10.04.2010

Viagem imóvel

Na cama imóvel do quarto
Nas sombras da noite
Com lençóis de espuma
À luz de um candeeiro.

Sou um navio no mar
Viajo entre as paredes
E a janela ao fundo
Corpo estendido sem lastro
Entre o tédio e a loucura.

Enrolo-me no vento
E subo pelas nuvens
Sigo pela esteira firme
Do teu vestido azul
Longe dos invernos
E dos dentes da chuva
A ranger nos ossos da proa.

Lavo a minha alma
Nos rastros dos cabelos
Que ouço na voz húmida
Do amanhecer das pálpebras
Estrangulo a aritmética
E o mundo racional
Com árvores nos dedos.

Abrigo-me no teu útero
E brinco com as mãos
Discretas e invisíveis
para que não acordes.

Beijo-te os pés na brisa
Por que as leis naturais da vida
Quebram-me todos os laços
E eu fico-te sempre nas asas.

Semeio-te tudo o que tenho
Somente com as faces da cara
Para não cansar os lábios
Os campos, as flores, e os ninhos
Que o céu conhece mais que eu.

Não mais que uma azeitona
Que chora num lagar de azeite
Para se oferendar em louvor
Ao amor que eu sinto por ti.




manuel feliciano

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