8.22.2010

Quero beber o pó da estrada

Hoje eu só quero beber o pó sagrado da estrada
Que a água do rio é demasiado transparente
E há dias em que eu prefiro andar cego
Caminhar somente com os meus sentimentos
Ver pássaros de barro feitos por um artesão voarem
Apanhar bagos de uvas em cada gota de chuva
Sentar-me numa pedra como na proa de um navio
E ir mesmo por vinhedos na ausência do mar
E com o resto de nuvéns dar pão a pobres com fartura
Porque é que eu quero ver exactamente por fora?
Se nem os deuses suportam viver do lado de fora
Cansam-me as mesmas imagens vertendo sangue
Que belo prazer um dia encoberto de nevoeiro
E o degelo dos castelos que nunca foram castelos
Um copo então de pó aos olhos voltados p'ra dentro!



manuel feliciano

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