Hoje deveria ser
mão que cresce lírio no silêncio do cemitério dos lábios
de pétalas desfolhadas na cara
tão limpa como os seios numa manhã
a desfiar as urnas das nuvens
nos olhos que refazem cálices de amanhã
Contra o corpo gemendo num mar de ternura
as ruas a abrir-se cheias de bocas tão tenras
e das sílabas escorrendo na orla da língua
pedaço de ombro desfeito em pó
a doer como um ramo inteiro a crescer nas cinzas
um fruto de amor sem muralha
A nascer no fogo que molha o pó e é rosa
tão de criança, um inverno onde os pêssegos já choram
um corpo inteiro de mãe, que só conhece os braços!
Manuel Feliciano