10.02.2010

Rasguei uma nesga na noite molhada

Rasguei uma nesga na noite molhada
Com dores de um parto
Por entre raios vermelhos de sol
E o inverno a sangrar-me
No corpo e na alma
Enquanto as abelhas
Me polinizavam o sorriso
E a Primavera me acenava sem flores
Gritei toda a minha loucura
Às larvas
E à traça
Onde me deixaram passos na areia
E uma casa sem luz
Que corroem os sonhos
Não fiquei à janela a ver o sol
Quebrei os muros
Com as lágrimas nos dedos
Desbravei o impossível
Florestas de abismos com machados de luz
Com os ossos desfeitos
Mandei foder o diabo
E a puta da sorte
E segui mesmo em frente num barco de gelo
Com a proa quebrada
Pelas ondas do mar aluídas
Na imperfeita paisagem
Em jardins de sangue
Redemoinhos de seios
Fogos que ardem apagados
Desamarrei os braços cortados
E levantei-os ao céu
E cantei o que não tinha
Com os bolsos cheios de pedras e sorrisos
Colhi bem alto no colo de árvores em névoas.



manuel feliciano

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