5.13.2011

Urbi et Orbi

Deixa-te só ser árvore



Porque as árvores não se cansam



Cantam com alegria a fome



E abraçam para cima



Mesmo se os navios se afundam



No ciclo umbilical da seiva



A transbordar de ternura







Se és pobre ama com as mãos cheias



Sem quereres saber de ti



O mar inventa-o nas pedras



Porque as pedras são liberdade



Palavra sem freio ao vento



Mulher madura em fruto



Mar no colo de outros mares







Não reclames a pátria para ti



Porque a pátria é uma parte da beleza



Mas tu és da poeira ancestral



E nasceste com o propósito do mundo



E o mundo é do segredo da abelha



Que a simples asa ausenta



E só o mel é que faz jus aos teus olhos!





E os teus olhos magoados



Com o pássaro que caiu do ninho



Não choram só porque chove



Não riem só porque está sol



Estão envoltos numa outra esfera



Que sonha abrir a primavera



E morrer com a boca em cântico





Como quem morre de amor e é



Imagem musical absoluta



A única palavra muscular



Ave azul em pleno voo



Que toda a realidade é abstracta



Desfeita em veias do desconforto



Onde corro em plenas águas





Acaso que sabes das coisas?



Do ombigo que nada ouve



Da noite que abre os braços às estrelas



Da força que gera o mundo



Senão que inutilemente existes



Na eternidade que te conhece



Mesmo se te diz sempre que não



O não é um Deus que te sabe por inteiro.





manuel feliciano

1 comentário: