Há um medo ao longe dentro de mim
Que nasce fora de tudo
Como eu seja o longe e todas a coisas me gritem
Digam-me quem eu sou
Que eu estou cego de tudo
Num clarão das madrugadas
Quebrem todo o meu medo
Numa boca quente
Terna de misericordia
Como se uma sílaba me falte nos cabelos
E as reticências não cessem as fontes
Onde eu danço despido
Tão despido que só posso ser
Eu
Tu
Nós
Flor e sombra
Floresta e sol no moínho das tábuas
E o silêncio da eternidade
A refazer outra voz
Porque eu não sei de mim nem da coisas
Como as conheça
Como as sinta a palpitar
Numa voz que me arde no peito
Que eu sinto no crepúsculo da língua
E me esconde de um qualquer lugar
Que me abraça e descontroi
Tenho medo
Como a minha mãe comigo ao colo
Não seja mar
Lágrimas e sorrisos embrulhados nos dedos
Mel nas flores e nas abelhas
E o coração Estrelas com gotas de amor
Como se tudo isto não baste
E a maravilha não me arda na garganta
Como eu esteja em tudo e pense que é só deserto
Este braços grandes da matéria dos lagos
Tenho medo
Como se o cheiro te esconda por detrás
E te diga não com a boca enrolada em névoas
E um corpo nasça do nada
com o sol a querer espreitar.
manuel feliciano
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