12.04.2010

Contradições

Abro a varanda dos meus olhos
E sento-me dentro de mim
Que nada vêem por fora senão monstros
E a minha consciência
É uma mulher nua muma praia
E o meu cérebro mostra-me ruas improváveis
Todo o desconhecido é um mito
E eu só sou a sombra debaixo
Da promessa de uma árvore
Deixo que o sol abra as portas do meu corpo
E não me batem à porta seres do outro mundo
Nem ninguém invisivel que me abrace
Senão o padeiro para me deixar o pão
E eu não fico espantado com o porquê das coisas
Entalado entre os muros de carne dos meus versos
Como as pedras, as árvores, as montanhas e os mares
As alegrias e as tristezas saem-me pelos pôros em sal
Surreais e surpreendentes coisas do outro mundo
E eu que nasci com a doença de não acreditar em nada
A minha única religião é uma tormenta
E mesmo assim rezo a todos os anjos do céu
Com corações que me sangram nos pulsos
E charcos de lama que transformo em azuis
Quantos seres invento em folhas de papel branco?
Eu que conheci os seres mais lúcidos do mundo
Nunca tive a lucidez do que digo e faço
E tenho todas as dúvidas do mundo se eu existo?
Eu que fiz das dores anjos vestidos de branco
Da folha que cai da árvore seca
Ela deitada nos meus braços sem tempo
Tenho a tristeza de não ter ilusões de namorados
Que pensavam trocar beijos em jardins existências
E que afinal só foram um baú sem nada
Eu não faço parte dos afortunados do mundo
Contento-me com o sorriso que as nuvens me brindam
Não, não tenho a piedade de ver cabelos brancos
Escrever-me cartas de amor nos lençóis
Nem das trovoadas que me rasgaram seres
Tenho é o incómodo de conhecer vários caminhos
E ao fim ao cabo não sei por qual eu vou
Só quando por sonhos todos eles tão reais
Os que são as minhas próprias pernas
E os altares sagrados onde te rezo
É único mistério que todas as coisas me dão!



manuel feliciano

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