A terra louca e húmida dos ombros
É noite envolta com os tons da carne
Palavras feitas com gotas de saliva
Gritam-me os dedos
Com árvores sem sombras
E longas planicies
Que desaguam na tua boca
E a tua boca estende-se
A ilha afunda-se deliciosamente pelas mãos
Em acordes de peixes
Que sabem a sóís enleados nos seios
Eis todo o eixo da terra em movimento
Pedal das minhas pernas
Na minha alma circular
Escuto-me e tu estás dentro
Agora sei que não há trevas neste cântico
A cada batida cardiaca no fundo do mar
Esplêndido de céu
Ao confim do que a estrela sobeja
Não somos mais de cal
Não somos mais de treva
Solta-se um grito
Não sei mais de ti
Nem de mim
Só dos astros
Só da plumagem macia que abriu todas as pálpebras
Como um navio a a romper os nódulos do silêncio
A carne prolonga-se para fora
Agora sei onde acabo e começo
Agora sei que sou só berço
Numa pedra
Numa pedra a burilar
A bater no dorso de água tépida
Que amadureceu todas as coxas
Relâmpago de Aiiiiiiiiiiiiiii
É esse grito, esse grito num coração ininterrupto
Cheio de asas que se abrem
Que se prolongam em dois pedaços
De sorrisos e láminas
Até aos planaltos da brisa
A eternidade que ferve
Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii
Vertigem de quem se afoga todo em ti
Sangue perfumado de abraços
Flor que encendeia todo o sono
De almas em pernas de animais!
manuel feliciano
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