A terra nem me causa amor
Nem desconforto
Só espanto
Nem a memória
Humana
Presa
Temerosa
Feita de sol e barro
A idolatro
Porque a memória é uma gaveta
Que não conhece a altura dos Deuses
Escondidos no abismo
O meu coração é pobre
E não corre atrás de nada
Porque o rio não corre atrás do mar
Deixa-se ir pela encosta
E não pugna pelas flores
Que latejam em jardins
Apanhadas há tanto tempo
Nem por sorrisos
Que se passeiam nas ruas
Mas que dormem
Sossegados na pele
Desde sempre cheios de vida
Não digo à torre alta:
- És a virilidade e a perfeição do tempo
E à torre baixa:
- És a margarida inacabada…
Não vivo como quem quer arrancar tudo
A nuvem que é nuvem também erra
E eu como ela caio
E eu como ela me evaporo
Em rotação constante
Sou um mero caminho acidentado
Não mais que um baldio de terra
Nas letras das ervas
Sem cicatrizes Embora doa
A urze e abelhas
Porque a vida e a chuva
Ardem mas não são lenha
E não nos deixam as cinzas
Senão a boca que transborda
O amor sublimado
Nas palmeiras do tempo
Entre bichos e coisas que são de um cântico comum!
manuel feliciano
Enquanto houver o espanto haverá a poesia. E o cântico será comum, mas mais belo.
ResponderEliminarAbraço, poeta!