11.17.2012
Dá-me a mão
e vem comigo
Não há água que molhe o fogo. Nem fogo
Que perfure a água.
Não temas
Bem sei que os teus cabelos
campa desarrumada
Onde me sepulto contigo
São videiras a arder de frio
No vale seco dos meus lábios
Ouço-te muito mais à frente
Do florescer ao rebento
E todo eu no teu útero
Ardemos e não ardemos
Morremos e não morremos
Não temas
És terra de uma outra terra
Céu de um outro céu
Porque o meu corpo e o teu corpo
Palavras em gestação
São bocas por ordenhar
São as que temos e não temos
Dá-me a mão
E vem comigo
Colher com amor as uvas
Não há água que molhe o fogo. Nem fogo
Que perfure a água.
manuel feliciano
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