5.05.2011

Para além das coisas

As flores secas num lugar improvável



Deram-nos as mãos num jardim verde



E os cânticos dos pássaros que não estavam



As maçãs douradas no gume do riacho



E as palavras adormecidas no sangue das folhas



Era a maravilha das fontes a desenlear



O nosso próprio amor a arder noutra vereda



E o vazio era um seio quente



E a inquietude as línguas no sossego do céu



E o fim o ciclo húmido da rosa



E a secura soube-nos a água pelos braços



Dos pés a cabeça a latejar na brisa



O verbo a refulgir nos ângulos já mortos



A vida prolongada em pedras maduras



Pingou-se-nos o corpo na constelação dos olhos



E os pés seguiram mesmo fora dos muros.











manuel feliciano

2 comentários:

  1. Meu caro, cheguei até aqui pela divulgação deste poema seu pela Lilly Falcão no FB. Impressionou-me teu trato com as palavras. Um escrever que me atrai muito. Muito bom encontrar coisas de qualidade assim na internet.

    Abraço!

    ResponderEliminar
  2. Obrigado pela sinceridade, espero corresponder às expectativas.

    ResponderEliminar