coisas em mim!







manuel feliciano

8.29.2010

Soy arequipeño-peruano

Soy un poeta portugués pero mi casa espiritual es los Andes peruanos, lucho por un mundo mejor, naci en Arequipa hay muchos años, mientras mi cuerpo aún esté en Portugal,tengo que decir que aqui el mundo no es perfecto, porque solo somos matéria!!!!Todavia mi alma quier un mundo mejor sin guerras y sin separaciones en la tierra, todos somos hermanos, Judeus, islâmicos, indús. en la verdad el pueblo humano. Además tenemos la obligación de respetar incluso la naturaleza. Un abrazo para mis origenes espirituales, la civilización Inca.


Del poeta Lucho morocco-nombre espiritual
También manuel feliciano

Submundo

Eu não quero nada deste mundo
Nada que me seja dado por esmola
Maçãs rosadas podres por dentro
Restos que já entraram em outras bocas
Bocados que outros já rejeitaram
Eu cuspo todo o mal que me deram
Que eu também não dou pão seco a pobres
Nem o amor todo ele feito em ruínas
Nem sorrisos só para mostrar os dentes
Daqueles que só já habitam as caveiras
Eu não quero nada deste mundo
Dêm-me maçãs por ventura
Daquelas que nascem sem macieira!


manuel feliciano

8.28.2010

Quero encenar um beijo

Quero encenar um beijo amor...
Capaz de vencer todos os nãos
Quebrar as muralhas do tempo
E resistir ao deserto Sahara
Aos tornados que quebram tudo
Dar-te um beijo anti-matéria
Dos que incendeiam as trevas
Como ave de vento no teu colo
Em gotas murmurantes no oceano
Daqueles que ultrapassam janelas
Dos que não precisam dos lábios
E que só por isso são divinos
Marcados com batom da cor da alma
Sem cenário que atrapalhe o acto
Daqueles que só poetas são capazes.


manuel feliciano

8.27.2010

Enquanto na fome houver













Enquanto na fome houver
Piratas mas de segunda
Comedores feitos gentalha
Homens com moral de lata
Canibais de gravatinha
Cabrões do vale tudo
Camelos numa avenida
Com morte sentenciada.

Enquanto na fome houver
Teorema sem teoria
Homens Bomba de Napalm
Com mãos atadas às costas
Navios podres sem proa
E o amor for só veneno
Carnaval sem fantasia
o homem é herói de palha.

Não me digam que escrevi
Poesia p'ra abrir Champagne
Com piruetas e arcos
Dipenso o bolo e a turba
Não me batam sequer palmas
só o faço por ternura
Enquanto uma mulher parir
Um filho já excomungado
Ante as leis do anti-mundo.

Enquanto na fome houver
A negação de outro ser
Ditadores em democracia
Palavras só lã de cabra
Relógio badalando à sorte
Lambões com cara de padre
Vontade pézinho de chumbo
Ai coitados é dos coitados!

Ri-te meu mau samaritano
Não és dono sequer de ti
Quanto mais comprares o tempo.


manuel feliciano - Em prol dos direitos humanos e pela paz

8.26.2010

Doem-me os tremores de terra

Doem-me os tremores de terra
Dentro dos meus olhos castanhos
Nos ossos, na carne, na boca
Escravos nas ex-colónias
Que ainda me choram na pele
Parem-me dores e temores
A fome calada com ferros
As cinzas do Holocausto
Abrem-se-me em bocas nas veias
Erguem-se no chão do meu corpo
Pedem-me a voz os Judeus
Crianças que não mataram Cristo
E a pútrea bomba de Heroshima?
Que ao mundo só já é maçã
Que dizimou tanta criança
Que me colhiam a alegria
E frutos maduros no pomar
Com ternura e magia
Em vias-lácteas fora da terra
Que nunca neguei ao poema
A morte tornou-se banal
Falar da dor é pecado
E a memória um escândalo
A história revista cor de rosa
Este mundo não tem sangue
Nesta puta de vida boa
Em que muitos não a mereciam
Sabem o papel que me deixaram?
Escrever na língua de ditadores
Que eu só sou manco das pernas.


manuel feliciano

Porque é que não nos olham[...]

Porque é que não nos olham
E não nos pagam balúrdios
Acaso somos jogadores de futebol?


E vivam os bacocos da Bola
Que de bacocos não têm nada.


manuel feliciano - foi só uma gracinha.

As 4 fases da Lua

Na Lua Nova
A minha alma é um violão chorando
Eu preciso que me afagues
Que me tires do ângulo zero
Entre o sol, terra e Lua
O meu coração está frio
Que me aqueças com os teus beijos
E faças dos teus olhos o meu sol


No quarto crescente
Eu já te subo surrateiro
Nas 12:00 horas do teu corpo
Sou um semicírculo voltado para o Oeste
No sol quente e meigo do teu rosto
Mas já te aqueço como uma pequena brasa
Adormeço à meia noite no teu corpo
As lágrimas converteram-se num jardim
Os meus pés aqueceram-se-me
E eu já sinto os teus a envolverem-me

Na Lua cheia
O teu amor incide-me por inteiro
O Sol e a Lua estão opostos
E as nossas caras estão de frente
O meu colo é-te a terra onde semeias
O meu sangue fervilha junto ao teu
Eu entorno a minha luz na tua alma
Não há chuva que me apague dentro de ti


No Quarto Minguante
Colhemos todos os frutos que semeamos
Sentimos nossos corpos árvores despidas
E as raízes ainda permanecem profundas
Embora a lua esteja voltada para Leste
Mas tu nem por isso estás de costas
A luz é fraca, mas nos tornamos mais fortes
E os nossos lábios estão de lado se beijando.



Poeta manuel feliciano

Eu e Lisboa

Ai Lisboa! Querida bebezinha
De pele calcária e cintura fina
E vestidinho Primavera-Verão
Percorro-te por toda
Acaricio-te os seios
Só com olhares desenfreados
E sinto-te toda molhada
O Tejo transborda-te a pelvis
Agarras-te à minha proa
Suspiram-te as doces colinas
Com papoilas de sol rubro
És o meu porto de abrigo
Na imensidão dos teus braços
brotas um cheirinho doce
A canela de outros tempos
E o nosso sangue fervilha
Corre-te o mundo numa azáfama
E eu vivo-te dentro das veias
Beijo-te os cabelos longos
Em sardinheiras floridas
E tu dizes-me sim tão bem
Só com sinais que eu percebo
No estreito do Bairro Alto
Por esse colo tão esguio
E esse corpo tão de seda
levas-me ao cimo do castelo
E precipitas-me do alto
E tornas-me numa nau de brisa
Por esses teus doces suspiros
Que me desaguam além mar
Onde Eu e Tu Desembocamos
Cheios de carícias e orgasmos!


manuel feliciano

8.25.2010

No tempo da minha aldeia

Que saudades do tempo da minha aldeia
Quando a geada acariciava os telhados
A caminho da escola tudo tão branquinho
As mãos iam tão frias
E as calças não tinham bolsos
Mas o coração ia quente
Porque o mundo tinha o peso de uma azeitona
Hoje até de Verão eu tenho frio
São as geadas do pensamento que não derretem
Nas calças costuraram-me já os bolsos
E os barcos congelam-se nas pernas
Mas eu não tenho é mãos que os tripulem
E o coração é um capitão já sem porto
E os telhados um mar de tédio só com musgo!



manuel feliciano

Saudade

Saudade é ter e não ter
É amargura que sabe bem
Aconchegar-se na ausência
Do que parte e não se vai.

É o meu Eu em quem eu amo
É quem eu amo no meu EU
Neste naufrágio que é a vida
É lembrar o que não morre.

Matar de amor a minha sede
Numa fonte que corre seca
Mas que jorra na memória
Que a água por si não mata.


manuel feliciano

8.24.2010

Atenta às minha mãos vazias

Atenta às minha mãos vazias à chuva
Desertas com uma luz que sigo ao centro
Eu não sou mais que a própria chuva
Partindo-se em gozo pelas raízes da terra

Se nos seios me perco como os de vênus
E penso que ser incasto é o Paraíso
Não foram os deuses quem fez o pecado
Nem tão pouco me exigiram ser seu servo

Eu escolho o que é certo ou errado

O deuses não nos deram toda a liberdade
Será que aqui é só para uma bela safra?

Mas isso por si só não é escravatura
Porque a alma vagueia mais que o corpo
E sabem que pecar chega a ser belo
Para quem tem nas mãos a própria alma
Fazer amor confunde-se com o Paraíso

Mas isso os deuses há muito que sabem
Que a carne pode tanto como a alma
E a sua escravatura é a liberdade
Porque não são feitos de carne humana

Ai! se e o mundo fosse só as deusas!
Essas que do Olimpo nos enfeitiçam
Se o mundo se resumisse a um pic-nic
Onde o sexo fosse uma doce sobremesa

Era bom, era bom. Se aqui fosse o Paraíso!

Atenta às minhas mãos vazias com uma luz
Olha que o mundo é só um castelo de areia
Sofrem os inocentes e os mais incautos
Porque aqui em baixo semearam-nos o inferno

E olha que os deuses nunca fariam isto?
Quem fez isto foi a insensatez de um diabo
Que os deuses não punem crianças num berço
Nem mulheres com um coração sangrando!


Manuel Feliciano

8.22.2010

Como é que Fernando Pessoa [...]

Como é que o nosso grande poeta de todo o sempre, Fernando Pessoa, esse vulto do pensamento e da Literatura mundial só publicou um livro em vida?

E como é que o José Saramago só foi reconhecido depois do Nobel?

Eu prefiro dizer-vos brindai-nos do céu com o vosso talento, paz à vossa alma não, afinal a eternidade seria muito monótona, que Deus esteja convosco e continuem a escrever livros no céu.

Não há nenhum homem sem fome de Deus, há sim é homens que entre o belo e o trágico desertam, quem disse que a terra era um jardim de maçãs? Para os crentes e os descrentes, o intuito de Cristo foi mostrar-nos que terra é um bem pesado, que só o amor, a humildade, e a fé aliviam!!


Disse

manuel feliciano

Quero te amar só por te amar

Quero-te amar e dar-te um beijo na face
não me importa os teus pregos e misérias
o teu dinheiro caro ou barato do boteco
a tua roupa amarrotada ou passada a ferro
se és budista cristã indú ou muçulmana
se me dás bofetadas como quem dá beijinhos
devias saber que o teu ódio fortalece-me
posso-te amar e dar-te um beijo na face?
podes cuspir-me que eu dei todo o meu corpo
às ondas do mar que beijam as areias do mundo
importas-te que eu trema o coração contigo?
não te quero amar a troco de qualquer preço
eu não sofro por amores de tão fraca colheita
quero-te trazer ao colo mas sem que tu me vejas
eu quero-te amar mas não quero que me dês nada
já sofro tanto contigo és pele da minha pele
eu só te quero amar porque o amor não espera
nem flores cortadas nem abraços nem lembranças!


manuel feliciano

As fases da lua

A lua tem sempre as mesmas fases?

Se nem a lua tem sempre as mesmas fases eu também não tenho.



manuel feliciano

Quero beber o pó da estrada

Hoje eu só quero beber o pó sagrado da estrada
Que a água do rio é demasiado transparente
E há dias em que eu prefiro andar cego
Caminhar somente com os meus sentimentos
Ver pássaros de barro feitos por um artesão voarem
Apanhar bagos de uvas em cada gota de chuva
Sentar-me numa pedra como na proa de um navio
E ir mesmo por vinhedos na ausência do mar
E com o resto de nuvéns dar pão a pobres com fartura
Porque é que eu quero ver exactamente por fora?
Se nem os deuses suportam viver do lado de fora
Cansam-me as mesmas imagens vertendo sangue
Que belo prazer um dia encoberto de nevoeiro
E o degelo dos castelos que nunca foram castelos
Um copo então de pó aos olhos voltados p'ra dentro!



manuel feliciano

8.21.2010

Eu só quero ser

Eu só quero ser [...]
uma palavra na pedra
uma maçã no deserto
Nas tuas mãos de vento
Um sol em forma de árvore
Onde te encostes à sombra
Ser a tua fome na boca
E um barco no teu olhar
Fazer das tuas dores lírios
E das tuas lágrimas o luar
Água numa fonte calada
Correr-te sem que me sintas
Tocar-te o feno da alma
Um rio cheio de trigo
Que se doa no teu berço
Em plenas águas do mar!


manuel feliciano

Dedicado a Giovanna Morocco Apfata

8.20.2010

Mallu Magalhães

http://www.youtube.com/watch?v=Eeuo3zD7g3c&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=Tn6mLooeWnw&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=i8Q7IIIXjko&feature=channel

Sou fã de Mallu Magalhães

manuel feliciano

Porque não te ris[...]

nós só somos meros palhaços
nesta vidinha de circo
pinta a cara com loucura
desfruta o céu que ainda é dia
andamos de terra em terra
e nunca estamos bem com nada
mas só a terra é que gira
estamos sempre na mesma rota
chora a dor com alegria
eis-te na terra dos sonhos
não tomes o sol à lareira
faz da alma uma aeronave
enquanto o jardim não derrete
ri-te da morte à gargalhada
de que te vale o teu negrume
de que te vale a vaidade
e a casa feita de pedra
se nem és dono de ti
não há juizes nem réus
somos todos deportados
ri-te sem dó que o fim não acaba!




manuel feliciano

Introspecção com uma pedra

Se a pedra é o meu cálice
Então faça-se luz sobre a pedra
E eu me alimentarei do seu pão
Sem nenhum dos meus receios
E ao seu silêncio
Que diz mais que mil palavras
Não lhe voltarei a cara
Nem desonrarei o seu criador
E beberei-lhe manhãs no orvalho
Porque não sou mais que uma pedra
E ao meu cansaço
À minha dor ardendo na alma
Colherei um fruto maduro
Eu direi obrigado a Deus
Quantos os homens que calam
Quantos os homens que não sorriem
E não deixam de ser homens
E ela tem a mesma coragem
Alegria, sangue e veias
que vivem na minha génese
E escondem os mesmos mistérios
Os mesmo que trouxe comigo
Nasci em 1975, sofri e fui sempre feliz!



manuel feliciano

8.19.2010

Eu quis amar uma puta

Quis tanto amar uma mulher puta
mas uma daquelas com coração
que são verdadeiras e se apaixonam
mas não carecem mais que um amante


Quis tanto amar uma mulher puta
mas não daquelas de faz de conta
que só são putas por pretensão
carinha de anjo e alma porca
das que não cobram só por tesão


Quis tanto amar uma mulher puta
mas não daquelas que estão na rua
de pernas cruzadas e caras tristes
coitadas essas acho que vão p'ro céu


Quis tanto amar uma mulher puta
mas não uma puta muito distinta
daquelas que fodem só com os olhos
mas por ventura não corre a tinta

Quis tanto amar uma mulher puta
que me dissesse: rasga-me caralho vai
soca bem fundo: diz-me que sou tua puta
mas mulheres putas não sei quem são!



manuel feliciano

Vou aniquilar todo medo

Hoje vou aniquilar as sombras do medo
Vou p'lo mar fora numa folha d'árvore
Desfragmentar-me e ser só uma luz
E entregar-me ao frio e dar-me em lume

Sou uma quilha desenfreada ao vento
Atirei longe o relógio-bomba às águas
E vou pelo oceano mesmo amarrado
Lamber as feridas mesmo sem língua

Vou construir um só povo humano
Plantar na fome um campo de trigo
Onde os homens não se devorem
E no ódio florescer a palavra amigo

Vou dar as minhas mãos tão pequenas
Abandonar-me à terra em gotas de chuva
E orá-las em sol com mel pelos olhos
Dos pobres que choram mas com alegria.



manuel feliciano

8.18.2010

Só colho a vida

Subi ao ponto mais alto por baixo de tempestades
Onde nem as aves chegam e o silêncio faz-se noite
Mas não levei as asas de Ícaro a desafiar o Sol


Gritei a vida pelos canaviais das veias em sangue
Alguém me há-de ouvir perante a paisagem calada
Doía-me cada gesto e as palavras em cada asa

Mas eu quis gravar o teu nome bem lá no alto
Na taça azul do côncavo do céu e bebê-lo
Onde ninguém possa atentar contra o meu abrigo
E na esperança já quase comida pela chuva

Eu quis derrubar o mal com todo o meu grito
Tomar a morte pelas mãos e esbofeteá-la na cara
Soltei a voz e rasguei toda paisagem inexistente


Eu não acredito nem no caruncho nem nas tábuas
Se é tudo maldição os Deuses que estejam comigo


Um dia levantarei vozes das areias mais profundas
O amor é bem mais fecundo que o absurdo da vida
Nada é mais forte que a semente a desabrochar



Eu nesse dia estava preso a cordas invisíveis
Mas nem por um minuto me calei mesmo com dores
Um dia seremos o vento enrolando nas marés
Nenhuma coisa sem cara ou morte clandestina
Nenhum regozijo do mal penteará os nossos cabelos


E na ausência de frutos abri os ramos do peito
Toma meu amor da minha árvore come esta maçã madura
Come-a que a escuridão hei-de a matar com a boca

Enquanto tu me esperavas no aeroporto Jorge Chávez
Eu voltei a gritar mais alto para que todos ouvissem


A luz é bem mais vida que o jóio e a escravatura
Nenhuma moléstia pode contra a acção sagrada dos Deuses
Eu renuncio à mentira sou filho dos Deuses e da vida
Uni-me às tuas mãos e abriu-se-me um beijo por dentro


Lima acolheu-nos em graça e deu-nos um prato de ceviche
Enquanto esperamos pelo bus que nos levou para Arequipa
Quebrei todos os muros e ciladas com o amor dos teus olhos.


manuel feliciano

8.17.2010

Ao sabor do corpo

Como eu adoro sentir o conforto do meu corpo
a pele sem rebentos aconhegar-me de Inverno
a roupa quente abraçar-me como uma amante
a minha boca suave como as mãos puras de neve
enquanto o meu coração dorme à espera do sol
na Primavera há pássaros sobre os meus ramos
há beijos como quem toca corais com a língua
os aromas e as flores envolvem-se com o meu sexo
no Verão o calor desnuda-me completamente
o sangue corre-me como regatas sem rumo além-mar
há uvas e lábios que se misturam no meu corpo
e há mãos apanharem-me todos os frutos maduros
no Outono as tuas mãos revestem-me a pele nua
tomam o lugar do meu coração que está mudo
devolvem-me o cio que cai pelas folhas amarelas!


manuel feliciano

Eu nunca ambicionei nada

Eu nunca ambicionei nada neste mundo
vivo cada dia desprendido de tudo
vendi todos os meus relógios na feira
dei o meu eu a um outro que não o tinha
sou metafísico, irreal, despreocupado
tudo o que granjeio é imaterial
o meu corpo é espantalho numa horta
eu não acredito nas coisas visíveis
não professo religiões nem filosofias
aceito o degredo com cara de palhaço
os meus sentimentos doei-os a uma pedra
assim talvez ela chore tudo por mim
também não fiquei de mãos nos bolsos
a fumar o tempo em cigarros nas esquinas
tudo o que plantei foi nas pequenas coisas
como uma folha amarela a cair de Outono
porque mesmo ao cair mordeu-me os lábios
porque me rasgou com a essência da vida
aqui não quero nada a menos que seja póstumo!



manuel feliciano

8.16.2010

Eu nunca nasci foda-se [...]

Eu nunca nasci foda-se [...]
eu nunca nasci
não tenho crises de existencialismo
nem sei o que é ter ambição
e quem não nasce
por ventura também não pensa
não sofre com nada
nem sabe o que é a morte
nem tão pouco o que é a vida
nasci para dentro de alguma placenta
não tenho razão
nem consciência nem afectos
sou da sagrada escritura das pedras
quem me vê por essas ruas
provavelmente anda bêbado
foda-se o pib
o mercantilismo
as enfermidades
quem escreveu os meus poemas
foi alguma alma penada.

Manuel feliciano

8.15.2010

Talvez o tempo seja[...]

Talvez o tempo seja uma máquina sem corda
de um beijo ancorado que não partiu
quem sabe uma casa feita de chuva
com janelas abertas que dão p'ro nada
Um mundo que ouve tudo e anda surdo
talvez quem sabe o medo de não ser Eu
o tempo passa a correr como quem não anda
de sermos quem não somos em busca do céu
de não saber ao certo se o sol se afoga
É o jardim onde te abraço fora de horas
o tempo é muito pouco, pois nem se agarra
é para quem tem asas e abandona o corpo
o tempo não é princípio nem o fim da linha
é o nascer constante de um amor profundo.


manuel feliciano

A realidade é só ilusão

Diz-me que não! que este corpo não é mentira
Que esta rua não é um canal em Veneza
que estes pés não andam em cima da corda bamba
e que estas mãos não são flores no pó da terra
onde mil homens andam a colher laranjas
sem cordas que os prendem pelo pescoço
que se escaparam desta prisão já sem ferros
destas hienas que mordem e não se vêem
vamos fugir sem pernas do agora em delírio
que eu faço da traça a coragem desmedida
não quero mapas que há caminhos sem destino
dá-me a outra parte do resto que ainda me falta
não quero comer o pouco ou nada que a vida quer
digo aos meus olhos voem e sejam borboletas
danço um tango com o corpo jogado fora
planto ervilhas fora da órbita deste mundo
como talhadas de melancia na luz da lua
e lanço sementes sobre sonhos cobertos de areia
onde a morte é véu de um beijo de um eterno gozo
não me procures que a minha alma não tem registo
só sou uma pedra dura e fria com alma de anjo.



manuel feliciano

8.14.2010

Ana Free

Querida Ana Free eu gostava que esta mensagem te chegasse, deixa-me voar nessa voz, faz-me sentir tão bem, e acreditar que há anjos na terra na trilha da tua voz, cheia de aves e amoras, hum que fome, e afinal só sou de vento!!! que menina com alma de mulher.


Para cantora ana free.

http://www.youtube.com/watch?v=acqP596117Q


manuel feliciano

Colhamos os anjos

Só estamos no início da linha
mas que importa se o orvalho a apaga
e vamos mesmo a qualquer hora
com ouro sonhos e cristais
e que estação é aquela?
que por jeito não sonhei
afinal quem é que eu sou?
que resposta tenho eu
os pés no chão é tão pouco
e os telhados de vidro
nem sequer aguentam a chuva
saiamos dentro de nós
bebamos a luz do céu
por ventura que terra é esta?
em que temos medo de nós
colhamos somente os anjos
desamarremos degredos
porque na trilha da terra
estamos completamente sós.



manuel feliciano

A terra da fantasia

Tu que beijaste
como quem aperta o mundo
como quem diz tenho o que quero
és capa vip na revista cor de rosa
cuspiste ao pobre
e abraçaste dez mil homens
e ainda por cima ainda embandeiraste em arco
riste da puta e foste mulher concubina
compraste o amor
com o teu corpo tentação
corpo de anjo injectado no diabo
és mulher fashion em paris londres e o mundo
olha que aqui tudo o que tens é lenha ardida
olha que o pó deixa-nos a cara perfeita
o mais bonito não se destingue do feio
por mais que apertes
afinal tudo te foge
e até hoje eu não sei se ainda beijaste
aqui é à terra da senhora fantasia
e no final os deuses só te espreitam a alma!




manuel feliciano

Os restos do sol na terra

vamos comer os restos do sol na terra
rasgar os corpos e sermos dois vaga-lumes
dizer à noite que a manhã é sempre perfeita
que não há portas que fechem as nossas almas
todos os nãos são árvores que abrem os ramos
que andar só é uma avenida cheia de gente
que ainda que doa mil anjos se abrem no peito
o gelo é pouco quando os deuses nos habitam
que a estrada curta não tem fim aqui na terra
e é no Outono que somos sempre a Primavera
que as mãos vazias são um mar cheio de sonhos
que a imperfeição é uma eira cheia de trigo
porque nem sempre o homem tem fome de pão
porque nem sempre é com o corpo que dançamos
e é no que falta que semente nos leva longe
no céu azul que alguém nos guarda a eternidade
não tenhas medo que a chuva apague o teu cigarro
Porque é no nada que os deuses nos mostram a luz!


manuel feliciano

8.13.2010

Amor interplanetário

hoje quero a eternidade e desaguar no azul teu colo
é de verão estamos debaixo de uma figueira à fresca
sabes é tão bom sentir os teus deuses na ausência
de nossos beijos como figos brotando pingos de mel
quero que saibas que nunca chorei de amores por ti
eu não preciso nem de figos,nem de rios,e figueiras
Tudo existe na minha essência antes mesmo de ter nascido
tu és-me e queimas-me a pele mas isso não é tormento
mas achas que eu ia sofrer se eu sempre te tive ao colo?
lambi pingos de chuva contigo na pele suave do Inverno
sabes o que é sentir-me parte integra dos teus suspiros
aliviar-te as feridas até que me doas menos sem chuva
matéria e alma de cada movimento de translação do teu ser?
não importa se a figueira tem figos e há sombra para os dois
eu desaguo-te como um rio sem sequer me sentires e tocares
ouço-te sempre antes de entregrares o teu corpo ao sono
nunca me poderias ser perda beliscas-me a qualquer distância
giras à volta de mim como a terra em torno do sol e isso é tudo!



manuel feliciano

8.12.2010

Os deuses sabem o que fazem

O deuses sabem aquilo que fazem
quando as searas estão maduras
prontas para os apanhadores
ao doente, ao pobre, ao rico
a terra é uma viagem mas não és o capitão
que nos leva ao destino
os deuses sabem aquilo que fazem
quando as árvores parem os primeiros frutos
quando as estrelas já deram todas as suas mãos
no seu fulgor iluminando a escuridão
ninguém vai para o degredo
vamos rumo ao além
não importa quando o barco atraque
lá não tens patrões nem empregados
ou gente sobrevivendo
o inverno fica para quem não pediu perdão
para quem quis subir e trazer o fraque nas costas
porque isso é rejeitar a pobreza e a humildade
e a Primavera faz questão de não perder as flores
nem tão pouco vem o Outono para nos levar as folhas!



manuel feliciano

Ao universo

tiveste a sorte de fazer parte
do milagre que é a vida
deixaram-te um jardim cheio de frutos
sem nunca teres pedido nada
deram-te tudo gratuitamente por amor
e não pagaste estadia
então não te lamentes!
já estares aqui foi uma bela dádiva
Se vieste do nada, e para o nada vais
isso faz todo o sentido
à terra o que é da terra
e o que é dos céus, desfaz-se em vida
toma a tua cruz, e vai em frente
o nada é uma bela Primavera|


manuel feliciano

No mundo em que vivo

No mundo em que vivo a única perfeição é os sonhos
enquanto cada qual atravessa árvores com os ossos quebrados
será que os deuses neste mundo se esqueceram de alguma coisa?
os deuses e os homens já sabiam destes perigos
de que a mente vive no limite da própria esquizofrenia
a alma aqui em baixo querem-na para deitar à lixeira
enquanto que o corpo o compram se for bem delineado
e quando aqui chegamos a terra já estava amaldiçoada
foi o adão que estragou tudo ao não resistir à maçã
a sua alma não queria mas os olhos são o próprio pecado!
será o diabo que governa no corpo dá mulher com mini-saia?
coitadas das mulheres sempre associadas ao diabo [...]
a passear-se pelos homens que só são meros cadáveres
e as crianças que já nascem aleijadas neste belo degredo?
ah já sei. trouxeram os pecados de toda a sua prole consigo
eu sou um mero pecador a olhar este jardim de defuntos
nem sequer sou dono de mim fui preso logo aos dez anos
nas paredes de um hospital e eu tive que sair com pude
mas o corpo por lá ficou acente em cima de uma maca
ainda sou um sobrevivente e como homem cometi os meus pecados
não digo que pecar seja o rémedeo para o meu desassossego
quem sou eu para me opor aos deuses se só sou zero no cosmos
perdoai-me deuses do Olimpo por ter abordado tal inferno!



manuel feliciano

8.11.2010

Sobre as areias brancas daquela praia[...]

sobre as areias brancas daquela praia
foi onde eu nasci e vivi numa cabana de palha
como deves perceber um lugar em nada seguro
com homens e mulheres de todos os credos
que acharam que não foi aí que plantaram a vida
mas antes num belo e seguro rochedo numa fashion city
tinha altas palmeiras e homens e mulheres nús
mas houve quem pensou ter andado sempre vestido
e todos os sonhos foi na areia, que afinal os plantamos
uns comiam altos manjares e outros só o vento
depois há horas em que há a preia - mar vem buscar tudo
na hora em que o mar sobe não te pergunta a idade
e o espaço fica apertado e vamos mar adentro
à espera que as sereias nos levem pelas mãos
e nos conduzam talvez para algum lugar eterno!



manuel feliciano

sou pagão, perfeitamente pagão

sou pagão, perfeitamente pagão
eu amo vários deuses
os rios, os mares, as montanhas
uma flor num jardim
e um pássaro num ninho
a força do sol e da lua
e as abelhas construindo os favos
bastam-me estas evidências
que as sinto a correr nas veias
que são da grandeza dos deuses
não me importa se vivem no Olimpo
este altar sagrado basta-me
das formigas uma a uma no carreiro
sem perguntas e sem lamentos
este são os únicos Deuses
que me falam em silêncio
são visíveis e têm rosto
Eu nas coisas e as coisas em mim
frágeis e imperfeitos agora
enquanto o corpo é casa única.


manuel feliciano

8.10.2010

O quanto um olhar esconde

Por dentro dos seus olhos concavos do céu
Os olhos da Primavera cantam-lhe em pássaros
O rio Paraná parece correr-lhe por entre os braços
E a sua cara de lua Cheia dá de beber água às almas
Na sua paz aparente, os seus cabelos, qual árvore nidificada?
E os seus seios são aves que escondem mistérios da vida
Sorri com seus dentes alvos, mas quantas vezes é só chuva?
Enquanto engulo o pó da estrada e voo mesmo sem asas
Por dentro os seus olhos têm o sangue do negro da Senzala
A guerra do Vietname é uma flor em rebento na garganta
As mães da Palestina choram-lhe os filhos - bomba nos seios
A Bomba de heroshima deixou-a orfã dos seus sonhos
As suas mãos tão quentes tomou-as um soldado da guerra fria
De que vale o amor se o muro de Berlim ainda permanece
E o holocausto é a paisagem que lhe dão para um pic-nic.


manuel feliciano

Os nossos políticos são foda

Vivo miseravelmente num país que protege os ladrões de elite, que não apoia a cultura, que não tem políticas de fundo para o proletariado, que tem um nível de vida inflacionado entre o rendimento de que dispõe e o preço dos bens de consumo que podem ser adquiridos com esse rendimento, e por ventura um deficiente, é um ser sem voz automaticamente excluído, isto para não dizer, que instituiram em Portugal uma visão profundamente sectária, e uma sociedade avant-emmerdé, elitista mas sem consciência colectiva de um povo, safe-se quem puder, sei que vou ser punido pelo que digo, por que dá jeito haver portugueses com as mãos nos bolsos!


Foda-se a democracia do meu país.

Disse: manuel feliciano

Um nada que é tudo!

Quem me quiser visitar estou por cima da campa
Por baixo estão aqueles vivos, mas que nunca nasceram
Não me tragam camélias e flores das mais bonitas
Deixam-nas viver também no seu sagrado tempo
Tragam-me champagne e bebamos à eternidade da vida
Cometi os meus pecados porque há dias que a carne chora
Em que te pedem o corpo e só levas a alma nas mãos
E outros em que te pedem a alma e afinal só tens o corpo
Mas não me arrependi de não ter construido casas
De não ter um cargo de chefia num business center
Isso ficou para os homens daqueles de faz de conta
Amei- fodi - e errei, mas não embandeirei em arco
Há dias em que a sede é tanta que bebemos água com lodo
Não fui mais do que nada e para o nada voltei
De que me valia a casa - mulher - ser pai com os meus filhos
Quantos casas eu não tive e quantas mulheres não amei?
As mulheres que mais amei foram as que me abandonaram
E as que mais me amaram ainda hoje esperam por mim
E só me doeram na alma porque amar é ser escravo!
Tudo aquilo que nunca tive acho que nunca me faltou...
O meu coração é leve, mas só me aleija quem eu quero
Deixei de chorar por não ter, porque afinal quem é que tem?



manuel feliciano

8.09.2010

Apontamento

Gostaria de dizer que a minha poesia é arte e, que qualquer coincidência com a minha biografia, ou com os meus valores, é mera ficção ou não, pois a minha escrita visa meramente fazer pensar, mas fazê-lo em profundidade, algo que hoje quase ninguém faz, e além disso chocar essas carinhas de pau, que coram mas só da barriga para baixo, mas que na medida em que a criação se dá, nada de plágios sou eu o autor, mas tudo o que digo passa a ter vida própria.



Manuel Feliciano

Só sou um fantasma

horas a fio à espera do barco
passeei-me por Lisboa
sentei-me por jardins
vi mulheres esguias
daquelas que são de barro
outras em bancos de pernas cruzadas
homens que trocam uma hora por um dia
e ratos de esgoto com fraque e gravata
uns pediam esmola nas esquinas da vida
e alguns desejaram que o dia não nascesse
e na hora de entrar no cais da saudade
homens choravam com lágrimas de medo
como quem vai para o degredo
e eu sorrindo no cais para voltar para o útero
estavamos todos ali
debaixo do mesmo tecto
olhei para os telhados de casas e carros
afinal para quê se eram feitos de neve
nem sequer me viram
eu era só nevoeiro
não houve sequer quem me pedisse bilhete
para Manzanillo Terminal no Panama que é tão longe
que afinal é tão perto e fica a um supiro de nada.


manuel feliciano

8.08.2010

Vamos celebrar o dia enquanto está sol

Vamos celebrar o dia enquanto está sol
canta com os dedos o milagre da vida
e bebamos com gosto esta bebedeira de sonhos
o quanto é sagrado a abelha beijando a flor
e o passarinho fazendo o ninho na laranjeira
só pode ser dos anjos essa sagrada eucaristia
tenhos os pés gelados mas o prazer da vida
é mais forte que a dor que sangra na Primavera
vamos antes que o crude no Novo México turbe as águas
E da escuridão que dura se tenha que fazer dia
mas muito mais que isso demos que é essa a única casa
Que o pó nem no verão mais seco a alma pode inundar
os nossos olhos nunca percam a visão
e o coração não seja uma estrela perdida
e nosso amor não morra antes que Deus nos leve desta vida
Nós somos um tudo que é feito de nada
mas que ao ser tudo ao nada já não volta
meu amor esquece o mundo que até a tempestade não é um acaso
é para que não duvidemos que as lágrimas são escutadas
e do outro lado não tenhamos que chorar eternamente.



manuel feliciano

8.07.2010

Quem me deu este lugar

Quem me deu este lugar
que eu não reconheço as casas
feitas de madeira e caruncho
quem me deu a maçã de adão
que estava podre por dentro
quem me disse navega pelo monte
num barco de calhaus de pedra
quem me apresentou o Job
e me deu vinagre por vinho
quem foi o judas que me traiu
quem me pregou num madeiro
tornou meu corpo num degelo
quem me deu uma mulher
burguesa de luvas brancas
que afinal é a espondilite
mas que ama com ternura
mas não está à minha altura
é uma bela cafetina
quem rasgou a minha agenda
quem me cuspiu no amor
quem é que inventou a liberdade?
quem me desfeitiou o Eu
quem me prendeu mesmo sem cordas
e me trocou todas as voltas?
já não tenho sim nem não
já ninguém me acredita
deixa-me me ir envenenar
no jardim da minha infância
há fome e sapatos rotos
mas isso é uma alegria
e flores a brotar nas lágrimas
olha um campo de flores em frente
prados verdes e passarinhos
corro atrás de borboletas
voo sem corpo e sem alcance
bebo o azul do céu em sumo
mil anjos falam comigo
a morte nunca existiu
vai-se para casinhas no céu
que fizeram aos meus olhos
que hoje quase não vêem.

manuel feliciano

8.06.2010

Hielo

Hielo


¿Serán los bloques de hielo
De glaciares que se van deshaciendo
Los que conservan las brasas
De amores que ya se apagaron?


¿Serán los hielos duros y fríos
que forman iglús de amores secretos
los que dejan arder el deseo
y derriten el placer de los anhelos?


¿Será el deshielo de los hombres
quien inunde a la condenada Venecia
y en las aguas crecidas se vislumbren
ahogadas, perdidas, solas y malditas,
las brasas?


Publicado por Olga Delgado en 21:43

Una mañana sin vuelos

Una mañana sin vuelos
El frío empezó por el estómago,
En una mañana sin vuelos.
La culpa, la tuvo un volcán.

Era un buen cartógrafo
Limitando el alcance de los celos
Pero nunca fue un buen capitán.

En la sala de espera sin horas
Resuena en mi mente la misma pregunta
¿Quién decidió mis sueños?
¿Quién mató las pasiones?
¿Quién puso en hora los deseos?
¿Son los dueños de la pasión difunta
Los mismos que me inyectaron
Un amor con convulsiones?
Nunca supe donde está el presente
Ni sabré encontrar el futuro.

Por megafonía anuncian incertidumbre.

Espero en la quietud reciente
Del movimiento imprevisto,
Luchando por no rebelarme ni pensar,
Ajena a la insoportable responsabilidad
De elegir el momento más apropiado
Para gastar los minutos.

Yo también dejé,
En una tarde de abril,
de usar reloj.
Algún día también,
Dejaré de esperar.

Publicado por Olga Delgado


Que belo poema: manuel feliciano

Nunca te perdi

Se a vida secou os ramos onde pousamos
Se o sol queimou as flores que eu te dei
Se a vida nas suas voltas nos trocou o fado
E a noite sem estrelas foi somente o que nos deu
Olha que o tanto que ainda não te dei é póstumo
há-de renascer por entre os jardins dos céus
Porque eu dei tudo e cantei nas asas de condores
Se a chuva destroçou a casa da minha alma
Eu não virei areia e fui muito mais que um anjo
Eu não culpei os deuses e caminhei sem pernas
Agora o teu sorriso abre-se na minha boca
Semeia árvores e rios na escurdidão sem lume
Que os dedos das tuas mãos da noite me abrigaram
agora sou barco de brisa no azul das tuas veias
E o pó com que os deuses criaram este cosmus
E a sede lamentando nos gomos em sangue na tua boca
Sou o princípio sem fim e criança dormindo no teu colo
Que aguarda o teu seio como a terra o sol na manhã
Somos mais que irmãos e imortais sem o fim no horizonte
Tecido da tua alma e a origem da força transcendente
Amor eu estou com fome e vou colher frutos nos teus cabelos
Descansemos em paz que não há lonjura que me pertube
Se só somos um todo que há tantos anos os deuses criaram
Não choremos como loucos tu és-me a parte que não tenho!



manuel feliciano

El Tajo es ahora todo mío

El Tajo es ahora todo mío


El Tajo es ahora todo mío
En la desembocadura.
Desde las pequeñas olas
Que se forman frente a Dafundo
Hasta el otro lado del río.


Molestará a algunos
Otros quedarán indiferentes
No importa la gente
No importa el mundo
El Tajo es ahora todo mío
En la desembocadura.


En la mañana oscura
De niebla, calima y pies fríos,
Controlo el tráfico fluvial
De barcos en los que no navego.


Ayer casi lloré
Al sobrevolar la marginal
Bañada de fuego.
El estómago me preguntó
Si el avión
No se habría equivocado
De destino.


Mis padres no eran catalanes
Y eso no me impidió
Que yo lo fuera.


Mientras a otros les retuerce
El dolor y la injusticia,
Yo no puedo quejarme,
Yo lo tengo todo,
Hasta el Tajo es mío ahora
En la desembocadura.


Lo tengo todo,
Todo menos mi tierra,
Todo menos mi gente,
Todo menos un camino
Que me convenza
Para seguir,
Seguir enfrente.


Publicado por Olga Delgado en 17:33


Da minha amiga poetisa de Barcelona em terras portuguesas Olga Delgado, és grande, amo a tua escrita, um dia serás do mundo.

Uma unha do meu mundo

Escrevo poesia compulsivamente quando estou com uma boa vibração de energia,adoro os poetas e escritores de Portugal e do mundo, fico feliz que me leiam e me elogiem, afinal escrevo para me dar em pão e sol ao mundo, a ti que me lês, não me envaideço, às vezes tenho que ter a excentricidade suficiente para sobrevoar o fogo...há melgas que querem derrubar cavalos, mas eu abro-lhes os braços, e elas passam ao lado, vai-te embora ó melga!!!


manuel feliciano

Dei os meus olhos às borboletas



Dei os meus olhos cansados às asas das borboletas
Assim elas vão pousar com alegria nas flores
Polinizando as dores sem tristezas e lamentos
Sem deixar para o amanhã a taça da felicidade
Voando como duas crianças com alegria sem tempo
Beber no azul do céu cada anjo que sempre nos corre
Semeando palavras sem medo com as suas asas ao vento
Correndo de flor em flor sem por em questão a vida
Aceitando o bem e o mal sem descerem aos infernos
Sem tocarem a arrôgancia que as leis do mundo provocam
Morrendo a cada dia felizes como quem nasce para sempre
Oferecendo o dia que finda à natureza Deusa mãe!


manuel feliciano

8.05.2010

Ofereçam-me o Cd da Paula Fernandes

http://www.musica-portuguesa-gratis.com/Paula.Fernandes.htm

Cante para mim musa da melodia dos pássaros e das palavras sussurantes das pétalas, eu quero alvorecer nas nuvens sedosas da tua voz ,com palavras com sabor a flores. Vá amigos brasileiros ofereçam-me esse presentinho, já é um crime a Ana Carolina não cantar para mim, não ter ido ao concerto da Vanessa da Mata em Lisboa, e ainda amar essa voz mágica sem que ela me possa adormecer num jardim num remexer de águas e árvores dançantes.


Cante para mim Paula Fernandes e me arrepia com a sua voz, quero sentir esse Outono sangrando na minha alma cheio de cores. Estou triste ainda não consegui escrever o poema da minha vida, são estas musas que me tornam pequeno.

Teu fã incondicional Paula Fernandes
manuel feliciano

In veritas

Não tenho que me justificar se sou poeta ou não sou poeta
Ou se sou um avião sobrevoando sem asas
Cidades por entre as algemas do tempo
Tão pouco eu sou poeta pela mera opinião alheia
Sou aquilo que sou com os meus defeitos e virtudes
Não me alimento do quintal do vizinho
Ó filho queres alfaces foram-se todas com a chuva
Eu nem tenho sequer quaisquer dúvidas
Que já não se anda de porta em porta dando-se tigelas de sopa
A quem anda como um cão comendo sonhos nas esquinas
E olha que ultimamente é melhor passar fome
Que vender o que há na alma por meia dúzia de notas.


manuel feliciano

Duas palavras a Fernando Pessoa

Nem me chego muito a ti
Na tua catedral de palavras
O mar envolve-me por todo
E eu só sou um mero mosquito
De ti eu sou a impaciência
O tédio da vida e um barco no poente
Eu acho que ainda hoje não sabem
Que escreveste uma cidade em carne viva
E que em vida foste um defunto
O que puseste a morte em causa
Embora cambaleaste o que é próprio
De um ser humano com humildade
Que nem tudo sabe de si
Que nem tudo sabe do mundo
E fica naquele intermédio
A tocar os pés dos anjos
Se no lugar do coração colotaste uma lata velha
É porque aqui dói de verdade
Neste teatro do ser
E que nas verdadeiras tempestades
Quistes saber o que é mundo
Por isso não encomendaste o sol
Quando os teus pés estavam gelados
Porém, eras o bastante para apanhar flores na chuva
Eu sei que te riste com a aparência
Tu questionaste será que eu estou vivo?
Embora soubeste ressuscistar a aldeia da tua infância
Para fugires a este abismo do pó que se impregna no corpo
Neste absurdo que dói de nunca se matar a sede
De andarmos sempre para aqui como se fôssemos algo
E decidissemos o amanhã com um telefonema urgente
Mas ainda bem que soubeste brincar ao esconde-esconde
Só ainda não entendi porque te amaram só após a morte
Vou visitar a tua campa e fumar uma cigarrada
Contigo na esplanada da Brasileira a ver passar umas mulheres
Mas olha o esgoto continua o mesmo e as carinhas não mudaram!!!



Manuel Feliciano

8.04.2010

A indiferença

A indiferença não me mata "a alma humana é suja e porca como um ânus"

Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993.
- 159.


Era o que queríeis? o meu pênis ri-se às gargalhadas!!!!


manuel feliciano

Voo cancelado

No aeroporto de Lisboa
a pista estava com as mãos brancas
e o voo cancelado
Lisboa-Lima-Arequipa
o Agosto fervia nas uvas
no mosto ferrado dos lábios
o teu beijo era uma alvorada
que me levava direito ao céu
e pisavamos os andes
em luzes trémulas dentro de mim
no altar da minha aldeia
com flores cortadas para que?
eu ardia gelado de frio
e Ela vinha vestida de noiva
desciamos Paucarpata
eramos noivos numa igreja
e cantavam estrelas cadentes
esganei o aeroporto
e então despi-me pelos cañones
e pensei em casar-me contigo
com lábios que não encontrei
saimos para comermos na lua
um prato de Ceviche
e bebemos enquanto houve
pela cúpula das flores
aquilo que o mundo nos negou
casas feitas de emoções
contudo a alma é minha
e essa é feita da tua
com fontes que jorram luares
e arrasam mil desertos
embora o maior seja o da alma
eu não vim do pó da valeta
por isso não temo o amanhã
a vida é o sempre para sempre
tu és-me alfa e ómega
beija-me sem medo e morte
dança esta valsa comigo
de uvas maduras no cio
transpirando todo o seu mosto
bebido no sumo das bocas
olha que não há a fim do mundo
só morre aquilo que não dás!


manuel feliciano

se não me amam é indiferente

Se me amam
ou não me amam
para mim é indiferente
o mundo é uma cona
com o coração ausente
a neve a mim aquece-me
o sol é uma doce chuva
e as árvores são os meus mares
e as minhas melhores mulheres
foi as que nunca tive
mas dizem que ainda me amam
que interessa se tudo é poeira
Eu quero é comer a maçã
oh que cona que bebedeira
que a terra consumirá...
se me amam
ou não me amam
dança comigo em pó
em matéria rarefeita
nem necessitamos das mãos
que gozo beber sem os lábios
o importante sou eu por dentro
em mil orgasmos no espaço
esse que a terra não mama
de certeza o meu caralho!


manuel feliciano

8.03.2010

Desperta país

o meu povo está castrado
com o soníforo da bola
e o ópio da tourada
com a imagem da mulher boa
na tv publicitando
pensando que as coxas são suas
e o bancário asas de rato
mamando o sangue às escuras
num país desigualitário
há foda de dinheiro à balda
entregue aos grandes patrões
que enterram até aos colhões
no cú dos seus empregados
que ficam com nada nas mãos
os políticos aldrabando
com dinheiro tão mal espalhado
alimentava meio mundo
mas é o povinho que paga
no império dos ladrões
nesta nação já sem piça
quem é rei coça os colhões!!!



manuel feliciano



por um Portugal Justo

Amanhã não importa

Quando o orvalho cai
e escreve o seu rosto na terra
há pássaros naquelas palavras
tocando melodias nas almas
murmúrios nas asas de anjos
que ecoam em meu elemento
solar de células cósmicas
que meus olhos não vêem de todo
porque só sou pequena gota
de toda a grandeza celeste
que me interessa se não vejo tudo
se sinto que a chuva me fala
na imensidão do interior
não chove que amanhã é promessa
e o passado nem sequer existiu
e o hoje é só um mero teatro
que se joga com os bolsos vazios
que se apaga com luzes e palmas
cantemos com trago de vinho
mil anos foi só um segundo
e o sol vai vencer esta noite!
sorriam a peça foi boa
colhamos que o amanhã é dos deuses.



manuel feliciano

Ao ferro velho da nação

Tenho vergonha que o meu povo esteja castrado
Adormecido à janela desde manhã ao Pôr-do-sol
Que não tenham a noção de que todos temos direitos
Que a liberdade e o dinheiro sejam só para alguns
Enquanto os bebés-provetas a notas limpam o cú
Que tanto suor gerou na testa dos tristes coitados
Que não saem no jornal nem sequer são os heróis
Olha que isto dá-me pena ser uma nação sem colhões!


Manuel Feliciano


Fico humilhado com tanto ladrão em Portugal, uma verdadeira afronta, disse.

As rosas têm espinhos

Os mediums não têm desejos
não fodem nem se masturbam
não têm dias insuportáveis
não compram carros topo de gama
não são criaturas são criadores


Os mediums são deuses de sabedoria
não têm estômago nem comem
nem fazem uso da sanita
são daqueles anjos que voam
com os pés acentes em si mesmos

Os mediums matam a fome em África
dão pão aos mais pobrezinhos
quando lhes dói a perna gritam
e correm de pronto aos hospitais


Os doentes são filhos do diabo
coitadinhos não rezam nem meditam
são todos vitimas de um karma
ou não professam a nenhum Deus

querem que tenhamos desapego
que nem amemos nem pais nem mães
Que o coração seja uma mera lata
e a consciência deitada aos cães!



manuel feliciano

Para os esotéricos doentes

Meus queridos amigos, o meu blogue não deveria ser um local para deixar recados, mas perante tanta gente que vive compulsivamente de filosofias em prol do ócio, dedicados a ganhar dinheiro à custa da ignorância, eu vou contrariar a lei do “Desapego” tão evocada por essa gente.
Atentem bem, leiam e aprendam alguma coisa com as minhas palavras, mas antes acendam o cérebro, porque é fácil enganar o povo com falsas profecias e anjos sem asas, não querendo contudo discutir a existência de Deus, isso é outro assunto:

Diz assim Manuel Feliciano; não menos que nenhum outro filósofo, curandeiro, exorcista: O homem é um ser eminentemente apegado, aos seus entes queridos, à memória do que guarda, a quem ama, a este apego chama-se apego espiritual, consciência e necessidade do outro, embora cada ser seja um edifício, com uma estrutura própria. Conseguinte, enquanto seres espirituais para os esotérios, ou conscientes e inteligíveis para os ateus, sendo que o conheciemento e a sabedoria são meramente do foro da abstracção, convém que vos explique de uma vez por todas que aqui na terra fomos feitos para amar, ter familia, porque somos seres eminentemente sociais, para além de que, em grande maioria religiosos, e não vi nenhum religioso até hoje desapegado dos seus deuses, ora um homem desapegado, tem boa solução, joga a consciência fora, põe uma lata no coração, vive de si para si e não tem serventia para o mundo; recrimina o doente, o pobre, o homossexual, o mal sucedido na vida, acha-se criador e não criatura e vive da desgraça alheia que na falta da saúde, recorre ao inevitável esoterismo. Querem-me tirar os meus momentos de meditação? Isso é apego, não porque cada qual come a filosofia que quiser, eu como a minha, porque tenho pensamento próprio, eu medito, sou apegado, amo o meu próximo, dou-lhe sopa da minha sopa, não roubo em laboratórios de esóterismo do ócio e de deuses pagãos.

Em segundo lugar, quanto ao apego material, podem-me quebrar os computadores, as máquinas digitais, o meu telemóvel, que eu farto-me de rir, não choro por matéria meus queridos, porque essas casas morrem para sempre e não têm afectos, as outras casas espirituais têm afectos, e não estou convicto que morram para sempre, em suma queridos esotéricos,cada homem com a sua tara, não foi essa a lição que vos deu Cristo, antes pelo contrário, "deixai tudo e segui-me", se me quereis dar provas do vosso amor, além disso mandou-vos semear e dar, porque só assim podeis receber, ora vós que professais o esoterismo, quereis encher carteiras, anjinhos de asas quebradas.

Não concluo, porque não me vergo perante a vossa ignorância, o que é que aprenderam com Madre Teresa de Calcutá? migalhas de pão? eu tenho vergonha da vossa pobreza de espírito, tendes mãos e metei-las no bolso, tendes pés e não andais, vêdes o mundo incorrecto e silenciais, sois como pedro que negou 3 vezes a Cristo, só o fundo da vossa carteira vos interessa, "dai de graça o que recebestes de graça."

Não mereceis a minha humilde sabedoria.


Manuel Feliciano

8.02.2010

Amor eterno

Quem destroçou o meu corpo num tsunami
quem fez dos meus desejos um jardim
quem me prendeu o amor numa gaiola
não sabe que tenho o sol dentro de mim?

Que eu já saltei pelas muralhas do tempo
o meu corpo é estação desactivada
mas tenho o mundo inteiro dentro de mim
as minhas dores são aves de emigração
que as aprendi a libertar com a alma

Morri p'ro mundo mas não aceito a campa rasa
comprei a viagem só de ida e sem regresso
filho de um Deus que não aceita a morte em nada
quem disse que o fim não é só o princípio?
onde eu nasço e colho rosas dentro de ti!



manuel feliciano

Vou mesmo sem mar

A terra está ferida
e os ossos dos desejos quebrados
e eu quero ir mais longe
até ao mais alto céu
porque cá em baixo não há anjos
estamos em hora de ponta
na avenida o trânsito manca
e as leis do meu país
são a verdura do joio
que excomunga o povo
e o manda p'ro caralho
ver o sol à janela
como um veleiro sem vela
deram-me pedras por sol
deram-me pó pela água
e eu vou fumar um cigarro
talvez por cima de uma tumba
porque já estou enterrado
embora minha alma não jaza
porque tu esperas por mim
e os andes são a minha alma
onde lavas os cabelos
alegras-te, choras e ris
eu sigo mesmo em frente
num barco navegando na areia
terei eu que assumir
ser o próprio universo
sem o bicho da madeira
e rir-me da escravatura?



manuel feliciano

Quiero estar desnuda

Quiero estar desnuda


Quiero estar desnuda,
Quitármelo todo,
Hasta las palabras
De Neruda
Que inundaron mi alma
De poesía.


Quiero atravesar
Calles tan vacías
Como mi blog
En estos meses.
Llenarme de agua
De aire y de día
Para alejarme
De la saturación
De las noches
De hiperactiva ambición.


Quiero la mirada
De un mudo que
Reúna todos los sentimientos
Que destrozaron las palabras.


No quiero sentir las telas
Ni escuchar mi nombre
Prefiero ir a la deriva
Y sacrificar las anclas
A no sentirme viva
Al navegar con velas
Movidas eléctricamente.


Quiero la caricia
De un ciego que admira
Impertérritamente
Mi desnudez incolora.


Sin anillos
Sin collares
Y sin ropa
Quiero sentirme
Más yo
Y menos otra
Sentir en la piel
El abrazo del mar
Sin interferencias
Correr por la orilla
Sin guardar confusas
las ilusas apariencias.


Quiero el grito sordo
De quien está solo
E irremediablemente lejano.


Si no hubiera otros poetas
Yo tampoco escribiría.


No quiero estar vestida
Para poder sentir
Desnuda tu mano
En la mía.



Publicado por la poeta Olga Delgado

http://www.itmfw.blogspot.com/

Um pequeno aparte

É verdade que muita gente ama a minha poesia, pessoas essas de vários estratos sociais, desde o mais pequeno ao mais alto, e outros a considerem uma burrice, mas isso para mim só funciona, na medida em que pelo menos não me sinto a escrever em vão, eu escrevo pelo mais alto sentido da liberdade que sinto enquanto homem.

Todavia não planto vaidades, nem embadeiro em arco elogios, nem tão pouco a vida, talvez por ter a consciência da afemeridade do mundo assim como do seu absurdo, o que não quer dizer que não a ame até um certo ponto.

O que me faz uma certa confusão é que andam por aí umas pessoas limpinhas que não gostam que coloquemos a palavra merda na literatura, como se ela não seja um referencial de alguma coisa que está menos bem, e como se ela não exista, por isso sou imune a falsos púdicos, e a minha escrita assim como as minhas palavras não são gratuitas, quem quiser pão de ló, que vá à confeitaria.

A pátria que eu amo, que nada tem a ver com o estado ou governos partidários, mas com vivências, lugares e memórias vai desde o Minho ao Algarve, e ainda por cima andam por aí alguns senhores, que acham que o norte é meramente a cidade do Porto e o resto é paisagem, cidade que devo dizer que amo muito e tenho boas recordações, pois sou um português completo, mas já agora aproveito para dizer, que nós homens do norte, temos a virtude de chamar os bóis pelos nomes, o que não obsta que eu ame com muito orgulho o meu país de norte a sul, e que embora nascido na provincia, tenho um carinho muito especial pelo Porto e Lisboa,cidades que sempre me acolheram muito bem e às quais estou grato, e que a minha cultura é tão somente citadina, embora ame muito o lugar que me viu nascer.



Manuel Feliciano

8.01.2010

Na outra margem rio

Meu amor
depois desta demora
que não fui eu que a escolhi
do outro lado do rio
as águas correm e vão secas
por entre barcos de papel
e aviões de asas quebradas
estradas para lugar nenhum
casas imaginárias
corpos de faz de conta
comboios descarrilados
a genética é mera proxeneta
a ciência é casa inacabada
que não pode contrariar os deuses
a vontade de beijar-te
tornou-se a faixa de Gaza
lugar de difícil acesso
onde a fome é um jardim sem cultivo
rezem por mim por favor
mas não me tragam anjos de barro
tragam-me o princípio sem fim
e a voz de um deus criador
na chuva que cai sobre a terra
Que eu colho-te dentro de mim!



manuel feliciano

Dedicado à actriz Bruna Ferraz


Desce as escadas do céu em melodia de fogo
Na taça de uma flor desata o desejo em carne
Em palavras de saliva despe o fecho desse rio
Acorrentado ao vestido e ao soutien ardendo
Dá-me a beber amor pelo cio dos teus dedos

A terra, a água e os astros, nas pétalas dos teus seios
Nos cantos do meu corpo desperta-me amor e lava
E no fogo do meu pénis cospe a tua flor de seda
Deixa-me ser o álcool consumindo-te o desejo
Incendeia-me a vela na manga da tua boca

Esculpe-me com os s dedos as fúrias de uma hiena
Amansa-me na raiz vermelha dos gomos do teu lago
No violão do teu corpo há talhadas de melancia
Que eu bebo em fios de sumo no luar dos teus cabelos
dança-me a roda da vida nesse teu fogo de água

Cospe-me em fera mordida uma chuva de estrelas
Toco sorrisos de seda na pélvis da tua vulva
E cachoeiras de água na selva do teu pescoço
Que descem até às virilhas eléctricas em choro

Quero-te escrever amor com o meu leite em pétalas
Sossegando o lençol da tua pele em tremura
lambo-te os dedos dos pés em voos ausentes da terra
Sou um cavalo de gozo pastando na tua púbis

Na tua relva agridoce pedaço de céu inflamado
Eu sou flor inebriante lambendo o mel na ilha
Cabeça de sol que abriga e é tempestade
Em trovoadas e chuvas por entre torrentes de gritos
Comendo o além em mistérios do teu céu que leveda.



manuel feliciano

Palavras vermelhas



Cortas-me sem sangue
Com a tua boca de madre silvas
Cálice por onde os deuses bebem
De cristais com licor
Céu em cetim
Pedras em choro
Sabendo-me a carne e a céu
E a um mundo outro
Morde-me e eleva-me
No aconchego do teu vale
De rio, árvores, e ais
Descendo pelo segredo húmido das palavras
Vermelhas, brancas, e cor-de-rosa
Casa escondida onde crianças brincam
Fora do mundo
Como é bom entrar nesse pequeno lugar
Feito do segredo dos teus olhos
Faiscantes de estrelas
Como rolas por cima dos ramos
Água na cascata dos cabelos
Tenho sede
Preciso engolir-te os cabelos
Suicidar-me com eles
por entre lagos e raízes
À velocidade ultra-som
Desfalecer nesses teus gritos
É tão bom, ser brisa dentro de ti
Sentir o teu ofegar, o teu cheiro
Meu interior ser tua fotografia por fora
E recolher-me no teu íntimo
Nessas pétalas de sal
E tomá-las em açúcar numa nuvem branca
Queria que me engolisses como um céu
E inventássemos um mundo
À nossa medida
Se quiseres eu sirvo-te todos os dias
Ser teu escravo será uma pura liberdade
O marfim, o ouro, e os diamantes
Não são para toda gente
Nem sempre são para os melhores
Mas tu és da índole do marfim
Dos diamantes e do ouro
Eu sou um simples trabalhador a dias
Escavando essas minas por um salário baixo
Nem sei se o sol me atribuirá elogios
Porque eu sou das coisas pequenas
Dos lagartos em cima das couves
Por isso
Só uma ave
Muito genuína
Em cima de mim pousaria
No meu estado simples
De quem corre as ruas
Com fogo nas mãos
E eu não sei se queres esse fogo
Que faz parte da tristeza da vida
Ser agricultor morrendo pobre
Mas pondo amor sempre na terra
Onde o teu beijo sangra
Para que o cereal nasça
Eu não sei se me darias sol
Para que a semente desabrochasse
Deixa-me ao menos
Aquecer-te num dia de inverno
E elevar-te numa nuvem ao céu
E esgrimir-te em sois derretendo
Na saliva dos teus sonhos
Habitar a tua eternidade
Em cada recôndito
Em cada dentada de sol
Erguendo-se-te na púbis
Eu ser um teu cordeiro
Pastando-te alegria
O cansaço
E as dores
E fecundá-las em barcos de vento
Sou quem ousa pousar
Sobre os ombros da tua Babel!
Em Línguas feitas de asas de amor.




manuel feliciano

Mar adentro

Deixa que a brisa percorra teus seios
E o mar te leve esse cansaço
Na língua adoçada de minha boca
Entre meus braços gemendo em teu corpo
Desprende os teus olhos e me prende ao teu tronco
Enquanto eu lavo os teus pés dessa guerra
E chupo a canseira e te deixo leve
Desmaiada em orgasmos e o meu pénis lambendo
Nossos corpos descendo pelo luar enrolados
Mastigando o amor na saliva das rosas
Deixa ser-me caule nascendo em tua terra vermelha
Ou chuva em teus cabelos regando a sementeira
Que o último verão queimou quase a promessa
De girassóis dançando na cúpula dos verbos!



Manuel Feliciano