Deixa-te só ser árvore
Porque as árvores não se cansam
Cantam com alegria a fome
E abraçam para cima
Mesmo se os navios se afundam
No ciclo umbilical da seiva
A transbordar de ternura
Se és pobre ama com as mãos cheias
Sem quereres saber de ti
O mar inventa-o nas pedras
Porque as pedras são liberdade
Palavra sem freio ao vento
Mulher madura em fruto
Mar no colo de outros mares
Não reclames a pátria para ti
Porque a pátria é uma parte da beleza
Mas tu és da poeira ancestral
E nasceste com o propósito do mundo
E o mundo é do segredo da abelha
Que a simples asa ausenta
E só o mel é que faz jus aos teus olhos!
E os teus olhos magoados
Com o pássaro que caiu do ninho
Não choram só porque chove
Não riem só porque está sol
Estão envoltos numa outra esfera
Que sonha abrir a primavera
E morrer com a boca em cântico
Como quem morre de amor e é
Imagem musical absoluta
A única palavra muscular
Ave azul em pleno voo
Que toda a realidade é abstracta
Desfeita em veias do desconforto
Onde corro em plenas águas
Acaso que sabes das coisas?
Do ombigo que nada ouve
Da noite que abre os braços às estrelas
Da força que gera o mundo
Senão que inutilemente existes
Na eternidade que te conhece
Mesmo se te diz sempre que não
O não é um Deus que te sabe por inteiro.
manuel feliciano
Muito bom!!! Parabéns!
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