11.15.2012

Nenhum poema mais se atreva
Eu sou livre de todas as palavras
De todos os rostos
Definhando em flor


Ainda que meninas de pernas macias
De rostos brancos
Fintem os olhos
E corem no sangue das romãs
Enquanto as mãos gelam de amor


Nenhum poema mais se atreva
Ao orvalho da minha língua
Ao chão do meu corpo
Enquanto eu não for erva
Folha amarela
Um barco a rebentar na árvore
A morte que tu não trazes e o meu beijo em sangue
O fogo desmanche as flores
E volte à origem da saliva

Nenhum poema mais se atreva
Digo-te aconchegado com as minhas mãos na flor da tua pele
E as oliveiras vergadas, quentes, menstruadas
No hálito dos teus cabelos

E os meus olhos dentro dos teus
É noite, sempre noite

E reacendo


Na minha boca a saber a mar! Incómoda
Um dia a entrar no sol e nas gaivotas
O teu cheiro trespassando as névoas
A gemer em teu caís! Depois de mim.

Manuel Feliciano

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