5.07.2011

Cadavre Excquis

São de água os barcos submersos na cidade

A idiotice passeia-se em farois brancos

Que os mosquitos engolem sem misericórdia

E há tudo para sofregar numa manhã verde

Árvores dos pensamentos à tona das ruas

Enrolados num cigarro que poucos vêem

E a infância lateja nas folhas secas

E os olhos transbordam para outra face

Onde o sol não morre feito um cadáver





Disseram-me que havia

Uma mulher na praça

E que vendia

Costas nuas

Casas de fumo

Raios de felicidade

Noites sudorentas no cio dos corpos

O orgulho a desfalecer no leite

A raiva amolecer nas aves

E um suspiro quase a ser céu

O filtro do crépusculo em interditas pedras

Para não ser mais

Por detrás do sol

A terra em movimento inverso

Os lábios brancos

A inutilidade do espaço

Os rios varonis com todo o aço

O desmanchar do lume

Que nos traz à tona.



E eu comprei

Móveis que se dobram na boca

E se penteiam na lua

E não se confinam aos limites

E riem-se vergados de frutos

E nos despertam do sono

E nos enchem de outras ruas

No cérebro de outras lâmpadas

Um velho a perdurar no limbo

Um ninho sem um triz nos lábios

Fintei a firmeza da terra

O húmus no transcurso dos teus dedos

Onde escorrem as almas todas

E a dor é quando

O teu beijo é estrela amor

Face que dispensa toda a sombra

Quando me volto para ti.





manuel feliciano

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