7.13.2019

Metamorfose

Metamorfose

Greta
Era de ti o beijo
Do bicho da seda
À borboleta
Em movimentos lentos
Os teus braços velas
Nas ondas do corpo
Cada carícia
Da língua ao pescoço
Asas
Voo
Cativeiro de flores
Gemido
A descer-te pelos ombros
À velocidade do fogo
A reparar-te as ruínas
Dos seios
Pétalas por pétalas
Do verão
À primavera
A luz
A chamar-te
O movimento das ancas
Inóxidadas
A raíz
À regressar à semente
Ao sémen
À púbis
No veludo da carne
Rio estendido
Intermitência
Entre o antes e o depois
O sono
Quarto aberto
O tempo a lamber os frutos
Um Deus na tua carne
A minha boca a gemer-te
Do sumo para a laranja
Da laranja para o arco-íris
Fora do sistema
Na saliva que corta o fogo
Do fogo que ateia a saliva
O limbo
Frémito de ternura
Nas tuas costas
Pernoitadas por dedos aflitos
Insecto que ao beber da flor
É mar a deitar-se no sol
Eixo ininterrupto
Da casa para o trabalho
Da luz que mata a escuridão
E não estorva
No teu corpo labirinto
(In)hóstil
Inteligível
Jardim
Dos cabelos que não emergem
Na brisa
Os nossos lábios
Lenha inconsumível
Cratera
Infinitude
A fechar-me
A abrir-te
A nascer-me
Intocada
Útil
Vai e vem
Regresso a casa.

Manuel Luís Feliciano

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