As cerejeiras onde vivo
Estão alagadas de flor
Porque morreram de frio
De sorriso a transbordar no rio
Em cada socalco
E pálpebra
Eu não sei do teu grito
Nem do teu Deus
E da chama do teu tronco
Só te sinto
Só te sinto - na lavoura quente
na terra da boca
Ah quantas vezes eu te sinto
Nesse sol que escurece
A tua pele tão branca
O teu sangue que adormece
E em mim sempre acorda
E os teus braços vazios
Varridos de folhas
Colhem o meu deserto
De areias e cactos
De crianças onduladas
vergadas para o céu
Ainda molhado de placenta
Para que quero as palavras mãe?
Se elas não cabem em nenhum lugar
Se elas são feitas de uma noite qualquer
Se todas elas estão mortas
E em mim corre toda a sede
Do perfume do teu seio
Ao cume ofegante das raizes
Senão flor para atravessar o mar
O hálito para dar a vida às folhas secas
E amamentá-las tão verdes
Nos seios e nos olhos
E o mar dentro dos troncos
E os peixes dentro da nossa floresta
Basta-me que ames
Aperta-me a boca amor
Neste Douro Florido
Sem nenhuma palavra como a noite!
Aqui é onde Deus me abre todo o seu útero.
Manuel Feliciano
Bela poesia
ResponderEliminarObrigado pela força que me dá em continuar, muito grato!
ResponderEliminarManuel Feliciano