4.30.2011

A espera

O sol arrastado à cabeça de uma junta de bois

E tantos de nós com as pernas

Lavradas nas entranhas da terra…

Na aliança de dedos sem aneis

Disseram-me para esperar foda-se

Coisa estranha a puta da espera

Os braços sem braços

As pernas sem pernas

Até para nascer eu tive que esperar

Mas se ao menos esperar valesse a pena

Para a puta da vida me abrir as pernas



Estes dias de Ulisses na ilha de Calipso

E a Penépole a tricotar na minha garganta

Seriam ainda alguma coisa

Senão hoje vai ter mesmo que ser

Comer um desejo embalsamado

Esperar por uma noiva que tarda em chegar ao altar

E pensar o céu num canteiro

E ter que fazer disto um navio

E ter que fazer disto um Deus amável

E ter que fazer disto uma vida de santo

E ter que fazer disto um doce veneno

Depois que os bois lavraram estas entranhas

Há ratos à superficie

E as cobras atentam contra os ratos

E os ratos fogem da cobras

E eu fujo de tudo isto

Será que eu sou daqui caralho?

Deste jogo de cabra cega

Batendo com os cornos no muro

Como se não haja muros e cornos

E se ao menos o que eu digo fosse uma curta metragem

Mas não…esta merda é crometrada em câmera lenta

Para ser chupada

Lambida

Expurgada

Para entrar no céu completamento limpinho

Sem a toxiciade da nicotina

Não fossem os meus sonhos

A medula de uma pedra

Onde é que estavam todos os meus Deuses?

Onde é que eu poderia tomar um duche

Na maçaneta de uma porta

Onde é que eu poderia estar contigo definitivamente?

Com ternura

As mãos frescas e prontas

Com inocência e vulva

Na boca fresca da brisa

Com os joelhos em sangue nos meus olhos

A lembrarem duas flores vermelhas

Ah não vou gritar porque nenhum Deus vem salvar o mundo

Porque os Deuses também são escravos

Porque os Deuses esperam por tudo

Porque os Deus também são vítimas

Porque os Deuses também estão fartos

Desta máquina enferrujada que tinha que ser podre para ser vida!



manuel feliciano

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