10.19.2010

(Em memória de Deus)

A Fernando Pessoa

(Em memória de Deus)


Senhor, de quem sou só sombra
De quem o sol é húmus
De quem a chuva é lua
De quem a neve é fogo
E a água uma ave na árvore
O mundo uma ferida na garganta
Na tua presença ausente
Faz com que tudo o que eu crie
Seja a tua consciência
Ligada à sensibilidade dos meus dedos
De um bom filho para um pai
Limpa-me a alma para que te sinta
No que em mim há de mais fértil
Os meus sonhos sejam matéria
E o meu pensamento marinheiros
E a espera não me doa
Com os pés dentro da lama
Dá lume por ventura aos meus passos
Para iluminar almas sem gente
Deixa-me ser pão em esfomeados
Ser-te servo é-me toda a liberdade!

manuel feliciano

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