A chuva que clareou
Pela verdura dos montes
Nos olhos azuis dos sonhos
Em verticais navios
Desertos por marinheiros
Nas ondas ferradas dos dentes
Pelos ombros dos pinheiros
Despiu-se numa mulher de aveia
Nas rochas trémulas da boca
E só nos deixou uma sombra
Que incendiou o sol por dentro.
manuel feliciano
4.30.2011
A espera
O sol arrastado à cabeça de uma junta de bois
E tantos de nós com as pernas
Lavradas nas entranhas da terra…
Na aliança de dedos sem aneis
Disseram-me para esperar foda-se
Coisa estranha a puta da espera
Os braços sem braços
As pernas sem pernas
Até para nascer eu tive que esperar
Mas se ao menos esperar valesse a pena
Para a puta da vida me abrir as pernas
Estes dias de Ulisses na ilha de Calipso
E a Penépole a tricotar na minha garganta
Seriam ainda alguma coisa
Senão hoje vai ter mesmo que ser
Comer um desejo embalsamado
Esperar por uma noiva que tarda em chegar ao altar
E pensar o céu num canteiro
E ter que fazer disto um navio
E ter que fazer disto um Deus amável
E ter que fazer disto uma vida de santo
E ter que fazer disto um doce veneno
Depois que os bois lavraram estas entranhas
Há ratos à superficie
E as cobras atentam contra os ratos
E os ratos fogem da cobras
E eu fujo de tudo isto
Será que eu sou daqui caralho?
Deste jogo de cabra cega
Batendo com os cornos no muro
Como se não haja muros e cornos
E se ao menos o que eu digo fosse uma curta metragem
Mas não…esta merda é crometrada em câmera lenta
Para ser chupada
Lambida
Expurgada
Para entrar no céu completamento limpinho
Sem a toxiciade da nicotina
Não fossem os meus sonhos
A medula de uma pedra
Onde é que estavam todos os meus Deuses?
Onde é que eu poderia tomar um duche
Na maçaneta de uma porta
Onde é que eu poderia estar contigo definitivamente?
Com ternura
As mãos frescas e prontas
Com inocência e vulva
Na boca fresca da brisa
Com os joelhos em sangue nos meus olhos
A lembrarem duas flores vermelhas
Ah não vou gritar porque nenhum Deus vem salvar o mundo
Porque os Deuses também são escravos
Porque os Deuses esperam por tudo
Porque os Deus também são vítimas
Porque os Deuses também estão fartos
Desta máquina enferrujada que tinha que ser podre para ser vida!
manuel feliciano
E tantos de nós com as pernas
Lavradas nas entranhas da terra…
Na aliança de dedos sem aneis
Disseram-me para esperar foda-se
Coisa estranha a puta da espera
Os braços sem braços
As pernas sem pernas
Até para nascer eu tive que esperar
Mas se ao menos esperar valesse a pena
Para a puta da vida me abrir as pernas
Estes dias de Ulisses na ilha de Calipso
E a Penépole a tricotar na minha garganta
Seriam ainda alguma coisa
Senão hoje vai ter mesmo que ser
Comer um desejo embalsamado
Esperar por uma noiva que tarda em chegar ao altar
E pensar o céu num canteiro
E ter que fazer disto um navio
E ter que fazer disto um Deus amável
E ter que fazer disto uma vida de santo
E ter que fazer disto um doce veneno
Depois que os bois lavraram estas entranhas
Há ratos à superficie
E as cobras atentam contra os ratos
E os ratos fogem da cobras
E eu fujo de tudo isto
Será que eu sou daqui caralho?
Deste jogo de cabra cega
Batendo com os cornos no muro
Como se não haja muros e cornos
E se ao menos o que eu digo fosse uma curta metragem
Mas não…esta merda é crometrada em câmera lenta
Para ser chupada
Lambida
Expurgada
Para entrar no céu completamento limpinho
Sem a toxiciade da nicotina
Não fossem os meus sonhos
A medula de uma pedra
Onde é que estavam todos os meus Deuses?
Onde é que eu poderia tomar um duche
Na maçaneta de uma porta
Onde é que eu poderia estar contigo definitivamente?
Com ternura
As mãos frescas e prontas
Com inocência e vulva
Na boca fresca da brisa
Com os joelhos em sangue nos meus olhos
A lembrarem duas flores vermelhas
Ah não vou gritar porque nenhum Deus vem salvar o mundo
Porque os Deuses também são escravos
Porque os Deuses esperam por tudo
Porque os Deus também são vítimas
Porque os Deuses também estão fartos
Desta máquina enferrujada que tinha que ser podre para ser vida!
manuel feliciano
4.29.2011
Estrada adentro
É agora é que eu preciso de uma rua na minha garganta
E que tu ma possas pisar até doer...
Que a sola húmida dos sapatos
Que usas cor de rosa
Igual às rosas que gemem sempre em todas as primaveras
Sejam veados livres pastando na minha pele
Cheia de erva e pasto
E a tua respiração
A estrada repleta da carne do chão
Onde eu ouço as bocas que afinal
Não morreram
Acredita comigo
Que a minha garganta é a mesma das pedras da tua rua
Que as luzes todas que escutas é o mar
E o mar é a tua voz
E a tua voz sou eu contigo
O sol e a noite
A noite e o sol
Todos os dias na poeira dos ósculos que os rios engolem
Pela minha garganta até ao estômago
Sedento de peixes
Enleados aos teus ouvidos
Que é o nosso céu e as nuvens
Mortas por chover
Como couves mirradas por água
Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh
Não fiques à espera de nada
Espera como quem corre para os meus braços
Rebentado ainda mesmo no Inverno das árvores
Nos desertos onde os barcos não crêem
Mas eu creio em ti meu amor
Como é que eu te posso dizer que creio em ti sem joio
Que as minhas pernas tolhidas
Estão cheias de um oceano mais alto que céu
E as minhas lágrimas estão cheias da tua cara
E que a tua alma agoniada
É um veleiro que me pesa e arde no cérebro
O sangue alimentando as estrelas
Mas pisas-me, pisa-me
Sempre que fores à missa ao Domingo
Não te esqueças que eu sou uma parte do domingo
E que os dias não teriam o mesmo sentido se não fossem pisados.
manuel feliciano
E que tu ma possas pisar até doer...
Que a sola húmida dos sapatos
Que usas cor de rosa
Igual às rosas que gemem sempre em todas as primaveras
Sejam veados livres pastando na minha pele
Cheia de erva e pasto
E a tua respiração
A estrada repleta da carne do chão
Onde eu ouço as bocas que afinal
Não morreram
Acredita comigo
Que a minha garganta é a mesma das pedras da tua rua
Que as luzes todas que escutas é o mar
E o mar é a tua voz
E a tua voz sou eu contigo
O sol e a noite
A noite e o sol
Todos os dias na poeira dos ósculos que os rios engolem
Pela minha garganta até ao estômago
Sedento de peixes
Enleados aos teus ouvidos
Que é o nosso céu e as nuvens
Mortas por chover
Como couves mirradas por água
Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh
Não fiques à espera de nada
Espera como quem corre para os meus braços
Rebentado ainda mesmo no Inverno das árvores
Nos desertos onde os barcos não crêem
Mas eu creio em ti meu amor
Como é que eu te posso dizer que creio em ti sem joio
Que as minhas pernas tolhidas
Estão cheias de um oceano mais alto que céu
E as minhas lágrimas estão cheias da tua cara
E que a tua alma agoniada
É um veleiro que me pesa e arde no cérebro
O sangue alimentando as estrelas
Mas pisas-me, pisa-me
Sempre que fores à missa ao Domingo
Não te esqueças que eu sou uma parte do domingo
E que os dias não teriam o mesmo sentido se não fossem pisados.
manuel feliciano
4.27.2011
O luar das sombras
O mar prolonga-se nos cabelos das árvores
E as árvores sulcam a frescura do mar
Os dias não se bebem no latejar dos astros
SER é o único tempo
Enlaçado a todo o recomeço
como se os olhos magoem toda a verdade
Inocente
Pequena
Abismal
Enquanto que gotejamos na garganta das flores
Pensamos que não sabemos das flores, árvores e astros
Mas tudo isto nos arde
E nasce, sente, e envelhece connosco
E sentir é a visão do mundo
As únicas mãos pálpaveis
E a morte enlouquece-me com tanta vida
De meninas
Na sombra verde das árvores Como a brisa me encarne
Nas asas húmidas de frutos
Porque eu me dou todo por inteiro
Até que o grito infinito do amor
me colha nas pálpebras do berço
Onde até os Deuses choram
Com a mesma boca que me oferecem
Uma criança constante!
manuel feliciano
E as árvores sulcam a frescura do mar
Os dias não se bebem no latejar dos astros
SER é o único tempo
Enlaçado a todo o recomeço
como se os olhos magoem toda a verdade
Inocente
Pequena
Abismal
Enquanto que gotejamos na garganta das flores
Pensamos que não sabemos das flores, árvores e astros
Mas tudo isto nos arde
E nasce, sente, e envelhece connosco
E sentir é a visão do mundo
As únicas mãos pálpaveis
E a morte enlouquece-me com tanta vida
De meninas
Na sombra verde das árvores Como a brisa me encarne
Nas asas húmidas de frutos
Porque eu me dou todo por inteiro
Até que o grito infinito do amor
me colha nas pálpebras do berço
Onde até os Deuses choram
Com a mesma boca que me oferecem
Uma criança constante!
manuel feliciano
4.26.2011
Luar de sangue
Fiz do silêncio dos olhos
As palavras dos nossos braços
Do cérebro inflamado
A andorinha do teus pés
Da garganta com ponteiros
O teu vestido tão líquido
Da espera empedrenida
Um candelabro na boca
No chão que falseia
A ponte que nos segura
Do peito desfeito em terra
Duas bocas desejosas
Da exaustão em sangue
O teu corpo no céu
Mesa do meu prazer
Para finalmente comermos
O muito que ainda nos sobra!
manuel feliciano
As palavras dos nossos braços
Do cérebro inflamado
A andorinha do teus pés
Da garganta com ponteiros
O teu vestido tão líquido
Da espera empedrenida
Um candelabro na boca
No chão que falseia
A ponte que nos segura
Do peito desfeito em terra
Duas bocas desejosas
Da exaustão em sangue
O teu corpo no céu
Mesa do meu prazer
Para finalmente comermos
O muito que ainda nos sobra!
manuel feliciano
4.25.2011
Viris Sombras
Hoje uma voz disse-me que eu era eterno
E que as pedras afinal têm garganta e carne
Como que um vulto a engolir o deserto
E uma pápebra a consomir-me todo o pó
O pó de andar sempre à procura de não ter pó
E brilhar num grito
De uma púbis tão virgem
Cheia de palavras
E de um tesão branco
E uma laranja inchada respirou-me a alma
Que vida tão lubrificada escrita nuns lábios tão surdos
Que têm a sabedoria de ter a surdez do teu pântano
Retalhado nos collants do céu
Como se um choro enraizasse nas têmporas do tempo
E uma luz lambesse bocados do escuro
Com galáxias dentro de um lugar inabitável
Cheios de seres sem corpo
Uma noite coube-me toda na vulva da voz
De uma memória tão húmida
E gástrica que me ardeu nos neurônios
E o amor ressucitou pássaros de ervas já secas
E as minhas mãos
Onde estavam as minhas mãos?
Num décimo andar
Onde nenhum homem se lembra de cobrar impostos
Nem ninguém pensa dactilografar
No meu umbigo
Abelhas nos vasos das flores do canteiro
A sociedade vista de cima
Sombra do meu pênis a latejar
E ainda bem que se esqueceram de mim
E todos os frios se lembram de me trazer
Os teus seios para me aquecerem
Que não me trouxeram a esperança mirrada nos figos
E porque as minhas mãos estavam livres
Mamei o leite nas friestas da fome
Como quem vê o rio
A fugir ao longe
Trémulo de febre
Nas águas furtadas de um telhado
E ao longe num ocenano que eu mesmo desconheço
Eu esculpo nesta cicatriz com quem a purifica
O amor que ainda é uma árvore dúctil a nascer na chuva
E dou por mim a vir-me na quilha de um navio
A foder todos os séculos que ainda estão por vir
Que todos os que já foram não me sabem a nada.
manuel feliciano
E que as pedras afinal têm garganta e carne
Como que um vulto a engolir o deserto
E uma pápebra a consomir-me todo o pó
O pó de andar sempre à procura de não ter pó
E brilhar num grito
De uma púbis tão virgem
Cheia de palavras
E de um tesão branco
E uma laranja inchada respirou-me a alma
Que vida tão lubrificada escrita nuns lábios tão surdos
Que têm a sabedoria de ter a surdez do teu pântano
Retalhado nos collants do céu
Como se um choro enraizasse nas têmporas do tempo
E uma luz lambesse bocados do escuro
Com galáxias dentro de um lugar inabitável
Cheios de seres sem corpo
Uma noite coube-me toda na vulva da voz
De uma memória tão húmida
E gástrica que me ardeu nos neurônios
E o amor ressucitou pássaros de ervas já secas
E as minhas mãos
Onde estavam as minhas mãos?
Num décimo andar
Onde nenhum homem se lembra de cobrar impostos
Nem ninguém pensa dactilografar
No meu umbigo
Abelhas nos vasos das flores do canteiro
A sociedade vista de cima
Sombra do meu pênis a latejar
E ainda bem que se esqueceram de mim
E todos os frios se lembram de me trazer
Os teus seios para me aquecerem
Que não me trouxeram a esperança mirrada nos figos
E porque as minhas mãos estavam livres
Mamei o leite nas friestas da fome
Como quem vê o rio
A fugir ao longe
Trémulo de febre
Nas águas furtadas de um telhado
E ao longe num ocenano que eu mesmo desconheço
Eu esculpo nesta cicatriz com quem a purifica
O amor que ainda é uma árvore dúctil a nascer na chuva
E dou por mim a vir-me na quilha de um navio
A foder todos os séculos que ainda estão por vir
Que todos os que já foram não me sabem a nada.
manuel feliciano
4.23.2011
Mísero oferecer
Se era para me dares as tuas mãos
Que não tinham fome
Se era para me dares os teus olhos que não tinham sede
Desses-me antes punhais
Que os fazia anjos
Desses-me a noite que eu a tornaria lua
Trouxesses contigo o cantar do Outono
Que tem a miséria de ser grande
E de me iluminar toda a minha alma
E me dar as flores que a Primavera não soube!
manuel feliciano
Que não tinham fome
Se era para me dares os teus olhos que não tinham sede
Desses-me antes punhais
Que os fazia anjos
Desses-me a noite que eu a tornaria lua
Trouxesses contigo o cantar do Outono
Que tem a miséria de ser grande
E de me iluminar toda a minha alma
E me dar as flores que a Primavera não soube!
manuel feliciano
4.21.2011
Matéria Evanescente
Os teus olhos
Leio-os, até ao fim desse livro virgem
Desse mar do qual sou estranho
E dói-me o ruido dos pés
De feiticieiras ancestrais no absurdo dos muros que se prolongam
E o mole do beijo é tão duro.
O que sou? Pergunta-me uma noite de aço
Uma galinha sem crenças na lama.
A voz que sobeja por fora Sou tudo sem razão e ossos
E não consigo transbordar as margens. E o lábios não calculam o íntimo
E a memória rasteja a meio da ponte
Puta que pariu a máteria
Gritou-me uma voz de um tempo longo
E vejo o eco da minha sombra
Nos corredores evanescentes da boca.
Nas massa muscular do corpo
E os galhos de árvores voando nas aves
Sou muito mais que esta terra velha e seca. Que a surdez dos operários
Que a imagem obsuleta e escura
Num vestidinho cor de rosa
Eu vejo como a água corre
No cantar dos frutos
Os olhos são um lugar que nada veem
Tenho as mãos tão sofregas por nada saber dos olhos
Senão dos raios que lhes engolo
Mas os olhos são um lugar de assombro
São quando te beijo
Um livro fora de todas as leis do tempo
Nas malhas da pele.
E eis que ela me esmaga com as coxas
Como se uma mão me arda mais além
E me mostre o incógnito voo. O que me dá a percepção de alguma vez os ter visto.
manuel feliciano
Leio-os, até ao fim desse livro virgem
Desse mar do qual sou estranho
E dói-me o ruido dos pés
De feiticieiras ancestrais no absurdo dos muros que se prolongam
E o mole do beijo é tão duro.
O que sou? Pergunta-me uma noite de aço
Uma galinha sem crenças na lama.
A voz que sobeja por fora Sou tudo sem razão e ossos
E não consigo transbordar as margens. E o lábios não calculam o íntimo
E a memória rasteja a meio da ponte
Puta que pariu a máteria
Gritou-me uma voz de um tempo longo
E vejo o eco da minha sombra
Nos corredores evanescentes da boca.
Nas massa muscular do corpo
E os galhos de árvores voando nas aves
Sou muito mais que esta terra velha e seca. Que a surdez dos operários
Que a imagem obsuleta e escura
Num vestidinho cor de rosa
Eu vejo como a água corre
No cantar dos frutos
Os olhos são um lugar que nada veem
Tenho as mãos tão sofregas por nada saber dos olhos
Senão dos raios que lhes engolo
Mas os olhos são um lugar de assombro
São quando te beijo
Um livro fora de todas as leis do tempo
Nas malhas da pele.
E eis que ela me esmaga com as coxas
Como se uma mão me arda mais além
E me mostre o incógnito voo. O que me dá a percepção de alguma vez os ter visto.
manuel feliciano
4.20.2011
Medo de existir
Há um medo ao longe dentro de mim
Que nasce fora de tudo
Como eu seja o longe e todas a coisas me gritem
Digam-me quem eu sou
Que eu estou cego de tudo
Num clarão das madrugadas
Quebrem todo o meu medo
Numa boca quente
Terna de misericordia
Como se uma sílaba me falte nos cabelos
E as reticências não cessem as fontes
Onde eu danço despido
Tão despido que só posso ser
Eu
Tu
Nós
Flor e sombra
Floresta e sol no moínho das tábuas
E o silêncio da eternidade
A refazer outra voz
Porque eu não sei de mim nem da coisas
Como as conheça
Como as sinta a palpitar
Numa voz que me arde no peito
Que eu sinto no crepúsculo da língua
E me esconde de um qualquer lugar
Que me abraça e descontroi
Tenho medo
Como a minha mãe comigo ao colo
Não seja mar
Lágrimas e sorrisos embrulhados nos dedos
Mel nas flores e nas abelhas
E o coração Estrelas com gotas de amor
Como se tudo isto não baste
E a maravilha não me arda na garganta
Como eu esteja em tudo e pense que é só deserto
Este braços grandes da matéria dos lagos
Tenho medo
Como se o cheiro te esconda por detrás
E te diga não com a boca enrolada em névoas
E um corpo nasça do nada
com o sol a querer espreitar.
manuel feliciano
Que nasce fora de tudo
Como eu seja o longe e todas a coisas me gritem
Digam-me quem eu sou
Que eu estou cego de tudo
Num clarão das madrugadas
Quebrem todo o meu medo
Numa boca quente
Terna de misericordia
Como se uma sílaba me falte nos cabelos
E as reticências não cessem as fontes
Onde eu danço despido
Tão despido que só posso ser
Eu
Tu
Nós
Flor e sombra
Floresta e sol no moínho das tábuas
E o silêncio da eternidade
A refazer outra voz
Porque eu não sei de mim nem da coisas
Como as conheça
Como as sinta a palpitar
Numa voz que me arde no peito
Que eu sinto no crepúsculo da língua
E me esconde de um qualquer lugar
Que me abraça e descontroi
Tenho medo
Como a minha mãe comigo ao colo
Não seja mar
Lágrimas e sorrisos embrulhados nos dedos
Mel nas flores e nas abelhas
E o coração Estrelas com gotas de amor
Como se tudo isto não baste
E a maravilha não me arda na garganta
Como eu esteja em tudo e pense que é só deserto
Este braços grandes da matéria dos lagos
Tenho medo
Como se o cheiro te esconda por detrás
E te diga não com a boca enrolada em névoas
E um corpo nasça do nada
com o sol a querer espreitar.
manuel feliciano
4.19.2011
Páscoa
Pensas que amei essas lágrimas em cachos
A voz abrindo-se no útero das tábuas
As palavras nos ouvidos dourados das folhas
O coração sempre do mesmo lado
E os pregos no lugar dos dedos
As andorinhas ácidas na boca
E o amor de mãe em carne viva
Pensas que fiz uma vénia à múmia do mundo
A latejar de morte
E clamei pela casa desfeita
Num sorriso derrocado
E amei os gestos sem nenhum umbigo
Pensas que exaltei
As coxas da neve
Uma árvore despida
E as moedas de César
A espada que nada sabe da ternura
E os lábios que tudo sabem sobre a espada
Pensas que quis
Toda a brutalidade do homem
A podridão dos seus actos
Toda a alma suja e porca
Neste altar feito de esperança
Íngreme como um luar de Inverno
Quero que saibas ainda hoje que:
Vomito o chão e as suas visceras
Digo à brisa para expurgar o sal
À boca para não saber mais de si
Aos olhos para se envergonharem
Ao corpo para se desfazer nas nuvens
E ao sol que não traga consigo uma cruz
E o teu sangue que seja sempre uma flor a nascer
E a tua dor uma ave que quebre todo o céu rochoso!
manuel feliciano
A voz abrindo-se no útero das tábuas
As palavras nos ouvidos dourados das folhas
O coração sempre do mesmo lado
E os pregos no lugar dos dedos
As andorinhas ácidas na boca
E o amor de mãe em carne viva
Pensas que fiz uma vénia à múmia do mundo
A latejar de morte
E clamei pela casa desfeita
Num sorriso derrocado
E amei os gestos sem nenhum umbigo
Pensas que exaltei
As coxas da neve
Uma árvore despida
E as moedas de César
A espada que nada sabe da ternura
E os lábios que tudo sabem sobre a espada
Pensas que quis
Toda a brutalidade do homem
A podridão dos seus actos
Toda a alma suja e porca
Neste altar feito de esperança
Íngreme como um luar de Inverno
Quero que saibas ainda hoje que:
Vomito o chão e as suas visceras
Digo à brisa para expurgar o sal
À boca para não saber mais de si
Aos olhos para se envergonharem
Ao corpo para se desfazer nas nuvens
E ao sol que não traga consigo uma cruz
E o teu sangue que seja sempre uma flor a nascer
E a tua dor uma ave que quebre todo o céu rochoso!
manuel feliciano
4.18.2011
laivos de liberdade
A liberdade sabe-me a uma mulher cheia de frutos
E quando os toco
os saltos
abundam-me por inteiro na garganta.
E o tronco a desaparecer nos olhos é o sol
E o vestido a elevar-se em estrelas é uma brisa
E a unhas cravadas na carne é o céu
E os morangos esmagados entre os dentes
É um avião pousado na água
E a flor a abrir-se é um grito de ferro
Na popa azul de um navio
A culpa é do mundo
Pediram-me para ser livre lavrando os meus próprio ombros
Desenhando a vênus de cristal com o meu suor
Esculpindo desejos nas pálpebras douradas
Pediram-me para ser libre
Fazendo de conta que ela existe
E o meu corpo é toda uma gaiola aberta
E o meu pensamento é uma dançarina nas nuvens
E a liberdade é só para aqueles que brincam
Ainda com as mãos tenras de pétalas
Em asas desencontradas
E vão sempre em frente como quem se refugia no útero
Iguais a si mesmos
Contra palavras
E vozes
E gestos endurecidos na terra
E pensamentos atados aos cornos de um bói
Mordendo em arados.
Que em nada acendem este luar de Inverno!
manuel feliciano
E quando os toco
os saltos
abundam-me por inteiro na garganta.
E o tronco a desaparecer nos olhos é o sol
E o vestido a elevar-se em estrelas é uma brisa
E a unhas cravadas na carne é o céu
E os morangos esmagados entre os dentes
É um avião pousado na água
E a flor a abrir-se é um grito de ferro
Na popa azul de um navio
A culpa é do mundo
Pediram-me para ser livre lavrando os meus próprio ombros
Desenhando a vênus de cristal com o meu suor
Esculpindo desejos nas pálpebras douradas
Pediram-me para ser libre
Fazendo de conta que ela existe
E o meu corpo é toda uma gaiola aberta
E o meu pensamento é uma dançarina nas nuvens
E a liberdade é só para aqueles que brincam
Ainda com as mãos tenras de pétalas
Em asas desencontradas
E vão sempre em frente como quem se refugia no útero
Iguais a si mesmos
Contra palavras
E vozes
E gestos endurecidos na terra
E pensamentos atados aos cornos de um bói
Mordendo em arados.
Que em nada acendem este luar de Inverno!
manuel feliciano
4.16.2011
Mãe
Quando quieseres dizer que me amas: diz mãe
E o coração saber-te-á por inteiro
Não me abraces: diz amor amor em gestação
Depois acarícia o feto e alegra-te
Como uma flor transformada
Com a voz dentro de outra voz.
Não me beijes: Sente a tua barriga em lume
A iluminar-te sem peso
Com o teu corpo vergado
E um pouco mais de ti a estender-se
E o teu eu em outro eu.
E se por ventura chorares
É porque às vezes o choro é uma forma de sorrir profunda
E o amor é um filho dentro da boca
E o ombigo é o rio que nos enlaça
Quando quiseres dizer que me amas: diz mãe
Mas não te esqueças com o mar nos lábios
Porque o amor dói como o sol em carne
O amor é morrer para ser outro.
manuel feliciano
E o coração saber-te-á por inteiro
Não me abraces: diz amor amor em gestação
Depois acarícia o feto e alegra-te
Como uma flor transformada
Com a voz dentro de outra voz.
Não me beijes: Sente a tua barriga em lume
A iluminar-te sem peso
Com o teu corpo vergado
E um pouco mais de ti a estender-se
E o teu eu em outro eu.
E se por ventura chorares
É porque às vezes o choro é uma forma de sorrir profunda
E o amor é um filho dentro da boca
E o ombigo é o rio que nos enlaça
Quando quiseres dizer que me amas: diz mãe
Mas não te esqueças com o mar nos lábios
Porque o amor dói como o sol em carne
O amor é morrer para ser outro.
manuel feliciano
4.15.2011
Dias improváveis
Da vida eu não sei nada
Mas este nada é da força das árvores ancestrais
Se as flores não choram
Em mim choraram tudo
Se não sorriem
Em mim sorriram tudo
E a terra meu amor
A terra de que todos temos medo
A terra não nos consome o sorriso
Nem os sonhos
Nem a ternura com que trocamos
Beijos na fonte
E a terra só é fonte e beijos
Um lugar cheio de lugares um não para todo o sim
A vida é o sentir das coisas
A vida dispensa todo o corpo
A vida é sempre que Deus queira
A vida não tem muros que a impeçam
E algemas que a agarrem
Ah maçãs, doces maçãs!
Que morreis para o amor da vida
Na vermelhidão das bocas
Alguém sabe alguma coisa sobre maçãs?
Quando a humidade do sumo procura a língua
E atravessamos todo o rio da eternidade
Alguém as saboreia de facto
E engole a brisa que lambe a ânsia?
Quando serpenteamos lugares com os olhos fechados
E seguimos veredas sem qualquer corpo
No êxtase sagrado dos sentidos
Há uma verdade que nos fala sem boca
E desaguamos nas coisas improváveis
Como se o amor desprenda os ferros
Como se a voz se prolongue
Ai tenho os meus olhos cheios de um grito de luz
De gente cheia de vida
Que a escuridão aborta
A atravessar o dorso da montanha como o sol
E dói
E sabe a dias incontáveis
Ai ânsia do que não morre
É urgente que mos sintas.
manuel feliciano
Mas este nada é da força das árvores ancestrais
Se as flores não choram
Em mim choraram tudo
Se não sorriem
Em mim sorriram tudo
E a terra meu amor
A terra de que todos temos medo
A terra não nos consome o sorriso
Nem os sonhos
Nem a ternura com que trocamos
Beijos na fonte
E a terra só é fonte e beijos
Um lugar cheio de lugares um não para todo o sim
A vida é o sentir das coisas
A vida dispensa todo o corpo
A vida é sempre que Deus queira
A vida não tem muros que a impeçam
E algemas que a agarrem
Ah maçãs, doces maçãs!
Que morreis para o amor da vida
Na vermelhidão das bocas
Alguém sabe alguma coisa sobre maçãs?
Quando a humidade do sumo procura a língua
E atravessamos todo o rio da eternidade
Alguém as saboreia de facto
E engole a brisa que lambe a ânsia?
Quando serpenteamos lugares com os olhos fechados
E seguimos veredas sem qualquer corpo
No êxtase sagrado dos sentidos
Há uma verdade que nos fala sem boca
E desaguamos nas coisas improváveis
Como se o amor desprenda os ferros
Como se a voz se prolongue
Ai tenho os meus olhos cheios de um grito de luz
De gente cheia de vida
Que a escuridão aborta
A atravessar o dorso da montanha como o sol
E dói
E sabe a dias incontáveis
Ai ânsia do que não morre
É urgente que mos sintas.
manuel feliciano
4.13.2011
Ausência em corpo
E quando não te tenho também te tenho
E a tua ausência escorre-me em fetos nos olhos
E não te ter é ter-te duas vezes
E quando não te tenho é amor
Porque as coisas existem dentro e fora
Porque as coisas existem mesmo sem boca
E a brisa tem a propulsão do teu corpo
E o mar o eco do teu olhar
E as minhas mãos são duas árvores cheias de ti
E as minhas lágrimas são palavras que te chamam
E o teu silêncio tem a forma dos teus lábios
Até as águas sentem
Até as aves cantam
Que quando não te tenho também te tenho
Como a chuva a rasgar as pedras
Como o rio ao encontrar o mar.
Manuel feliciano
E a tua ausência escorre-me em fetos nos olhos
E não te ter é ter-te duas vezes
E quando não te tenho é amor
Porque as coisas existem dentro e fora
Porque as coisas existem mesmo sem boca
E a brisa tem a propulsão do teu corpo
E o mar o eco do teu olhar
E as minhas mãos são duas árvores cheias de ti
E as minhas lágrimas são palavras que te chamam
E o teu silêncio tem a forma dos teus lábios
Até as águas sentem
Até as aves cantam
Que quando não te tenho também te tenho
Como a chuva a rasgar as pedras
Como o rio ao encontrar o mar.
Manuel feliciano
Absent in body
And when you've also not got you
And your absence in fetuses runs me in the eye
And do you have is you twice
And when you do not have is love
Because there are things inside and outside
Because things exist even without a mouth
And the breeze is propelling your body
And the sea echo of your eyes
And my hands are full of thee two trees
And my tears are words that call you
And your silence is the shape of your lips
Until the waters feel
Even the birds sing
When you have also not got you
As the rain to rip the stones
As the river to find the sea.
Manuel Feliciano
And your absence in fetuses runs me in the eye
And do you have is you twice
And when you do not have is love
Because there are things inside and outside
Because things exist even without a mouth
And the breeze is propelling your body
And the sea echo of your eyes
And my hands are full of thee two trees
And my tears are words that call you
And your silence is the shape of your lips
Until the waters feel
Even the birds sing
When you have also not got you
As the rain to rip the stones
As the river to find the sea.
Manuel Feliciano
4.12.2011
A sombra do sol
Trago na minha alma
Uma mulher tão magra e húmida
Que me crava enlouquecida os dentes de desejo.
E o meu gemido incendeia o escuro
É a minha dor é um cacho de uvas
E o meu silêncio é carnal e táctil
E eu beijo como quem desenha sem tinta
A estrada que só conhece a pele
Não nos nega nada e a terra é fértil.
Porque os lugares sou eu só que os faço
Porque a ausência é um corpo de astros
E um cheiro que sobeja estrelas.
E como nós dançamos em forma de barcos
E peixes zonzos vagueiam pelo sangue
E os meus olhos doem-me como úlceras
Eu trago-te toda em mim despida
E não ter nada é um orgasmo nas tuas coxas
E não ter nada é um sorriso de boca aberta
E não ter nada é o coração no mundo
E a pobreza em nós é toda chama
E o nosso estômago é um luar cheio de céu.
manuel feliciano
Uma mulher tão magra e húmida
Que me crava enlouquecida os dentes de desejo.
E o meu gemido incendeia o escuro
É a minha dor é um cacho de uvas
E o meu silêncio é carnal e táctil
E eu beijo como quem desenha sem tinta
A estrada que só conhece a pele
Não nos nega nada e a terra é fértil.
Porque os lugares sou eu só que os faço
Porque a ausência é um corpo de astros
E um cheiro que sobeja estrelas.
E como nós dançamos em forma de barcos
E peixes zonzos vagueiam pelo sangue
E os meus olhos doem-me como úlceras
Eu trago-te toda em mim despida
E não ter nada é um orgasmo nas tuas coxas
E não ter nada é um sorriso de boca aberta
E não ter nada é o coração no mundo
E a pobreza em nós é toda chama
E o nosso estômago é um luar cheio de céu.
manuel feliciano
4.11.2011
Mundo
Hoje tu e eu vamos mesmo se há uma chuva de balas
Eu acredito que a canção está mais à frente….
E não é meu amor
Que a minha consciência não me doa
Não é que no meu coração não haja cadeiras de rodas
Camas de hospitais com crianças a chorar
Mas porque há tudo isto
É que eu quero ir contigo mesmo se há uma chuva de balas
A terra tem que me ouvir sem mais espera
O vento tem que deixar escorrer todo o meu pranto
O tempo tem que me abrir toda a luz
Porque eu não tenho mais tempo para escutar as mãos frias
Porque eu não tenho mais tempo para nenhum Deus
Porque eu não tenho mais lugar onde ficar
E eu quero seguir em frente mesmo com os músculos rasgados
Eu quero ir contigo mesmo que me doa
Com a minha consciência em carne lamber o escuro
E plantar o AMOR nas trevas
Eu não quero que sintas que estás só
E para que não sofras eu vou contigo
Como um pássaro bêbado pelo primeiro voo
E alguém ao fundo terá que cantar para nós
E alguém ao fundo terá que nos abraçar
E nos dizer porque diabo é este o mundo
Porque ninguém pode perder o azul que jorra
Porque a vida tão pouco o deixaria.
manuel feliciano
manuel feliciano
Eu acredito que a canção está mais à frente….
E não é meu amor
Que a minha consciência não me doa
Não é que no meu coração não haja cadeiras de rodas
Camas de hospitais com crianças a chorar
Mas porque há tudo isto
É que eu quero ir contigo mesmo se há uma chuva de balas
A terra tem que me ouvir sem mais espera
O vento tem que deixar escorrer todo o meu pranto
O tempo tem que me abrir toda a luz
Porque eu não tenho mais tempo para escutar as mãos frias
Porque eu não tenho mais tempo para nenhum Deus
Porque eu não tenho mais lugar onde ficar
E eu quero seguir em frente mesmo com os músculos rasgados
Eu quero ir contigo mesmo que me doa
Com a minha consciência em carne lamber o escuro
E plantar o AMOR nas trevas
Eu não quero que sintas que estás só
E para que não sofras eu vou contigo
Como um pássaro bêbado pelo primeiro voo
E alguém ao fundo terá que cantar para nós
E alguém ao fundo terá que nos abraçar
E nos dizer porque diabo é este o mundo
Porque ninguém pode perder o azul que jorra
Porque a vida tão pouco o deixaria.
manuel feliciano
manuel feliciano
Imensidão
É de uma luxúria imensa este medo que não assombra
E a vida há-de ser sempre um lugar muito mais além
Não houve mar porque toquei os teus cabelos no fundo
E quando devia ter tocado o sal só vi o sol
As casas vazias
As casas vazias e magras
Cheias de perfume intenso
Do cheiro contínuo da púbis
Do parto prolongado
Da floresta densa cheia de sons
Do ombigo florescendo nos ouvidos
Da flauta ecoando nos punhos secos
A morte é tão verdadeira como eu estar vivo.
Eu sei que estas latas velhas não são tudo.
Nem o mal nem o bem em que giramos
E a vida é um corpo irrespirável
A luz tem uma voz doce e pulmonar
A vida é tão somente quando acordamos
E temos a ideia de que alguém nos abre os braços
Da cor da primavera e da eternidade
E a primavera é o dia em que nascemos de um sono profundo
E a primavera há ser sempre o dia em que vergamos
Outro tempo em que nos imaginamos perfeitos
Em lugares que dispesam a esperança
Para além de pontes falsas e cheias de abismo
Em que eu e tu não acreditamos.
Da mesma forma que não acreditamos ter nascido.
Não vale a pena nenhum choro. Porque até o choro é de uma diemensão divina
De um poesia perfeita, que nos escuta.
E quantas vezes eu choro, porque o meu coração
Me escuta, e eu penso que estou só, mas no limite da curva, prolongo-me
eu tenho a consciência, que os meus fios de cabelos, desmentem todas as descrenças, e agradeço a Deus por ter nascido.
manuel feliciano
E a vida há-de ser sempre um lugar muito mais além
Não houve mar porque toquei os teus cabelos no fundo
E quando devia ter tocado o sal só vi o sol
As casas vazias
As casas vazias e magras
Cheias de perfume intenso
Do cheiro contínuo da púbis
Do parto prolongado
Da floresta densa cheia de sons
Do ombigo florescendo nos ouvidos
Da flauta ecoando nos punhos secos
A morte é tão verdadeira como eu estar vivo.
Eu sei que estas latas velhas não são tudo.
Nem o mal nem o bem em que giramos
E a vida é um corpo irrespirável
A luz tem uma voz doce e pulmonar
A vida é tão somente quando acordamos
E temos a ideia de que alguém nos abre os braços
Da cor da primavera e da eternidade
E a primavera é o dia em que nascemos de um sono profundo
E a primavera há ser sempre o dia em que vergamos
Outro tempo em que nos imaginamos perfeitos
Em lugares que dispesam a esperança
Para além de pontes falsas e cheias de abismo
Em que eu e tu não acreditamos.
Da mesma forma que não acreditamos ter nascido.
Não vale a pena nenhum choro. Porque até o choro é de uma diemensão divina
De um poesia perfeita, que nos escuta.
E quantas vezes eu choro, porque o meu coração
Me escuta, e eu penso que estou só, mas no limite da curva, prolongo-me
eu tenho a consciência, que os meus fios de cabelos, desmentem todas as descrenças, e agradeço a Deus por ter nascido.
manuel feliciano
4.10.2011
Silêncio
O meu estômago está cheio de estrelas
É preciso que as escutes contra as tempestades
Que as engulas antes que chova
Ergue as velas dos olhos no escuro
Como quem vai descalço em espinhos
Porque os olhos são colheres vazias
Vê por dentro sem quaisquer muralhas
Os rostos que pouco ou nada dizem
Vê-las é o menos interessante
Escuta-as com o silêncio das mãos
Na força das raízes que crepitam
Com um grito enrolado no oceano
Como se a tua boca chorasse num parto
Como eu habite todo o teu silêncio.
manuel feliciano
É preciso que as escutes contra as tempestades
Que as engulas antes que chova
Ergue as velas dos olhos no escuro
Como quem vai descalço em espinhos
Porque os olhos são colheres vazias
Vê por dentro sem quaisquer muralhas
Os rostos que pouco ou nada dizem
Vê-las é o menos interessante
Escuta-as com o silêncio das mãos
Na força das raízes que crepitam
Com um grito enrolado no oceano
Como se a tua boca chorasse num parto
Como eu habite todo o teu silêncio.
manuel feliciano
Metade de mim
Não sabes o quanto me custa esta verdade
Mas metade de ti eu já tenho
Os meus olhos andam loucos
Como duas fontes cheias de sede
Se a tua face não vêem
Com a mesma verdade que o trigo
Incendeia a terra
Assim a minha boca to quer escrever
Sem ti tenho o desprazer de ver nas árvores
Uma mera chuva destrutiva
E nos jardins sombras de sonhos
E eu sei que os meus cabelos estão vergados de amor
E como tu aqueces a paisagem
E estrangulas o tempo
E desenhas andorinhas na minha boca
Guarda o meu olhar puro e pobre
E as noites serão perfeitas
Mesmo com a morte
Mas não me dês nada
Diz-me só com os olhos cegos que me amas
E deixa que as minhas pálpebras
Desinchem no teu umbigo
A tumefação das caravelas no mar
Sem gestos que quebrem a tua aura
Também não te canses com as palvras
Deixa só o teu perfume cantar canções
Porque eu tenho medo se não me olhares
De provavelmente nunca ter nascido.
manuel feliciano
Mas metade de ti eu já tenho
Os meus olhos andam loucos
Como duas fontes cheias de sede
Se a tua face não vêem
Com a mesma verdade que o trigo
Incendeia a terra
Assim a minha boca to quer escrever
Sem ti tenho o desprazer de ver nas árvores
Uma mera chuva destrutiva
E nos jardins sombras de sonhos
E eu sei que os meus cabelos estão vergados de amor
E como tu aqueces a paisagem
E estrangulas o tempo
E desenhas andorinhas na minha boca
Guarda o meu olhar puro e pobre
E as noites serão perfeitas
Mesmo com a morte
Mas não me dês nada
Diz-me só com os olhos cegos que me amas
E deixa que as minhas pálpebras
Desinchem no teu umbigo
A tumefação das caravelas no mar
Sem gestos que quebrem a tua aura
Também não te canses com as palvras
Deixa só o teu perfume cantar canções
Porque eu tenho medo se não me olhares
De provavelmente nunca ter nascido.
manuel feliciano
O amor
Meu amor sente de longe o amor comigo
Mas não me queiras dar os teus cabelos
Deixa que eu conte os séculos nos fios
O tempo em que andavamos desnudados
Em que tinhamos fome mas eramos felizes
E nos alimentavamos do cantar das aves
Também por ventura não me dês as mãos
Porque importa-me que elas sejam pássaros
E que levantem sempre quando as toque
Comer-lhe uvas em dias quentes de Verão
E quando o Inverno se apoderar da pele
Deixa que elas sejam o meu próprio fogo
E se o teu sorriso me quiser assaltar a boca
Deixa uma nesga de fora para tomar mais tarde
Senão eu saberei já tanto do campo e das flores
E eu quero-te degustar como pela primeira vez
Em que latejavamos para saber o que era um beijo
E o amor era o desejo de mãos dadas em gestação.
manuel feliciano
Mas não me queiras dar os teus cabelos
Deixa que eu conte os séculos nos fios
O tempo em que andavamos desnudados
Em que tinhamos fome mas eramos felizes
E nos alimentavamos do cantar das aves
Também por ventura não me dês as mãos
Porque importa-me que elas sejam pássaros
E que levantem sempre quando as toque
Comer-lhe uvas em dias quentes de Verão
E quando o Inverno se apoderar da pele
Deixa que elas sejam o meu próprio fogo
E se o teu sorriso me quiser assaltar a boca
Deixa uma nesga de fora para tomar mais tarde
Senão eu saberei já tanto do campo e das flores
E eu quero-te degustar como pela primeira vez
Em que latejavamos para saber o que era um beijo
E o amor era o desejo de mãos dadas em gestação.
manuel feliciano
4.09.2011
Animalidade
Hoje eu quero ser cão e não mais que cão
Se me prometeres que me dás migalhas
Da tua bela boca com as quais te dispo
Nesse teu sorriso de pérolas
Com o conforto de que há tudo
Nas sílabas virgens da pele
Que o estômago vazio sonha
Eu juro que isto é muito mais que o céu
Que o aveludado da comida
E se por ventura
Me quiseres dar as mãos
Eu preferia que mas desses frias
Porque são as frias que têm os barcos
E que esperam comigo lapidar caminhos
Evolar-me numa nuvem cor de rosa
Ver-te dançar alegre nos meus ombros
Corrermos por entre campos tão líquidos
Sentir o orgasmo na flor que não seca
E se por ventura mas quiseres dar quentes
É provável que o teu peito seja um texto cheio
Que não permite os mistérios da minha língua.
manuel feliciano
Se me prometeres que me dás migalhas
Da tua bela boca com as quais te dispo
Nesse teu sorriso de pérolas
Com o conforto de que há tudo
Nas sílabas virgens da pele
Que o estômago vazio sonha
Eu juro que isto é muito mais que o céu
Que o aveludado da comida
E se por ventura
Me quiseres dar as mãos
Eu preferia que mas desses frias
Porque são as frias que têm os barcos
E que esperam comigo lapidar caminhos
Evolar-me numa nuvem cor de rosa
Ver-te dançar alegre nos meus ombros
Corrermos por entre campos tão líquidos
Sentir o orgasmo na flor que não seca
E se por ventura mas quiseres dar quentes
É provável que o teu peito seja um texto cheio
Que não permite os mistérios da minha língua.
manuel feliciano
4.08.2011
A menina da pastelaria
A menina da pastelaria
Que me vendia pasteis
Na seda fresca das manhãs
Perguntava-me a sorrir
Se eu queria o pastel de sempre
E as suas mãos
Eram uma prisão
E os seus olhos
Candelabros por acender
E o seu corpo
A raíz quadrada da flor
Mas no mar
Que lhe trasbordava da boca
Eu e ela
Molhamos as mãos e os pés
Saltamos as pedras
E desatamos lágrimas
Dissemos não
Às árvores de aço
E choramos mel
Nos olhos sôfregos de amor
E eu nunca soube
Quem era a menina
Da pastelaria
Nem tão pouco a vi
No jardim da vida
Senão na farinha
Húmida do meu ser.
manuel feliciano
Que me vendia pasteis
Na seda fresca das manhãs
Perguntava-me a sorrir
Se eu queria o pastel de sempre
E as suas mãos
Eram uma prisão
E os seus olhos
Candelabros por acender
E o seu corpo
A raíz quadrada da flor
Mas no mar
Que lhe trasbordava da boca
Eu e ela
Molhamos as mãos e os pés
Saltamos as pedras
E desatamos lágrimas
Dissemos não
Às árvores de aço
E choramos mel
Nos olhos sôfregos de amor
E eu nunca soube
Quem era a menina
Da pastelaria
Nem tão pouco a vi
No jardim da vida
Senão na farinha
Húmida do meu ser.
manuel feliciano
4.07.2011
Almas gémeas
Eu e o meu pensamento
Somos duas pessoas
Embrionárias de sol
De mãos dadas rua abaixo
E o acto de pensar
É uma faina de gente
E o meu coração
É uma mulher donzela
Lançando-me olhares
Em cada esquina da vida
Na promessa de peixes
Aturdidos num beijo
Perdoem-me todos aqueles
Que são escravos da carne
Os que não se encontram
Na cápsula de si mesmos
Como as coisas ganham
Um trago amargo se as toco
Só os braços ao longe me consolam
Eu que não sei nada da chuva
Depois que a terra com amor a sulca
Quanto menos tenho mais sinto as coisas
Como me assassinas com a saliva nos lábios
Para mim basta-me a ideia de um beijo
Porque a ideia de um beijo é um rio de coisas
E um beijo quando dado é a morte de tudo
Só o impossível me arde e me afaga
E é o único Deus que me transforma o mundo.
Manuel Feliciano
Somos duas pessoas
Embrionárias de sol
De mãos dadas rua abaixo
E o acto de pensar
É uma faina de gente
E o meu coração
É uma mulher donzela
Lançando-me olhares
Em cada esquina da vida
Na promessa de peixes
Aturdidos num beijo
Perdoem-me todos aqueles
Que são escravos da carne
Os que não se encontram
Na cápsula de si mesmos
Como as coisas ganham
Um trago amargo se as toco
Só os braços ao longe me consolam
Eu que não sei nada da chuva
Depois que a terra com amor a sulca
Quanto menos tenho mais sinto as coisas
Como me assassinas com a saliva nos lábios
Para mim basta-me a ideia de um beijo
Porque a ideia de um beijo é um rio de coisas
E um beijo quando dado é a morte de tudo
Só o impossível me arde e me afaga
E é o único Deus que me transforma o mundo.
Manuel Feliciano
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