1.29.2015

Tenho no meu coração o perfume de um mendigo
Que veste as ervas solteiras que nascem nas bermas da estrada
É preciso que as nossas raízes por mais que se alastrem
Voltem sempre ao nosso tronco
E à água que ilumina as nossas bocas
Sejamos ruas, flores, jardins, por vestir 

No fundo da minha tristeza há um pomar
Ainda à espera das tuas mãos cheias de fogo
Que trazem a chuva onde tudo está seco
Sejamos também amor, almas libertas
Asas de pássaros sem chão onde pisar

No meu coração estão todas as rosas por nascer
Tenho as minhas mãos doridas de amor
Da tua voz profunda que nelas corre

Oh minha amada, que as lágrimas que possam chegar
Sejam sempre tuas sementes em meu corpo
Pequeno que jaz à luz de tão mendigo
E tão de amor como o lenço de Verónica em Jesus Cristo
Menstruando aurora de nossas mãos gastas

Dispamos este corpo que já não nos cabe
Sejamos rio que corre sem encontrar o mar
Esqueçamos os olhos que trazem a escuridão às rosas
Sejamos noite de corações iluminados
Árvores de braços abertos ao céu

Que belo é o amor que cresce no chão como erva
ramo que de tão cego se entrega ao pássaro
Quão bela é a semente que voa pelo vento
E não escolhe a boca onde desabrocha o beijo

O verdadeiro amor é aquele que crucifica
E deixa o coração tão leve como as aves 
Dá-me a tua mão limpa com a escuridão dos teus olhos
E vive em meu coração sem a dor do tempo
Do vento seco que cresta as palavras como a areia.

Manuel Feliciano

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