Se a vida te renega
Renega também tu a vida
Não faças como eu que ama às escondidas
Por medo
Que acredita que as nuvens são o jardim onde te sentas
Em abraços de tréns dissolvidos
Que nunca chegam
Ahhhhhhhh não grites para que te acudam por pena
Nem sorrias tão pouco por piedade
A vida não te cobra!
Vai por canas de vento sem raízes
Deixa as raízes para os meus olhos
Enviesados na tua talha
Numa torre de papel descrentes
Porque eu só sonho
Da dimensão de orgasmos entre folhas
A atravessar os músculos dormentes
E não creio
Como quem puxa pelos teus cabelos
E te leva a uma boca que te mostra o mundo
Por este fim continuo
De pedras e horizonte
Ahhhhhhhh não faças como eu
Que vai às peras verdes na angúsita de sargaços
Por demência
Ao dorso dos corpos no sol sem bússola
Só de te pensar ausente
Tão perto dos lábios
Morre, morre verdadeiramente
Talvez seja aí que tu respires
Que as estrelas regenerem o vácuo Das bocas ardentes sem sílabas
Nos versos da terra
Nos troncos trémulos de madeira viva
No respirar masturbante dos teus dedos
A estremecer em correntes de espasmos
Da cor da carne
Que despertam as flores para o cio
Na urna da tua boca
Não como eu!
Suspiro húmido de prata e cinza
Que nem morre
Que nem vive!
Árvore de areia
ideia de só ter sido
alguma coisa que não magoasse
Ah morre, morre, morre, se é a vida que tu esperas!
Real e tocável
Da espessura atordoada da bolina de arfares
Enquanto eu só sou as ancas geladas
De um fogo tão de pedra
Natureza por criar!
manuel feliciano
"Suspiro húmido de prata e cinza que nem morre que nem vive,"que nem corre,que nem fica,nem se esvai,nem solidifica,se esgarça e ramifica,e se plasma em nossa tripa.
ResponderEliminarLeitora recente, mas para sempre, o que quer que isso seja, o que quer quer isso dure. Parabéns, Manuel, um grande beijo.