11.08.2010

Pássaros de água

Que importa que o sol chova nos cabelos
Que os verbos ranjam nos joelhos
Os olhares me esmaguem contra os muros
Os abraços sejam um charco de lama
Os beijos uma fogueira apagada
E eu a morrer de frio
Que os outros tenham pés e não me vejam
Que a lonjura me torne num galho seco
Beijem com o pensamento numa pedra
Se tu vens nessa fragrância de olhares maduros
E fazes-me ver ao longe onde os deuses dormem
Dar frutos onde não existem árvores
Das visões que rasgam o metal do escuro
Resplandecer em tudo o que não tenho
Se a tua sombra tem mais força que o corpo
Se o teu corpo me nasce dentro do mistério
Estou feliz e ainda bem que sou criança
E a realidade é algo que eu desconheço
E à turba exasperada que me faz troça
E eu pisco-lhes o olho esquerdo sem traça
E aponto-lhe um pénis viril com um dedo
Porque sou monte maninho e não me moldo
Às bocas que se derrocam e estão bem altas.


manuel feliciano

Sem comentários:

Enviar um comentário