Amor é estar longe à tua beira
É comer-te maçã sem te trincar
A carne chorando-te de inteira
E aos meus lábios tu dares saciar
Amor é uma árvore a crescer
O perfume dos teus seios a florir
É não saber quem és e te conhecer
E beber da tua chuva a sorrir
Amor é o teu abraço que ainda fica
No meus braços o amor todo por dar
E a minha boca faminta por ti cega
Amor é a minha mão no chão caída
E ao teu canto é flor na primavera
Que colhes com os teus olhos ao passar!
manuel feliciano
11.30.2012
Deixa que ainda não é hora…
Só falta nossa pele ardendo junta
Só falta nossa humidade misturada
Só falta nosso corpo sentir-se céu
Só falta que o desejo vire bruma
Que destroços de navios dêem à costa
Que na garganta haja um tremor de terra
Que uma flor se erga em tua boca
Que a tua lava ardente nos mate
Para sairmos de nós mesmos como luz
Por entre as cinzas que no final deixarmos!
manuel feliciano
Só falta nossa pele ardendo junta
Só falta nossa humidade misturada
Só falta nosso corpo sentir-se céu
Só falta que o desejo vire bruma
Que destroços de navios dêem à costa
Que na garganta haja um tremor de terra
Que uma flor se erga em tua boca
Que a tua lava ardente nos mate
Para sairmos de nós mesmos como luz
Por entre as cinzas que no final deixarmos!
manuel feliciano
11.29.2012
Por ti o meu olhar mesmo que triste
É o teu sorriso maduro num arrozal
Meu frio pomar florido quando partiste
Onda de mar que te desce ao areal
Por ti a minha escravidão é passarinho
O teu silêncio é pêssego que amadurece
Minha tortura é os teus braços com carinho
Que pousam no meu corpo que amanhece
Por ti a noite escura é os teus lábios
O teu suor a correnteza da alegria
Onde a minha boca te bebe embriagada
Por ti a tua ausência é voz macia
Perfume da tua mão a frutos ácidos
Que cai sobre o meu corpo desamparada!
manuel feliciano
É o teu sorriso maduro num arrozal
Meu frio pomar florido quando partiste
Onda de mar que te desce ao areal
Por ti a minha escravidão é passarinho
O teu silêncio é pêssego que amadurece
Minha tortura é os teus braços com carinho
Que pousam no meu corpo que amanhece
Por ti a noite escura é os teus lábios
O teu suor a correnteza da alegria
Onde a minha boca te bebe embriagada
Por ti a tua ausência é voz macia
Perfume da tua mão a frutos ácidos
Que cai sobre o meu corpo desamparada!
manuel feliciano
11.28.2012
Tu sabes que eu sou um ser inacabado meu amor
E ao teu beijo eu sou outro mundo
Que ar tão puro a molhar a areia
Que crianças com caras saudáveis!
Eu deixo de ser só sonho
...Que beijo tão de abelha a pousar na flor
Eu desço-te com os meus lábios
A saber às tuas palavras e pele até ao teu início
A saliva movimenta-se
Os olhos abrem-se como uma roseira sem espinhos
As camas quebram-se
Os hospitais são comidos pelas eras dos nossos dedos
As cadeiras de madeira entram nas árvores
Os nossos braços gemem de ternura e
Cicatrizam a boca a desfazer-se de madura
Que mundo tão real
Como a minha boca chora de amor: Dói de amor
O meu barco ao teu impulso
Como uma brisa limpa de açucenas
A cada grito que se esvai entre os meus lábios e os teus
Semeia-se uma seara na mão de uma criança
O rio abunda e as águas não nos levam
Ouço o teu mar a bater na minha boca. Bebo-te
E os ramos sempre a florir.
manuel feliciano
E ao teu beijo eu sou outro mundo
Que ar tão puro a molhar a areia
Que crianças com caras saudáveis!
Eu deixo de ser só sonho
...Que beijo tão de abelha a pousar na flor
Eu desço-te com os meus lábios
A saber às tuas palavras e pele até ao teu início
A saliva movimenta-se
Os olhos abrem-se como uma roseira sem espinhos
As camas quebram-se
Os hospitais são comidos pelas eras dos nossos dedos
As cadeiras de madeira entram nas árvores
Os nossos braços gemem de ternura e
Cicatrizam a boca a desfazer-se de madura
Que mundo tão real
Como a minha boca chora de amor: Dói de amor
O meu barco ao teu impulso
Como uma brisa limpa de açucenas
A cada grito que se esvai entre os meus lábios e os teus
Semeia-se uma seara na mão de uma criança
O rio abunda e as águas não nos levam
Ouço o teu mar a bater na minha boca. Bebo-te
E os ramos sempre a florir.
manuel feliciano
11.27.2012
Hoje venho anunciar o fim do mundo
Ao olhar quente
Dos meus olhos dentros dos teus
Na brevidade da flores
Colhidas nos teus seios
Pelas minhas mãos
Mãos que entendo e não entendo
Oh céu limpo dos que voltam
Como são felizes os rostos tomando os verdadeiros rostos
As folhas o verdadeiro lugar
Dois velhos à varanda voltando a ser crianças
Há flores a nascer dentros dos pássaros
E pássaros a nascer dentro de nós
Depois as folhas recuperam os sentidos
Nas saliva tremendo na boca
Agora sigo perfeitamente para frente
Canto-te com os meus lábios a roçar as nuvens
Que verdade absoluta
Que feridas tão caladas
Que suspiro de alegria de um cais onde só parto
Do morno do teu pescoço
Agora sei que parto e só fico na infinitude dos teus cabelos
Aperto-te mais que os braços da terra contra mim
E eis o além: O milagre de te amar.
manuel feliciano
Ao olhar quente
Dos meus olhos dentros dos teus
Na brevidade da flores
Colhidas nos teus seios
Pelas minhas mãos
Mãos que entendo e não entendo
Oh céu limpo dos que voltam
Como são felizes os rostos tomando os verdadeiros rostos
As folhas o verdadeiro lugar
Dois velhos à varanda voltando a ser crianças
Há flores a nascer dentros dos pássaros
E pássaros a nascer dentro de nós
Depois as folhas recuperam os sentidos
Nas saliva tremendo na boca
Agora sigo perfeitamente para frente
Canto-te com os meus lábios a roçar as nuvens
Que verdade absoluta
Que feridas tão caladas
Que suspiro de alegria de um cais onde só parto
Do morno do teu pescoço
Agora sei que parto e só fico na infinitude dos teus cabelos
Aperto-te mais que os braços da terra contra mim
E eis o além: O milagre de te amar.
manuel feliciano
11.26.2012
Perdi-te como uma árvore
A sangrar as folhas cheias de ternura
Mas sei que te levo comigo
Para outro lugar. Sei que te amo mais agora
A tua saliva corre nos meus olhos
Há pássaros neste meu choro
E tu és o meu ninho. Sou feliz por te amar.
Ao frio dos teus pés. O meu coração aquece.
Manuel Feliciano
A sangrar as folhas cheias de ternura
Mas sei que te levo comigo
Para outro lugar. Sei que te amo mais agora
A tua saliva corre nos meus olhos
Há pássaros neste meu choro
E tu és o meu ninho. Sou feliz por te amar.
Ao frio dos teus pés. O meu coração aquece.
Manuel Feliciano
11.24.2012
Morde-me o chão de corpos calcinados
De punhos que sangram na garganta
Das pedras em sono
Sinto a estação de todos os homens
Na viagem do tempo
E pinto a pulsação
Das horas nos lábios vermelhos
Do pó onde escuto as vozes em silêncio
É preciso que as pedras pairem
E as crianças nasçam
Doem-me as árvores, as flores, os muros
Os beijos!
Porque sou ponte feita de silêncio em chama
A refazer esses corpos
Que moram neste chão, nestas árvores!
Manuel Feliciano
De punhos que sangram na garganta
Das pedras em sono
Sinto a estação de todos os homens
Na viagem do tempo
E pinto a pulsação
Das horas nos lábios vermelhos
Do pó onde escuto as vozes em silêncio
É preciso que as pedras pairem
E as crianças nasçam
Doem-me as árvores, as flores, os muros
Os beijos!
Porque sou ponte feita de silêncio em chama
A refazer esses corpos
Que moram neste chão, nestas árvores!
Manuel Feliciano
Folhas
Pensas que as folhas caem?
As folhas voam
E estão sempre no mesmo lugar
Como a ti que te amo
Dos cabelos
Aos braços
A tua boca vermelha
É o único chão que provo
Depois de tudo
É mais flor
É mais dia
Como duas mãos que não te agarram
Pela ternura dos ramos
Folha a abrir-se-me no beijo
As folhas não dormem nem morrem
É só assim que te sei.
Manuel Feliciano
As folhas voam
E estão sempre no mesmo lugar
Como a ti que te amo
Dos cabelos
Aos braços
A tua boca vermelha
É o único chão que provo
Depois de tudo
É mais flor
É mais dia
Como duas mãos que não te agarram
Pela ternura dos ramos
Folha a abrir-se-me no beijo
As folhas não dormem nem morrem
É só assim que te sei.
Manuel Feliciano
11.19.2012
Mulher
Mulher tu nasceste
e trouxeste contigo o jardim
Perdido
A ave semeada na boca
O mar a transbordar nos braços
O escuro
O escuro não o trouxeste
Mãe
Amor
Pedra de água que sabe a colo
E a açucena
Ah como dói o sol
E as nuvens nas tuas mãos frescas
Que amparam a rama
Cheia de uvas
Pelos arames dos meus olhos extensos
Em fileiras
Em fileiras
As fileiras são sempre as mesmas
Os teus braços compridos
A minha face vazia
Na planura dos teus dentes
E boca
E o mar sempre à volta
E os barcos amor
Os barcos que não chegam a encostar
Nestes olhos rasos
À vela do teu hálito!
Eu não quero beber-te amor, nunca!
Nem as paisagens
O mundo resume-se a ti
Tu vieste para ficar[...]
Tu és o mundo e a escuridão
Que nada pode contra a tua carne fresca!
Porque Tu és a mãe
E o fogo
Que gera o lugar...
Leva-me ao teu colo que eu quero adormecer
Pelas margens dos teus seios
De trigo quente e dourado
E os pássaros partindo e voltando!
Manuel Feliciano
11.17.2012
A minha mão vazia
Meu amor, Vou dar-te o mais sagrado que tenho
Uma mão vazia
Porém a minha mão vazia
Tem rosas em sangue
Noites feitas de andorinhas
Manhãs bordadas em cristais
E berços onde as crianças são estrelas.
Meu amor, Ainda tens a possibilidade
Dentro da minha mão vazia
Que ela seja pássaro desatando-te nós
Filtro de sal nas tuas lágrimas
O azul suave que te aconchega
Uma flor em pleno nada
A minha mão vazia é uma quantidade de coisas
A Primavera renovada
Na vereda que ardeu...
Uma semente na língua
Escarpando a escuridão
Sente com força a minha mão vazia
Dou-ta e faz dela o que quiseres.
manuel feliciano
Ausência
E quando não te tenho também te tenho
a tua ausência escorre-me em fetos nos olhos
E não te ter é ter-te duas vezes
E quando não te tenho é amor
Porque as coisas existem dentro e fora
Porque as coisas existem mesmo sem boca
E a brisa tem a propulsão do teu corpo
E o mar o eco do teu olhar
As minhas mãos são duas árvores cheias de ti
E as minhas lágrimas são palavras que te chamam
O teu silêncio tem a forma dos teus lábios
Até as águas nos sentem
Até as aves nos cantam
porque quando não te tenho também te tenho
Como a chuva a rasgar as pedras
Como o rio ao encontrar o mar.
manuel feliciano
Jardim desencontrado
Na adolescência eu tive um grande amor
Que vinha comprar rebuçados para nos olharmos
E pelo caminho apanhava figos e não tinha fome
Cortava uvas e não tinha sede
Como uma forma de nos acariciarmos
E porque a voz nos falhava
Quando queríamos dizer amor
As uvas e os figos eram os beijos e as palavras
Que trocamos sem querer
Hoje eu lembro como quem te reencontra
Na loucura de um verão quente
Com as pálpebras bêbedas de sede
A milésimos de cortar a meta
Provei os beijos todos que não demos
e concordo que um grande amor será sempre
Um jardim desencontrado!
manuel feliciano
Mãe
Quando quiseres dizer que me amas: diz mãe
E o coração saber-te-á por inteiro
Não me abraces: diz amor amor em gestação
Depois acaricia o feto e alegra-te
Como uma flor transformada
Com a voz dentro de outra voz.
Não me beijes: Sente a tua barriga em lume
A iluminar-te sem peso
Com o teu corpo vergado
E um pouco mais de ti a estender-se
E o teu eu em outro eu.
E se por ventura chorares
É porque às vezes o choro é uma forma de sorrir profunda
E o amor é um filho dentro da boca
E o umbigo é o rio que nos enlaça
Quando quiseres dizer que me amas: diz mãe
Mas não te esqueças com o mar nos lábios
Porque o amor dói como o sol em carne
O amor é morrer para ser outro.
manuel feliciano
E o coração saber-te-á por inteiro
Não me abraces: diz amor amor em gestação
Depois acaricia o feto e alegra-te
Como uma flor transformada
Com a voz dentro de outra voz.
Não me beijes: Sente a tua barriga em lume
A iluminar-te sem peso
Com o teu corpo vergado
E um pouco mais de ti a estender-se
E o teu eu em outro eu.
E se por ventura chorares
É porque às vezes o choro é uma forma de sorrir profunda
E o amor é um filho dentro da boca
E o umbigo é o rio que nos enlaça
Quando quiseres dizer que me amas: diz mãe
Mas não te esqueças com o mar nos lábios
Porque o amor dói como o sol em carne
O amor é morrer para ser outro.
manuel feliciano
Os teus seios
Os teus seios, ai os teus seios
Redondos como a alma humana
Silenciosos da cor dos gemidos
beijo de mar nos olhos
Curvos com toda a extensão
Escrevem nas lascas dos lábios
A mudez a arder de gozo
E enquanto morro é vale vivo
E enquanto vivo procuro o vale
E as palavras curvas
E os beijos curvos
Que voltam ao mesmo ponto
Ao mesmo olhar
Feito de coxas macias
Qual timbre da chuva na cara
Qual sol a beliscar o arvoredo
É quando a terra deixa de existir
Nos teus seios de ardósia e uvas!
manuel feliciano
Redondos como a alma humana
Silenciosos da cor dos gemidos
beijo de mar nos olhos
Curvos com toda a extensão
Escrevem nas lascas dos lábios
A mudez a arder de gozo
E enquanto morro é vale vivo
E enquanto vivo procuro o vale
E as palavras curvas
E os beijos curvos
Que voltam ao mesmo ponto
Ao mesmo olhar
Feito de coxas macias
Qual timbre da chuva na cara
Qual sol a beliscar o arvoredo
É quando a terra deixa de existir
Nos teus seios de ardósia e uvas!
manuel feliciano
Verão quente
Quero-te mais que a pele do teu corpo
Que o céu quer às estrelas
E é só isso que quero que seja a morte
Sono dinâmico do beijo
O meu amor extremo de outro corpo!
Ah se soubesses como te amar
É ter todos os caminhos sem caminhos
É não conhecer mais o fim
Só o das palavras
Que se alongam
Em raízes de barcos
E não mais se desfazem
Em faces na chuva
Ah se soubesses como tu e eu
Somos o céu
E o que fica para além
Que arranhas com as unhas
Ainda todas por sentir
Sempre por sentir
E já se sentem
Bordadas ao pescoço
Como é belo este assombro
De corda de violão que se estica
Do bico à asa
Do céu ao bico
Neste verão escorrendo em primavera
Com uvas doces cheias do teu grito.
manuel Feliciano
À minha Pátria
Só Tu és a minha terra
O meu idioma.
Eu não sei de que terra sou
Que idioma falo
Quando te beijo – amor
Levanto a neblina
Solto os rios adormecidos
De nuvem sobre os braços
Deito a minha cabeça contra os teus ombros
Bebo luas de trigo nos teus cabelos
Que os meus dedos desfolham
Semeio sêmola de barco nos teus lábios
Sonho o mar que soluça
Na tua garganta – entre duas falésias
E desancoro o túmulo ardente dos pinheiros
A voz molhada de caranguejos e duna
No meu olhar perdido e soberano
Acho-te
vestida de abraços e beijos
Ao clarear da aurora
Desovam-me flores e equinócios de pássaros
Neste país despido
como uma árvore de Inverno
Tu dás todas as flores
Neste bravio de pedra
Que o sol molha nos corais da boca
Tu ainda és o céu
Da minha terra e idioma
O meu amor. A minha Causa.
Manuel Feliciano
O meu idioma.
Eu não sei de que terra sou
Que idioma falo
Quando te beijo – amor
Levanto a neblina
Solto os rios adormecidos
De nuvem sobre os braços
Deito a minha cabeça contra os teus ombros
Bebo luas de trigo nos teus cabelos
Que os meus dedos desfolham
Semeio sêmola de barco nos teus lábios
Sonho o mar que soluça
Na tua garganta – entre duas falésias
E desancoro o túmulo ardente dos pinheiros
A voz molhada de caranguejos e duna
No meu olhar perdido e soberano
Acho-te
vestida de abraços e beijos
Ao clarear da aurora
Desovam-me flores e equinócios de pássaros
Neste país despido
como uma árvore de Inverno
Tu dás todas as flores
Neste bravio de pedra
Que o sol molha nos corais da boca
Tu ainda és o céu
Da minha terra e idioma
O meu amor. A minha Causa.
Manuel Feliciano
Dá-me a mão
e vem comigo
Não há água que molhe o fogo. Nem fogo
Que perfure a água.
Não temas
Bem sei que os teus cabelos
campa desarrumada
Onde me sepulto contigo
São videiras a arder de frio
No vale seco dos meus lábios
Ouço-te muito mais à frente
Do florescer ao rebento
E todo eu no teu útero
Ardemos e não ardemos
Morremos e não morremos
Não temas
És terra de uma outra terra
Céu de um outro céu
Porque o meu corpo e o teu corpo
Palavras em gestação
São bocas por ordenhar
São as que temos e não temos
Dá-me a mão
E vem comigo
Colher com amor as uvas
Não há água que molhe o fogo. Nem fogo
Que perfure a água.
manuel feliciano
Pensas que me podes negar o amor?
Pensas que me podes negar o amor?
Pensarás tu que é um olhar que o justifica
Um pássaro de fogo na garganta
Ah se o amor fosse
Tu quereres ou não quereres
Também o sol não dobraria o escuro
Nem a neve perdoaria ao sol
De a lamber tão de mansinho
Porque enquanto queres e não queres
Eu beijo-te loucamente
Como o luar as uvas
E não me condeno
Porque o amor inunda-me
Dos arrozais dos teus seios
Sem que os canais dos teu braços me reguem
Ah quantas vezes os beijos
Os abraços
E as palavras
São céus que não chegam a ser céus
E mares despidos do azul das línguas
Ah tudo o que te quero falar é amor
Planta que não conhece a terra
Sempre maravilhosamente só
Com todas as estrelas gemendo
Em nossas bocas tão juntas
E porque não tenho carne
Revisto-me da tua carne e não espero
Enquanto os meus olhos vazios são os teus cabelos
manuel Feliciano
Pensarás tu que é um olhar que o justifica
Um pássaro de fogo na garganta
Ah se o amor fosse
Tu quereres ou não quereres
Também o sol não dobraria o escuro
Nem a neve perdoaria ao sol
De a lamber tão de mansinho
Porque enquanto queres e não queres
Eu beijo-te loucamente
Como o luar as uvas
E não me condeno
Porque o amor inunda-me
Dos arrozais dos teus seios
Sem que os canais dos teu braços me reguem
Ah quantas vezes os beijos
Os abraços
E as palavras
São céus que não chegam a ser céus
E mares despidos do azul das línguas
Ah tudo o que te quero falar é amor
Planta que não conhece a terra
Sempre maravilhosamente só
Com todas as estrelas gemendo
Em nossas bocas tão juntas
E porque não tenho carne
Revisto-me da tua carne e não espero
Enquanto os meus olhos vazios são os teus cabelos
manuel Feliciano
Adão e Eva
Não me digas nada
Quero-te
Jardim despido
Flor
Infecundada
Lábio por lábio
E mãos incriadas
Desvive-me
De pó e Eva
E maçã trincada
Dos joelhos
À boca
Em fios de saliva
E pássaros
De língua
Entre o céu salgado
Sem estrelas
Na minha garganta
Não te prometo Deus
Porque os meus olhos
Não sólidos
Não sabem a maçã
De árvore
Errada
E Sóbria
Da qual me desveneno
Senão aos teus pés
Chão do paraíso!
manuel Feliciano
Quero-te
Jardim despido
Flor
Infecundada
Lábio por lábio
E mãos incriadas
Desvive-me
De pó e Eva
E maçã trincada
Dos joelhos
À boca
Em fios de saliva
E pássaros
De língua
Entre o céu salgado
Sem estrelas
Na minha garganta
Não te prometo Deus
Porque os meus olhos
Não sólidos
Não sabem a maçã
De árvore
Errada
E Sóbria
Da qual me desveneno
Senão aos teus pés
Chão do paraíso!
manuel Feliciano
Tudo o que não fui
Manuel Feliciano – Poeta português contemporâneo e universal
Tudo o que não fui
Eu também fui e sou
Quantas vezes estive perto e não cheguei
A essa flor que tanto me doeu
E porque me doeu
Soube-me à tua boca e sangue
Dentro de tudo o que já secou
E porque secou
Amo-te
Vives-me
E não morreu
Porque sou feito da morte das ervas
De olhos abertos
Nas mãos do mar
E peixes
Que reluzem na escuridão do céu.
De tudo o que faltou
tu és a própria voz
Dentro da minha voz
cheio de gramíneas
que os pássaros tanto querem
e um ninho no coração
E tudo o que não fui
Eu também fui e serei
Criança a abrir a porta do vento
No seio de sua mãe.
Manuel Feliciano
Tudo o que não fui
Eu também fui e sou
Quantas vezes estive perto e não cheguei
A essa flor que tanto me doeu
E porque me doeu
Soube-me à tua boca e sangue
Dentro de tudo o que já secou
E porque secou
Amo-te
Vives-me
E não morreu
Porque sou feito da morte das ervas
De olhos abertos
Nas mãos do mar
E peixes
Que reluzem na escuridão do céu.
De tudo o que faltou
tu és a própria voz
Dentro da minha voz
cheio de gramíneas
que os pássaros tanto querem
e um ninho no coração
E tudo o que não fui
Eu também fui e serei
Criança a abrir a porta do vento
No seio de sua mãe.
Manuel Feliciano
Outono
Nasce-me neste Outono – amor
Deixei de acreditar na primavera
Tenho a boca cheia de febre
Na língua – sobrado do quarto cheio de uvas
Os teus queridos dedos lua morna
Na cabeleira do mar pelo colo
São pregos de carpinteiros entre os beijos
O sol na rima da saliva a naufragar
Eu bem te peço socorro
Mas tu não me ouves
O teu não ouvir é um monte claro
Onde sobejam giestas
E um ninho de palha
No pó da garganta
Um rio no umbigo
Do mar para a montanha
Colho-te maduras peras
Fecho os olhos e morro
Mergulho no precipício
Os teus braços são fundos
Contra as víboras das células – as tuas pernas
Ah as tuas pernas
Sacodem o pó
Desarrumam eixos e a direcção do lume
Porque não são pó
São os meus olhos
Brisa de âmbar sem ferrugem
Geografia inexistente
Na doçura dos dentes
As nuvens estão altas
O coração e a boca. E morrer é mais do que querer
Luz a transbordar o palato
Os dias não chegam. Os dias não bastam
E as flores eclodem para dentro do escuro
É Outono pleno de loucura
Nas minhas unhas reluzem as tuas coxas
E tu nasces-me, tu nasces-me
Tu não sabes morrer
É frio. As tuas mãos queimam-me
Na ininterrupta aurora
A folhagem dos seios remexida pelos melros
É o mar e as árvores que não se lêem
Depois do fim: Cheiro-te a pele- Estou vivo!
manuel Feliciano
Jesus Cristo
Porque te deixaram morrer?
Na voz abrindo-se na folhagem das pedras
As palavras nos ouvidos dourados das areias
O coração sempre do mesmo lado
O pregos no lugar dos dedos
As andorinhas piando na boca
O amor - mãe em carne viva
o meu coração não tem lugar para o teu fim
Pensas que faço uma vénia à múmia do mundo?
Clamo-te - E não te ouço
Num sorriso edificado
As tuas pernas sem mais mar
Uma árvore despida - Barco do teu dorso
Sem as moedas de César
Só espada que nada sabe da ternura
Os lábios que tudo sabem sobre a espada
Que Deus é esse que te mata de amor?
peco
Como eu peco meu Deus
no mais sujo de mim
há uma flor branca
E os teus pés para eu chorar
E cabelos de Madalena
doendo-me no pescoço
Nenhum Deus merece a tua morte
nem a tua palavra
nem o teu rosto
Só amoras nessa ferida tão tenra
na crusta dos olhos
Só os teus pés cansados da terra
A aliviarem-me - os lábios da ceia
de Crianças em eiras de milho
Dobando o mar em corações de papoilas
No beiral dos pássaros
uma árvore à espera da porta da tua mão
Que entre por esta boca tão pouca!
manuel Feliciano
Aos teus pés
PÉS
Sabes que mais
Os teus pés são a minha aldeia florida
Sei que a mémoria desagua nas pedras e nos troncos
E tu tens que estar
Dentro das pedras e dos troncos
Aqui a espera cansa mas não traz a morte
Porque a morte é trazer-te sempre viva
A morte é só quando um homem quer olhá-la de frente
Que me interessa que os rios desaguem nas estrelas
E tu estejas na altura das estrelas
Que me interessa que o mar seja feito desses troncos
Se tu e eu somos feitos disto tudo
A minha aldeia não tem mar
A minha aldeia não tem barcos
Só pedras e árvores floridas
Só silvados cheios de amoras
Na minha voz à margem de um caminho
È sempre um dia a começar à tua procura
Com a certeza que os teus pés são os meus olhos
Com a certeza que os teus pés são a minha alma.
manuel Feliciano
Os olhos da margarida
Nos olhos de margarida
Como uma espada lançada
À Sombra que o sol semeia
Há rios de inocência. A carne é de outro verão
No cimo das folhas
De amarelos pêssegos.
O mar tem outro Sal
que a boca puxa
Nas mãos de areia
As palavras
em cada grão
Na memória do corpo
O Sol chama a montanha
E em ti gera-se o príncipio
A tua pele reveste-me
Com a branca neve que cai
No pólen que a minha garganta atravessa
Num pássaro de névoa
Do barco para a árvore
Da água para a nascente
Vale a pena morrer nos teus olhos margarida.
Manuel Feliciano
Como uma espada lançada
À Sombra que o sol semeia
Há rios de inocência. A carne é de outro verão
No cimo das folhas
De amarelos pêssegos.
O mar tem outro Sal
que a boca puxa
Nas mãos de areia
As palavras
em cada grão
Na memória do corpo
O Sol chama a montanha
E em ti gera-se o príncipio
A tua pele reveste-me
Com a branca neve que cai
No pólen que a minha garganta atravessa
Num pássaro de névoa
Do barco para a árvore
Da água para a nascente
Vale a pena morrer nos teus olhos margarida.
Manuel Feliciano
Carnaval
Por que me fechas os olhos
Enquanto o carnaval passa?
Há tantas ervas moleirinhas
Quando me fechas os olhos
Há moças que abrem todas as paredes
O teu fechar dos olhos
Faz-me cócegas no coração
E as minhas pálpebras
Puti-abertas e cósmicas
Deixam-se semear
Uma luz sideral
De folhas vermelhas
Menstrua-me
Nas matizes do teu campo
Os candeeiros rompem-se
Oh misteriosa luz solar
De clareiras de seios
No fundo da minha covardia
Desfaz-se um fluido de cristal
E de cada vez que não me olhas
Cheira-me a lenha e a forno
Baptizando os meus lábios
Eu ceio do teu vinho
Eu ceio do teu pão
E a agua morre-me na luz da tua boca
Coloco nos meus dedos os aneis do teu olhar
Sobre um fevereiro florido
Para que te vestes de morte?
Um olhar teu
Maior que a dimensão solar
Alaga-me
Dos teus corais
E piamos
Piamos como corvos
No teclado das asas
Tu és uma laje nua…
Da cor da amendoeira
Com que gozamos de orgasmos
E os Deuses dentro de nós
Agora eu sei. Tu fechas os olhos para me aqueceres.
Para sentires o cimo do mar enrolado nas tuas nuvens.
O odorante incenso nas tépidas costas!
Manuel Feliciano
Enquanto o carnaval passa?
Há tantas ervas moleirinhas
Quando me fechas os olhos
Há moças que abrem todas as paredes
O teu fechar dos olhos
Faz-me cócegas no coração
E as minhas pálpebras
Puti-abertas e cósmicas
Deixam-se semear
Uma luz sideral
De folhas vermelhas
Menstrua-me
Nas matizes do teu campo
Os candeeiros rompem-se
Oh misteriosa luz solar
De clareiras de seios
No fundo da minha covardia
Desfaz-se um fluido de cristal
E de cada vez que não me olhas
Cheira-me a lenha e a forno
Baptizando os meus lábios
Eu ceio do teu vinho
Eu ceio do teu pão
E a agua morre-me na luz da tua boca
Coloco nos meus dedos os aneis do teu olhar
Sobre um fevereiro florido
Para que te vestes de morte?
Um olhar teu
Maior que a dimensão solar
Alaga-me
Dos teus corais
E piamos
Piamos como corvos
No teclado das asas
Tu és uma laje nua…
Da cor da amendoeira
Com que gozamos de orgasmos
E os Deuses dentro de nós
Agora eu sei. Tu fechas os olhos para me aqueceres.
Para sentires o cimo do mar enrolado nas tuas nuvens.
O odorante incenso nas tépidas costas!
Manuel Feliciano
As cerejeiras onde vivo
Estão alagadas de flor
Porque morreram de frio
De sorriso a transbordar no rio
Em cada socalco
E pálpebra
Eu não sei do teu grito
Nem do teu Deus
E da chama do teu tronco
Só te sinto
Só te sinto - na lavoura quente
na terra da boca
Ah quantas vezes eu te sinto
Nesse sol que escurece
A tua pele tão branca
O teu sangue que adormece
E em mim sempre acorda
E os teus braços vazios
Varridos de folhas
Colhem o meu deserto
De areias e cactos
De crianças onduladas
vergadas para o céu
Ainda molhado de placenta
Para que quero as palavras mãe?
Se elas não cabem em nenhum lugar
Se elas são feitas de uma noite qualquer
Se todas elas estão mortas
E em mim corre toda a sede
Do perfume do teu seio
Ao cume ofegante das raizes
Senão flor para atravessar o mar
O hálito para dar a vida às folhas secas
E amamentá-las tão verdes
Nos seios e nos olhos
E o mar dentro dos troncos
E os peixes dentro da nossa floresta
Basta-me que ames
Aperta-me a boca amor
Neste Douro Florido
Sem nenhuma palavra como a noite!
Aqui é onde Deus me abre todo o seu útero.
Manuel Feliciano
Estão alagadas de flor
Porque morreram de frio
De sorriso a transbordar no rio
Em cada socalco
E pálpebra
Eu não sei do teu grito
Nem do teu Deus
E da chama do teu tronco
Só te sinto
Só te sinto - na lavoura quente
na terra da boca
Ah quantas vezes eu te sinto
Nesse sol que escurece
A tua pele tão branca
O teu sangue que adormece
E em mim sempre acorda
E os teus braços vazios
Varridos de folhas
Colhem o meu deserto
De areias e cactos
De crianças onduladas
vergadas para o céu
Ainda molhado de placenta
Para que quero as palavras mãe?
Se elas não cabem em nenhum lugar
Se elas são feitas de uma noite qualquer
Se todas elas estão mortas
E em mim corre toda a sede
Do perfume do teu seio
Ao cume ofegante das raizes
Senão flor para atravessar o mar
O hálito para dar a vida às folhas secas
E amamentá-las tão verdes
Nos seios e nos olhos
E o mar dentro dos troncos
E os peixes dentro da nossa floresta
Basta-me que ames
Aperta-me a boca amor
Neste Douro Florido
Sem nenhuma palavra como a noite!
Aqui é onde Deus me abre todo o seu útero.
Manuel Feliciano
O que em ti há de mais feio é uma rosa
Em todo o seu aroma de estrela
Os teus olhos fecham-me
E as flores
Bebem o mel nas abelhas
As pálpebras dos lábios abrem-se
Toda a noite é clara
Na lamúria
De um beijo no seio
Ouve-se o mar
Pleno de gaivotas a nascer no sol
Depois as palavras
Feitas de nuvem
Perfumam as nossas bocas
Que sabem aos teus pés
A semear aves nos lábios
E ninhos em toda a floresta
Onde todo o barco morre
Onde todo o barco nasce
É sempre o que me dizes
Quando não me dizes
O teu não dizer
É um poço de água numa mão
Um fio de cabelo
A descair-te para o colo
Alargar-me a boca
E a minha face rosada
Um deserto
Voltada para os teu dedos
Beduínos
Com trilhas e camelos
Na faina da tua voz
E o que em ti há de mais belo é eu saber
Que o que em ti há de mais feio é uma rosa!
Manuel Feliciano
Em todo o seu aroma de estrela
Os teus olhos fecham-me
E as flores
Bebem o mel nas abelhas
As pálpebras dos lábios abrem-se
Toda a noite é clara
Na lamúria
De um beijo no seio
Ouve-se o mar
Pleno de gaivotas a nascer no sol
Depois as palavras
Feitas de nuvem
Perfumam as nossas bocas
Que sabem aos teus pés
A semear aves nos lábios
E ninhos em toda a floresta
Onde todo o barco morre
Onde todo o barco nasce
É sempre o que me dizes
Quando não me dizes
O teu não dizer
É um poço de água numa mão
Um fio de cabelo
A descair-te para o colo
Alargar-me a boca
E a minha face rosada
Um deserto
Voltada para os teu dedos
Beduínos
Com trilhas e camelos
Na faina da tua voz
E o que em ti há de mais belo é eu saber
Que o que em ti há de mais feio é uma rosa!
Manuel Feliciano
E se eu for. Em aromas de barcos
Pelos teus cabelos ofegantes
E a tua delicada boca. Eu adorar-te-ei sem medo
E se tu. Da terra mais silenciosa
Dos rios adormecidos me disseres:
- Vem por aqui estranhamente. Pelos meus braços
Saliva feita de ponte
O fim do mundo! O mar ausente.
Os lábios transparentes. Nos meus estranhos seios
A tua pele é onde o céu nasce. As ervas se orvalham
O escuro mergulha contra o teu umbigo
No barro que desconhece o corpo: As tuas pernas abrem-se
E o SOL em torno das tuas axilas gira
Na bíblia do teus poros: nos profetas da minha língua
Chove em África e as crianças bebem O Deus Verdadeiro
Não me peças para te adorar só hoje: Tu fazes parte
Da Luz mais secreta do mundo: Aquela que me tem comido a boca
Habitado o sangue! Eu quero ir. Vestido da tua brisa.
Pelo teu corpo absoluto.
Manuel Feliciano
Pelos teus cabelos ofegantes
E a tua delicada boca. Eu adorar-te-ei sem medo
E se tu. Da terra mais silenciosa
Dos rios adormecidos me disseres:
- Vem por aqui estranhamente. Pelos meus braços
Saliva feita de ponte
O fim do mundo! O mar ausente.
Os lábios transparentes. Nos meus estranhos seios
A tua pele é onde o céu nasce. As ervas se orvalham
O escuro mergulha contra o teu umbigo
No barro que desconhece o corpo: As tuas pernas abrem-se
E o SOL em torno das tuas axilas gira
Na bíblia do teus poros: nos profetas da minha língua
Chove em África e as crianças bebem O Deus Verdadeiro
Não me peças para te adorar só hoje: Tu fazes parte
Da Luz mais secreta do mundo: Aquela que me tem comido a boca
Habitado o sangue! Eu quero ir. Vestido da tua brisa.
Pelo teu corpo absoluto.
Manuel Feliciano
11.15.2012
Nenhum poema mais se atreva
Eu sou livre de todas as palavras
De todos os rostos
Definhando em flor
Ainda que meninas de pernas macias
De rostos brancos
Fintem os olhos
E corem no sangue das romãs
Enquanto as mãos gelam de amor
Nenhum poema mais se atreva
Ao orvalho da minha língua
Ao chão do meu corpo
Enquanto eu não for erva
Folha amarela
Um barco a rebentar na árvore
A morte que tu não trazes e o meu beijo em sangue
O fogo desmanche as flores
E volte à origem da saliva
Nenhum poema mais se atreva
Digo-te aconchegado com as minhas mãos na flor da tua pele
E as oliveiras vergadas, quentes, menstruadas
No hálito dos teus cabelos
E os meus olhos dentro dos teus
É noite, sempre noite
E reacendo
Na minha boca a saber a mar! Incómoda
Um dia a entrar no sol e nas gaivotas
O teu cheiro trespassando as névoas
A gemer em teu caís! Depois de mim.
Manuel Feliciano
Eu sou livre de todas as palavras
De todos os rostos
Definhando em flor
Ainda que meninas de pernas macias
De rostos brancos
Fintem os olhos
E corem no sangue das romãs
Enquanto as mãos gelam de amor
Nenhum poema mais se atreva
Ao orvalho da minha língua
Ao chão do meu corpo
Enquanto eu não for erva
Folha amarela
Um barco a rebentar na árvore
A morte que tu não trazes e o meu beijo em sangue
O fogo desmanche as flores
E volte à origem da saliva
Nenhum poema mais se atreva
Digo-te aconchegado com as minhas mãos na flor da tua pele
E as oliveiras vergadas, quentes, menstruadas
No hálito dos teus cabelos
E os meus olhos dentro dos teus
É noite, sempre noite
E reacendo
Na minha boca a saber a mar! Incómoda
Um dia a entrar no sol e nas gaivotas
O teu cheiro trespassando as névoas
A gemer em teu caís! Depois de mim.
Manuel Feliciano
Cheira a mosto as tuas mãos
Quando vais embora
E a tua carne meu amor
Pão de tantas horas
E o teu vinho
A minha garganta plantada do teu tronco
De videira florida
De amor que só nasce
Vou ficar a olhar-te
Porque Embora é uma noite que não chega
Cheia de lábios
E olhos
E o coração que arde
E o orvalho são os nossos beijos
Sem cestos carregados de uvas
Oh não tenho carne para o amor
Nem veias onde o tempo corra para o lagar
Só te sei viver sem fim e lonjura
E palavras de um outro mar
Dou-te as mãos. Nenhum velho morre mais
Nas paredes de uma janela.
Manuel Feliciano
Quando vais embora
E a tua carne meu amor
Pão de tantas horas
E o teu vinho
A minha garganta plantada do teu tronco
De videira florida
De amor que só nasce
Vou ficar a olhar-te
Porque Embora é uma noite que não chega
Cheia de lábios
E olhos
E o coração que arde
E o orvalho são os nossos beijos
Sem cestos carregados de uvas
Oh não tenho carne para o amor
Nem veias onde o tempo corra para o lagar
Só te sei viver sem fim e lonjura
E palavras de um outro mar
Dou-te as mãos. Nenhum velho morre mais
Nas paredes de uma janela.
Manuel Feliciano
Sentado contigo
Ribeiro, corre ainda para trás
Sobe
Lentamente à montanha
Pedra por pedra
O leito é agora que te desço, amor
Os meus pés no teu rio
É cedo muito cedo, amor
Ah nenhuma célula se atreva
Há ternura
Crianças à lareira
Quando o meu olhar sem o teu olhar
Já se sentem
Na minha boca tão fria
O teu tronco pela brisa
Altar ainda tão nú
E as minhas mãos a asseá-lô
A flores tão somente vivas no jardim
Cheias de sede dos pássaros
Morrer é só a beleza
De te dar os meus braços
De cheirar a tua flor
As pétalas já caidas
A refazer os lábios
De uma tarde que não chega
E tudo em flor
As minhas mãos nas tuas
Maçãs que mordemos
E que nos saem da boca
E restam em brasa nos ramos
Rio por inventar na médula dos barcos
O meu rosto ferve
Na saia molhada no mar
O mar
O mar...
Onde está mar?
Que ainda nem existe, amor.
Manuel Feliciano
Sobe
Lentamente à montanha
Pedra por pedra
O leito é agora que te desço, amor
Os meus pés no teu rio
É cedo muito cedo, amor
Ah nenhuma célula se atreva
Há ternura
Crianças à lareira
Quando o meu olhar sem o teu olhar
Já se sentem
Na minha boca tão fria
O teu tronco pela brisa
Altar ainda tão nú
E as minhas mãos a asseá-lô
A flores tão somente vivas no jardim
Cheias de sede dos pássaros
Morrer é só a beleza
De te dar os meus braços
De cheirar a tua flor
As pétalas já caidas
A refazer os lábios
De uma tarde que não chega
E tudo em flor
As minhas mãos nas tuas
Maçãs que mordemos
E que nos saem da boca
E restam em brasa nos ramos
Rio por inventar na médula dos barcos
O meu rosto ferve
Na saia molhada no mar
O mar
O mar...
Onde está mar?
Que ainda nem existe, amor.
Manuel Feliciano
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