Um não meu amor
É quando as estrelas brilham já desfeitas
E o sol amadurece no céu de argila
E o branco da folha se faz corpo
Com cheiro a terra
E gritos incendiados na seda do barco
Que desprendem os cadiados da chuva
E as palavras no cardume das nuvens
Em cálices de dedos entornados
Num um não
Que sabe dos teus braços abertos
No orvalho de carvão Vivo Por mistério E lonjura Sem fim
Em vozes a baloiçar nos braços trémulos das ondas
Com unhas que avivam o desejo nas cinzas
Ainda por arder
Sempre por arder
Todo em árvore
Ainda por me ser
Já florido Cheio de frutos
Verde de infância Num pátio com plantas Ao faz de conta
Onde tudo é conta
E a conta é sempre
Que burilas sem pressa
Ai amor, estás-me a doer: É não morte Num mar de trigo dourado
E um banco sempre connosco sem sombra
Em que nos salvaremos
Porque somos loucos
Sem mais nada Que nos afunde
Como um jardim que atravessa a alma E evita o mármore
Aquele dia em que um não me sabe todo à tua pele sem areia
E a apanha é um ai que ainda desconheço
Que me sabe completamente à tua boca em floresta!
manuel feliciano
5.27.2011
5.21.2011
Água
A água corre
Desprendida das formas
E há sol
E árvores líquidas
Que correm
Em palavras, sonhos e seres
A cada gota
Labial
Que diz tudo sem embaraço
E as pedras
Na laringe da água
Árvore
Fruto
Gesto por ser
E mãos cegamente maduras Disfarçadas
Submissas
Inconscientes Velhas
Náufragas no verbo podre de madeira
A adolar o bolor da lúxuria da imagem
Rendido ao pó que unge toda a cabeça
E os pés no mar em toques de piano
A desviar toda a torrente
É a pedra
O próprio homem
Génio da sua sombra
Alma sem propósito
Servo da riqueza
E a água ? A agua não tropeça
A água… ai como dói esta água pura
A cheirar a alfazema
Num colo de carne
A água que vê tudo
A água que ouve tudo
A água que não disfarça Sem assombro
A água que sente rumo às estrelas
Que as próprias mãos não agarram
E chega bem alto porque se basta.
manuel feliciano
Desprendida das formas
E há sol
E árvores líquidas
Que correm
Em palavras, sonhos e seres
A cada gota
Labial
Que diz tudo sem embaraço
E as pedras
Na laringe da água
Árvore
Fruto
Gesto por ser
E mãos cegamente maduras Disfarçadas
Submissas
Inconscientes Velhas
Náufragas no verbo podre de madeira
A adolar o bolor da lúxuria da imagem
Rendido ao pó que unge toda a cabeça
E os pés no mar em toques de piano
A desviar toda a torrente
É a pedra
O próprio homem
Génio da sua sombra
Alma sem propósito
Servo da riqueza
E a água ? A agua não tropeça
A água… ai como dói esta água pura
A cheirar a alfazema
Num colo de carne
A água que vê tudo
A água que ouve tudo
A água que não disfarça Sem assombro
A água que sente rumo às estrelas
Que as próprias mãos não agarram
E chega bem alto porque se basta.
manuel feliciano
5.20.2011
Antagonismo
Esqueci-me de tudo
Como quem trás o mundo em bocados
Com pétalas de aurora
Escuridão em lume
E as tuas mãos arderem-me nas rosas
Do húmus a ser têmporas
O mar na chuva a escorrer-me pelas pálpebras
E eu
Neste vertical branco de juncos
És-me da cabeça
Do tronco
E dos membros
Na física das nuvens
Húmidas de olhares que se trocam
Nos teus cabelos a retorcer-me de brisa
No labirinto do teu pensamento
No teu abraço a crucificar-me
Lembro-me de tudo
Estás cheia de sede
Com um vestido azul a cegar-me os olhos
Mas não te moves
Porque te moves
E aqueces e esfrias comigo
O sol
E eu quero refrescar-te na memória da água
E tu abres a boca
Punhado de luz nas asas que me levam
A um corpo celeste
Fendido de esquecimento´
Ahhhhhhhhhhhhhhhhh não venhas!
tu vieste sempre àquele
Banco que não precisa de chão
Nem de corpo todo presente
Algures presente
Para quê presente?
Esqueci-me de tudo
Como quem te trás por dentro
O meu esquecimento é uma lembrança ausente
Comestivel como os figos
Do verbo iluminado dentro da tua boca
Que chama por mim Memória salgada com gaivotas
E eu procuro-te nas algas
E no que não há a oriente das faces Tudo com a força
De mosaicos arrancados Inseparáveis
E o sol tão branco é tudo por cantar
Por entre os meus lábios que te trazem!
manuel feliciano
Como quem trás o mundo em bocados
Com pétalas de aurora
Escuridão em lume
E as tuas mãos arderem-me nas rosas
Do húmus a ser têmporas
O mar na chuva a escorrer-me pelas pálpebras
E eu
Neste vertical branco de juncos
És-me da cabeça
Do tronco
E dos membros
Na física das nuvens
Húmidas de olhares que se trocam
Nos teus cabelos a retorcer-me de brisa
No labirinto do teu pensamento
No teu abraço a crucificar-me
Lembro-me de tudo
Estás cheia de sede
Com um vestido azul a cegar-me os olhos
Mas não te moves
Porque te moves
E aqueces e esfrias comigo
O sol
E eu quero refrescar-te na memória da água
E tu abres a boca
Punhado de luz nas asas que me levam
A um corpo celeste
Fendido de esquecimento´
Ahhhhhhhhhhhhhhhhh não venhas!
tu vieste sempre àquele
Banco que não precisa de chão
Nem de corpo todo presente
Algures presente
Para quê presente?
Esqueci-me de tudo
Como quem te trás por dentro
O meu esquecimento é uma lembrança ausente
Comestivel como os figos
Do verbo iluminado dentro da tua boca
Que chama por mim Memória salgada com gaivotas
E eu procuro-te nas algas
E no que não há a oriente das faces Tudo com a força
De mosaicos arrancados Inseparáveis
E o sol tão branco é tudo por cantar
Por entre os meus lábios que te trazem!
manuel feliciano
5.18.2011
Fogo nupcial de anjos
Eu sou do próprio pó dos deuses
E mais à frente
Mais à frente
Há um mar só mais à frente
E é só a minha cara
Triste
Feliz
Contente
Nascendo em outras caras
Em outras abordagens
E o meu corpo todo fundido
Fogo nupcial de anjos
No tempo mais à frente
Que só tem mais à frente
Altos voos
Na profundidade marítima das coisas
Minhas
Vossas
Perplexas
Simples luar nas folhas caídas
Com crinças no pátio dos astros
Que sobem… que sobem… que sobem
Basta abrir a boca toda
Braçada de luz
E toda a imaginação
Tocável
Com a forma objecta dos sonhos
E é esse pó que me traz todo em seiva
Peixe
Iguana
Cobra
Março
Rio no rubor gasoso das nuvens
Estendido e amplo
De outono em primavera
Aberto nas hastes dos braços
Velejando nas alturas
E esse pó?
E esse pó? É só um sorriso a querer saber de mim
É só Deus a cravar-me um beijo
Sou só eu
Feito de ti
E tu é sempre que os jardins florecem
Sempre que queremos
E esse pó?
E esse pó?
Viagem de tudo
Ainda por fazer
Sempre por fazer Alagar-se de amor
Estrela redentora
É esse pó que não me quer nunca morto!
manuel feliciano
E mais à frente
Mais à frente
Há um mar só mais à frente
E é só a minha cara
Triste
Feliz
Contente
Nascendo em outras caras
Em outras abordagens
E o meu corpo todo fundido
Fogo nupcial de anjos
No tempo mais à frente
Que só tem mais à frente
Altos voos
Na profundidade marítima das coisas
Minhas
Vossas
Perplexas
Simples luar nas folhas caídas
Com crinças no pátio dos astros
Que sobem… que sobem… que sobem
Basta abrir a boca toda
Braçada de luz
E toda a imaginação
Tocável
Com a forma objecta dos sonhos
E é esse pó que me traz todo em seiva
Peixe
Iguana
Cobra
Março
Rio no rubor gasoso das nuvens
Estendido e amplo
De outono em primavera
Aberto nas hastes dos braços
Velejando nas alturas
E esse pó?
E esse pó? É só um sorriso a querer saber de mim
É só Deus a cravar-me um beijo
Sou só eu
Feito de ti
E tu é sempre que os jardins florecem
Sempre que queremos
E esse pó?
E esse pó?
Viagem de tudo
Ainda por fazer
Sempre por fazer Alagar-se de amor
Estrela redentora
É esse pó que não me quer nunca morto!
manuel feliciano
Giesta
Sou do abismo da Luz
Não existo
Só sinto
Giesta no verde monte
Sem sono
E pomar a crescer
Com frutos ilegíveis
Fora das unhas pintadas
Do morro da inteligência
Na cabeça dos fósforos
Palavra desoxigenada
Sou de outras pedras
De outro tempo!
De um vazio cheio de amanhã
E um ontem por nascer
Não tenho nacionalidade
Não tenho pátria
Não sofro de Mouros conquistados
Nem de Caravelas quinhentistas
Nos pulmões da água
Sou a própria caravela
Sem mundo e história
Mar florido da giesta
A arder-me por todo
Enquanto o mundo quebra
Não sabe de si nem das ervas
Reluz em bocas tão cegas
E as ervas são a minha pátria
Porque as ervas nunca se cegam
Com as sementes e os pássaros
Os rios envoltos em estrelas
E o sol nas mãos de outros seres.
manuel feliciano
Não existo
Só sinto
Giesta no verde monte
Sem sono
E pomar a crescer
Com frutos ilegíveis
Fora das unhas pintadas
Do morro da inteligência
Na cabeça dos fósforos
Palavra desoxigenada
Sou de outras pedras
De outro tempo!
De um vazio cheio de amanhã
E um ontem por nascer
Não tenho nacionalidade
Não tenho pátria
Não sofro de Mouros conquistados
Nem de Caravelas quinhentistas
Nos pulmões da água
Sou a própria caravela
Sem mundo e história
Mar florido da giesta
A arder-me por todo
Enquanto o mundo quebra
Não sabe de si nem das ervas
Reluz em bocas tão cegas
E as ervas são a minha pátria
Porque as ervas nunca se cegam
Com as sementes e os pássaros
Os rios envoltos em estrelas
E o sol nas mãos de outros seres.
manuel feliciano
5.16.2011
Não mais morreremos
Não mais morreremos
Porque o teu beijo fica para além
Dos barcos submersos Na voz do mar
Dos ouvidos
Deixados no silêncio das pedras
No fundo do abismo e das ilhas
Desencontradas
De estrelas apagadas no escuro
Das areias sem conchas
Da existência húmida dos ferros
Que a nossa boca
Fez flor
Planicie extensa
Palavra prolongada
Braço não palpável
Enquanto iamos ao fundo
De todos os frutos que não vimos
Numa visão longínqua
Vestida de uma manhã
Cheia de sementes e pássaros
Sedenta
Descobrimos o milagre
Fora da armadura do corpo
Amadurecemos sem sol
Colhemos só de querer O firmamento da rosa
Sem margens
Nas faces E fomos
Por entre línguas trémulas que não mais acabam.
manuel feliciano
Porque o teu beijo fica para além
Dos barcos submersos Na voz do mar
Dos ouvidos
Deixados no silêncio das pedras
No fundo do abismo e das ilhas
Desencontradas
De estrelas apagadas no escuro
Das areias sem conchas
Da existência húmida dos ferros
Que a nossa boca
Fez flor
Planicie extensa
Palavra prolongada
Braço não palpável
Enquanto iamos ao fundo
De todos os frutos que não vimos
Numa visão longínqua
Vestida de uma manhã
Cheia de sementes e pássaros
Sedenta
Descobrimos o milagre
Fora da armadura do corpo
Amadurecemos sem sol
Colhemos só de querer O firmamento da rosa
Sem margens
Nas faces E fomos
Por entre línguas trémulas que não mais acabam.
manuel feliciano
5.15.2011
É dia
Sairemos de barco
Mas não pelo rio
Com a boca verde
Dentro da janela
A remar contra as nuvens
Só pela montanha
De pedra em pedra
De ramo em ramo
Por coisas distantes
Pelos gritos
Contra a desconfiança
A incerteza
O dia no qual não punha nada
Os punhos fechados na boca
Na impressão das imagens
Vestidas de madeira viva
De mar
Dia pleno
E justiça
Que te celebrem bem alto os ombros
Para fazer um jardim que nos mereça.
manuel feliciano
Mas não pelo rio
Com a boca verde
Dentro da janela
A remar contra as nuvens
Só pela montanha
De pedra em pedra
De ramo em ramo
Por coisas distantes
Pelos gritos
Contra a desconfiança
A incerteza
O dia no qual não punha nada
Os punhos fechados na boca
Na impressão das imagens
Vestidas de madeira viva
De mar
Dia pleno
E justiça
Que te celebrem bem alto os ombros
Para fazer um jardim que nos mereça.
manuel feliciano
5.14.2011
Cântico Comum
A terra nem me causa amor
Nem desconforto
Só espanto
Nem a memória
Humana
Presa
Temerosa
Feita de sol e barro
A idolatro
Porque a memória é uma gaveta
Que não conhece a altura dos Deuses
Escondidos no abismo
O meu coração é pobre
E não corre atrás de nada
Porque o rio não corre atrás do mar
Deixa-se ir pela encosta
E não pugna pelas flores
Que latejam em jardins
Apanhadas há tanto tempo
Nem por sorrisos
Que se passeiam nas ruas
Mas que dormem
Sossegados na pele
Desde sempre cheios de vida
Não digo à torre alta:
- És a virilidade e a perfeição do tempo
E à torre baixa:
- És a margarida inacabada…
Não vivo como quem quer arrancar tudo
A nuvem que é nuvem também erra
E eu como ela caio
E eu como ela me evaporo
Em rotação constante
Sou um mero caminho acidentado
Não mais que um baldio de terra
Nas letras das ervas
Sem cicatrizes Embora doa
A urze e abelhas
Porque a vida e a chuva
Ardem mas não são lenha
E não nos deixam as cinzas
Senão a boca que transborda
O amor sublimado
Nas palmeiras do tempo
Entre bichos e coisas que são de um cântico comum!
manuel feliciano
Nem desconforto
Só espanto
Nem a memória
Humana
Presa
Temerosa
Feita de sol e barro
A idolatro
Porque a memória é uma gaveta
Que não conhece a altura dos Deuses
Escondidos no abismo
O meu coração é pobre
E não corre atrás de nada
Porque o rio não corre atrás do mar
Deixa-se ir pela encosta
E não pugna pelas flores
Que latejam em jardins
Apanhadas há tanto tempo
Nem por sorrisos
Que se passeiam nas ruas
Mas que dormem
Sossegados na pele
Desde sempre cheios de vida
Não digo à torre alta:
- És a virilidade e a perfeição do tempo
E à torre baixa:
- És a margarida inacabada…
Não vivo como quem quer arrancar tudo
A nuvem que é nuvem também erra
E eu como ela caio
E eu como ela me evaporo
Em rotação constante
Sou um mero caminho acidentado
Não mais que um baldio de terra
Nas letras das ervas
Sem cicatrizes Embora doa
A urze e abelhas
Porque a vida e a chuva
Ardem mas não são lenha
E não nos deixam as cinzas
Senão a boca que transborda
O amor sublimado
Nas palmeiras do tempo
Entre bichos e coisas que são de um cântico comum!
manuel feliciano
5.13.2011
Urbi et Orbi
Deixa-te só ser árvore
Porque as árvores não se cansam
Cantam com alegria a fome
E abraçam para cima
Mesmo se os navios se afundam
No ciclo umbilical da seiva
A transbordar de ternura
Se és pobre ama com as mãos cheias
Sem quereres saber de ti
O mar inventa-o nas pedras
Porque as pedras são liberdade
Palavra sem freio ao vento
Mulher madura em fruto
Mar no colo de outros mares
Não reclames a pátria para ti
Porque a pátria é uma parte da beleza
Mas tu és da poeira ancestral
E nasceste com o propósito do mundo
E o mundo é do segredo da abelha
Que a simples asa ausenta
E só o mel é que faz jus aos teus olhos!
E os teus olhos magoados
Com o pássaro que caiu do ninho
Não choram só porque chove
Não riem só porque está sol
Estão envoltos numa outra esfera
Que sonha abrir a primavera
E morrer com a boca em cântico
Como quem morre de amor e é
Imagem musical absoluta
A única palavra muscular
Ave azul em pleno voo
Que toda a realidade é abstracta
Desfeita em veias do desconforto
Onde corro em plenas águas
Acaso que sabes das coisas?
Do ombigo que nada ouve
Da noite que abre os braços às estrelas
Da força que gera o mundo
Senão que inutilemente existes
Na eternidade que te conhece
Mesmo se te diz sempre que não
O não é um Deus que te sabe por inteiro.
manuel feliciano
Porque as árvores não se cansam
Cantam com alegria a fome
E abraçam para cima
Mesmo se os navios se afundam
No ciclo umbilical da seiva
A transbordar de ternura
Se és pobre ama com as mãos cheias
Sem quereres saber de ti
O mar inventa-o nas pedras
Porque as pedras são liberdade
Palavra sem freio ao vento
Mulher madura em fruto
Mar no colo de outros mares
Não reclames a pátria para ti
Porque a pátria é uma parte da beleza
Mas tu és da poeira ancestral
E nasceste com o propósito do mundo
E o mundo é do segredo da abelha
Que a simples asa ausenta
E só o mel é que faz jus aos teus olhos!
E os teus olhos magoados
Com o pássaro que caiu do ninho
Não choram só porque chove
Não riem só porque está sol
Estão envoltos numa outra esfera
Que sonha abrir a primavera
E morrer com a boca em cântico
Como quem morre de amor e é
Imagem musical absoluta
A única palavra muscular
Ave azul em pleno voo
Que toda a realidade é abstracta
Desfeita em veias do desconforto
Onde corro em plenas águas
Acaso que sabes das coisas?
Do ombigo que nada ouve
Da noite que abre os braços às estrelas
Da força que gera o mundo
Senão que inutilemente existes
Na eternidade que te conhece
Mesmo se te diz sempre que não
O não é um Deus que te sabe por inteiro.
manuel feliciano
5.11.2011
Pomar Vermelho
Granjeio o teu nome
Num pomar vermelho
De caravelas lavrando a espuma
Silêncio com sons que rasgam
Gritos em cavalos de sol
Que não se ouvem
E ecoam nos dentes
E a língua
Na omoplata do olhar
Desenha-te em sílabas
Em raízes de cabelos
Que Justificam todo o corpo
Ausente
Reflectido
Aqui e agora
Na fronteira sem linha
Antigos caminhos que me moram
Na explosão da estrela
Vivificada da pele
Onde me abraças e não sentes
O mistério da minha boca
Mar do azul das tuas pálpebras.
manuel feliciano
Num pomar vermelho
De caravelas lavrando a espuma
Silêncio com sons que rasgam
Gritos em cavalos de sol
Que não se ouvem
E ecoam nos dentes
E a língua
Na omoplata do olhar
Desenha-te em sílabas
Em raízes de cabelos
Que Justificam todo o corpo
Ausente
Reflectido
Aqui e agora
Na fronteira sem linha
Antigos caminhos que me moram
Na explosão da estrela
Vivificada da pele
Onde me abraças e não sentes
O mistério da minha boca
Mar do azul das tuas pálpebras.
manuel feliciano
5.09.2011
Alma
Sofro por uma lágrima tua
Que me incendeie todo o corpo
Que me faça vislumbrar a alma
Esse pedaço fechado que levas nas tuas mãos
O que preciso para ter-me por inteiro
É uma lágrima a cair
É eu a querer saber de mim
Esse pedaço fechado que sabe mais
Que todos os olhos abertos
Não menos que as Ovelhas no pasto
Não menos que o Movimento da terra
É gotas de um sorriso no mar
É carne do meu sentir
Abrindo-te todas as mãos
Príncipio que não tem fim
Tão fechado
Tão fechado
Pedaço que sinto e não vejo
Falésia que me abre o céu.
manuel feliciano
Que me incendeie todo o corpo
Que me faça vislumbrar a alma
Esse pedaço fechado que levas nas tuas mãos
O que preciso para ter-me por inteiro
É uma lágrima a cair
É eu a querer saber de mim
Esse pedaço fechado que sabe mais
Que todos os olhos abertos
Não menos que as Ovelhas no pasto
Não menos que o Movimento da terra
É gotas de um sorriso no mar
É carne do meu sentir
Abrindo-te todas as mãos
Príncipio que não tem fim
Tão fechado
Tão fechado
Pedaço que sinto e não vejo
Falésia que me abre o céu.
manuel feliciano
5.07.2011
Cadavre Excquis
São de água os barcos submersos na cidade
A idiotice passeia-se em farois brancos
Que os mosquitos engolem sem misericórdia
E há tudo para sofregar numa manhã verde
Árvores dos pensamentos à tona das ruas
Enrolados num cigarro que poucos vêem
E a infância lateja nas folhas secas
E os olhos transbordam para outra face
Onde o sol não morre feito um cadáver
Disseram-me que havia
Uma mulher na praça
E que vendia
Costas nuas
Casas de fumo
Raios de felicidade
Noites sudorentas no cio dos corpos
O orgulho a desfalecer no leite
A raiva amolecer nas aves
E um suspiro quase a ser céu
O filtro do crépusculo em interditas pedras
Para não ser mais
Por detrás do sol
A terra em movimento inverso
Os lábios brancos
A inutilidade do espaço
Os rios varonis com todo o aço
O desmanchar do lume
Que nos traz à tona.
E eu comprei
Móveis que se dobram na boca
E se penteiam na lua
E não se confinam aos limites
E riem-se vergados de frutos
E nos despertam do sono
E nos enchem de outras ruas
No cérebro de outras lâmpadas
Um velho a perdurar no limbo
Um ninho sem um triz nos lábios
Fintei a firmeza da terra
O húmus no transcurso dos teus dedos
Onde escorrem as almas todas
E a dor é quando
O teu beijo é estrela amor
Face que dispensa toda a sombra
Quando me volto para ti.
manuel feliciano
A idiotice passeia-se em farois brancos
Que os mosquitos engolem sem misericórdia
E há tudo para sofregar numa manhã verde
Árvores dos pensamentos à tona das ruas
Enrolados num cigarro que poucos vêem
E a infância lateja nas folhas secas
E os olhos transbordam para outra face
Onde o sol não morre feito um cadáver
Disseram-me que havia
Uma mulher na praça
E que vendia
Costas nuas
Casas de fumo
Raios de felicidade
Noites sudorentas no cio dos corpos
O orgulho a desfalecer no leite
A raiva amolecer nas aves
E um suspiro quase a ser céu
O filtro do crépusculo em interditas pedras
Para não ser mais
Por detrás do sol
A terra em movimento inverso
Os lábios brancos
A inutilidade do espaço
Os rios varonis com todo o aço
O desmanchar do lume
Que nos traz à tona.
E eu comprei
Móveis que se dobram na boca
E se penteiam na lua
E não se confinam aos limites
E riem-se vergados de frutos
E nos despertam do sono
E nos enchem de outras ruas
No cérebro de outras lâmpadas
Um velho a perdurar no limbo
Um ninho sem um triz nos lábios
Fintei a firmeza da terra
O húmus no transcurso dos teus dedos
Onde escorrem as almas todas
E a dor é quando
O teu beijo é estrela amor
Face que dispensa toda a sombra
Quando me volto para ti.
manuel feliciano
5.05.2011
Para além das coisas
As flores secas num lugar improvável
Deram-nos as mãos num jardim verde
E os cânticos dos pássaros que não estavam
As maçãs douradas no gume do riacho
E as palavras adormecidas no sangue das folhas
Era a maravilha das fontes a desenlear
O nosso próprio amor a arder noutra vereda
E o vazio era um seio quente
E a inquietude as línguas no sossego do céu
E o fim o ciclo húmido da rosa
E a secura soube-nos a água pelos braços
Dos pés a cabeça a latejar na brisa
O verbo a refulgir nos ângulos já mortos
A vida prolongada em pedras maduras
Pingou-se-nos o corpo na constelação dos olhos
E os pés seguiram mesmo fora dos muros.
manuel feliciano
Deram-nos as mãos num jardim verde
E os cânticos dos pássaros que não estavam
As maçãs douradas no gume do riacho
E as palavras adormecidas no sangue das folhas
Era a maravilha das fontes a desenlear
O nosso próprio amor a arder noutra vereda
E o vazio era um seio quente
E a inquietude as línguas no sossego do céu
E o fim o ciclo húmido da rosa
E a secura soube-nos a água pelos braços
Dos pés a cabeça a latejar na brisa
O verbo a refulgir nos ângulos já mortos
A vida prolongada em pedras maduras
Pingou-se-nos o corpo na constelação dos olhos
E os pés seguiram mesmo fora dos muros.
manuel feliciano
Do nada
Aí vem ela das sombras
Das cinzas
Dos lábios em terra seca
Invernos que mataram
Cheios de séculos
Destinos e labirintos
E a carne toda em brasa
Na cinturinha das flores[…]
Quero-te prender
Para que não saias do limite
Saindo fora de todos os limites
E te saborear
Saborear com gostinho
A a doçura do teu pólen
Na crosta
Inflamda da flor
A tremer
Depois da boca do gelo
Ter queimado toda a erva
Ter exclamdo toda a morte
Tu Sofres-me
Como raízes no cérebro
Como algo que só entendo
E por isso eu corro[…]
Como uma lâmpada do nada
Acesa com todo o seu escuro
Cheinha da tua voz[…]
Para te ter
E te deter
E escrever
E lamber
Os teus ombros
E abismos
E cabelos que não findam
E os cantos que a tua face
Esconde
E caminhos que desconheço
Como quem os conhece a todos
Mas tu[…]
Como és desejável tu
Com as tuas mãos fresquinhas
Sofregas para me nascer[…]
Porque és do abstracto das coisas
Só me deixas o perfume
E uma música a parir
O teu corpo a consumir-me.
manuel feliciano
Das cinzas
Dos lábios em terra seca
Invernos que mataram
Cheios de séculos
Destinos e labirintos
E a carne toda em brasa
Na cinturinha das flores[…]
Quero-te prender
Para que não saias do limite
Saindo fora de todos os limites
E te saborear
Saborear com gostinho
A a doçura do teu pólen
Na crosta
Inflamda da flor
A tremer
Depois da boca do gelo
Ter queimado toda a erva
Ter exclamdo toda a morte
Tu Sofres-me
Como raízes no cérebro
Como algo que só entendo
E por isso eu corro[…]
Como uma lâmpada do nada
Acesa com todo o seu escuro
Cheinha da tua voz[…]
Para te ter
E te deter
E escrever
E lamber
Os teus ombros
E abismos
E cabelos que não findam
E os cantos que a tua face
Esconde
E caminhos que desconheço
Como quem os conhece a todos
Mas tu[…]
Como és desejável tu
Com as tuas mãos fresquinhas
Sofregas para me nascer[…]
Porque és do abstracto das coisas
Só me deixas o perfume
E uma música a parir
O teu corpo a consumir-me.
manuel feliciano
5.04.2011
A angústia
Disse-me que havia um jardim
Onde os ramos eram rouxos
E que os desejos doiam
Mais que as cicatrizes da carne
E o sol ensopado de noite
Sabia à brancura dos frutos
E só a beleza escoava
Na dor azul tão réptil
Mas que as pálpebras inflamadas
Embora maduras para a apanha
Fazem parte de outro Outono
E que os pássaros eram outros no diadema do sangue
Que cinge a sua cabeça.
E quando a espuma lhe abraça a cara
E quando o sal é flor vermelha
O frio é árvore que abraça
O sulco dos olhos jardim
E a terra negra uma estrela
O único cérebro do corpo.
manuel feliciano
Onde os ramos eram rouxos
E que os desejos doiam
Mais que as cicatrizes da carne
E o sol ensopado de noite
Sabia à brancura dos frutos
E só a beleza escoava
Na dor azul tão réptil
Mas que as pálpebras inflamadas
Embora maduras para a apanha
Fazem parte de outro Outono
E que os pássaros eram outros no diadema do sangue
Que cinge a sua cabeça.
E quando a espuma lhe abraça a cara
E quando o sal é flor vermelha
O frio é árvore que abraça
O sulco dos olhos jardim
E a terra negra uma estrela
O único cérebro do corpo.
manuel feliciano
5.02.2011
Colo inóspito
Hoje todo eu sou uma larva
E o meu céu é uma maçã
Lançada ao vento
Nos olhos da terra
Voltados para as costas dos pinheiros
Para a visões que não engolem
E a caruma é o mar verde
E as minhas mãos sombras de pomares
Onde tu estás tão presente
E o meu grito é silêncio
Mas tem carne
O hálito da tua boca
Cheira à flor da tua pele
A cadeira onde te sentas e tomas amor comigo
Numa chávena sem fundo
E as madrugadas onde tu não estás
E as palavras fechadas dentro das cartas
Tão abertas como se a vida as quisesse
E o teu colo as acolhesse
São patas de caranguejos
Fogem da espuma do mar
Atravessam os limites da vida
Sem as rédeas onde as pernas tropeçam.
E o meu céu é uma maçã
Lançada ao vento
Nos olhos da terra
Voltados para as costas dos pinheiros
Para a visões que não engolem
E a caruma é o mar verde
E as minhas mãos sombras de pomares
Onde tu estás tão presente
E o meu grito é silêncio
Mas tem carne
O hálito da tua boca
Cheira à flor da tua pele
A cadeira onde te sentas e tomas amor comigo
Numa chávena sem fundo
E as madrugadas onde tu não estás
E as palavras fechadas dentro das cartas
Tão abertas como se a vida as quisesse
E o teu colo as acolhesse
São patas de caranguejos
Fogem da espuma do mar
Atravessam os limites da vida
Sem as rédeas onde as pernas tropeçam.
5.01.2011
Massa de ar
Quero a boca esmagada de ternura
E um sol de pedra que me mate a sede
Para que siga por esta carne fraca
E em silêncio escute a voz das silvas
Com os meus ombros de lata tumefactos
Porque eu quero o amor num tronco seco
E um céu de árvores com aves e estrelas
E entrar na casa húmida e transparente
Com pilares espetados dentro da massa de ar
Como se esteja agarrada aos músculos
E o chão já nem sequer valha nada […]
quero tudo isto
como as raízes das nuvens
Em hélices de aeronaves
Fogo e água
Riso e choro
Morte ilusão
E a vida palavra sem porto
Rolando às cambalhotas
Sem os olhos presos a amargos vimeiros
E à escuridão que cega
Me rasgue todos os meus olhos
Como a chuva que transborda a moldura da boca
E desagua nas pedras mesmo sem rio e leito.
manuel feliciano
E um sol de pedra que me mate a sede
Para que siga por esta carne fraca
E em silêncio escute a voz das silvas
Com os meus ombros de lata tumefactos
Porque eu quero o amor num tronco seco
E um céu de árvores com aves e estrelas
E entrar na casa húmida e transparente
Com pilares espetados dentro da massa de ar
Como se esteja agarrada aos músculos
E o chão já nem sequer valha nada […]
quero tudo isto
como as raízes das nuvens
Em hélices de aeronaves
Fogo e água
Riso e choro
Morte ilusão
E a vida palavra sem porto
Rolando às cambalhotas
Sem os olhos presos a amargos vimeiros
E à escuridão que cega
Me rasgue todos os meus olhos
Como a chuva que transborda a moldura da boca
E desagua nas pedras mesmo sem rio e leito.
manuel feliciano
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