Um não meu amor
É quando as estrelas brilham já desfeitas
E o sol amadurece no céu de argila
E o branco da folha se faz corpo
Com cheiro a terra
E gritos incendiados na seda do barco
Que desprendem os cadiados da chuva
E as palavras no cardume das nuvens
Em cálices de dedos entornados
Num um não
Que sabe dos teus braços abertos
No orvalho de carvão Vivo Por mistério E lonjura Sem fim
Em vozes a baloiçar nos braços trémulos das ondas
Com unhas que avivam o desejo nas cinzas
Ainda por arder
Sempre por arder
Todo em árvore
Ainda por me ser
Já florido Cheio de frutos
Verde de infância Num pátio com plantas Ao faz de conta
Onde tudo é conta
E a conta é sempre
Que burilas sem pressa
Ai amor, estás-me a doer: É não morte Num mar de trigo dourado
E um banco sempre connosco sem sombra
Em que nos salvaremos
Porque somos loucos
Sem mais nada Que nos afunde
Como um jardim que atravessa a alma E evita o mármore
Aquele dia em que um não me sabe todo à tua pele sem areia
E a apanha é um ai que ainda desconheço
Que me sabe completamente à tua boca em floresta!
manuel feliciano
O surrealismo das imagens e fluência dos versos continuam me fazendo voltar sempre aqui. É-me inspirador ler-te, meu caro.
ResponderEliminarGrande abraço!